Astério, o filho da
floresta
Nhanderuvuçu
criou Tupã, que criou Rupave e Sypave, o “pai dos povos” e a “mãe dos povos”,
que geraram Marangatu, pai de Kerena que foi raptada pelo demônio Tau e tida
como a mãe dos sete monstros lendários da mitologia Tupi-guarani, sendo que seu
filho Yacy Yaterê dentre todos eles foi o único a possuir forma humana.
Tupã
foi criado nas montanhas da região de Areguá, no Paraguai, único filho de Deus,
é o pai dos deuses e dos homens, contam as lendas urbanas que bem antes do
homem branco invadir Pindorama, aconteceu uma luta entre Tupã e Anhangá, e Tupã
passou um tempo nas montanhas dos Itatins, na Juréia.
Depois
da breve passagem de Tupã pelos Itatins, muitas tribos passaram a ver a Juréia
como a terra sagrada dos tupis-guaranis, e é neste período que um antepassado
de Astério Rodrigues surgiu para a história; na verdade foi uma cunhatai, uma
jovem índia que marcou presença na lenda urbana; ela teve um breve enrosco com
Yacy Yaterê, o deus protetor dos tesouros escondidos.
Paixão
de deuses por mortais nunca deu certo, todos os deuses são volúveis e trocam de
amores constantemente, mas a jovem Anacy se deu bem, não entregou a rapadura
antes do deus protetor dos tesouros ter lhe mostrado onde o famoso pirata e
flibusteiro Barba Dourada enterrara o seu maior butim.
Yacy
Yaterê abandonou Anacy grávida; gestante, mas riquíssima, com o tesouro do
pirata Barba Dourada a moça comprou o mais belo e viril mancebo português que
caçava dotes numa freguesia próxima para ser o pai de seu filho bastardo; o
casal foi muito feliz, e tiveram outros filhos.
Trezentos
anos depois Astério veio ao mundo, em suas veias corria o sangue de um deus e
de uma formosa ex-donzela indígena… Seus antepassados possuíam muitas
herdades, o menino foi criado livre, aprendeu a cantar com os pássaros, o
manejo da viola caiçara aprendeu com os caboclos da região, ele possuía um
dom… Ele enxergava além do comum dos homens.
Quando
mocinho costumava perambular sozinho na floresta, foi assim que se enturmou com
o Curupira, com o Saci, com a formosa Iara, a senhora das águas doces…
Conheceu seu famoso ancestral, o divino Yacy Yaterê de quem ganhou o mapa de um
tesouro escondido pelos Incas junto ao Caminho do Peabiru.
Astério
Rodrigues se apaixonou ao primeiro olhar pela jovem, bela e rica Andressa
Amorim Fernandes; sem problema! Ele era no mínimo umas vinte vezes mais rico do
que a donzela, o único senão era que havia algo de muito estranho na família
Amorim Fernandes, algo que estava além da sua compreensão.
Ah,
o amor! Esse filho sapeca de Afrodite… A festa de noivado de Andressa e
Astério causou na cidade, uma senhora festança, teve até foguetes, rojões
importados da Europa… A moça foi passar alguns dias nas terras da Juréia, ela
se encantou pela beleza da região.
Ao
cair da noite sentou-se a margem da lagoa, o lago era formado pelas águas da
montanha e ficava entre um circulo de pedras… Uma música vinda do nada, uma
voz de ternura sem fim enfeitiçava o ambiente; Andressa notou a bela jovem de
longos e pretos cabelos sentada na grande pedra próxima à margem; era uma
Iara…
A
deusa sussurrou com sua voz de vento; – “Eu sei o teu segredo, Andressa!
Conheço Fabiano, o teu irmão, e também conheci Desidério, Damiana, Antero e
Gregório… Sei do teu passado e do teu futuro, casarás com Astério e serás
feliz, mas isso terá um preço! Estás disposta a pagar?”
Andressa
se quedou estática, que mania tinha os deuses de brincar com os sentimentos
humanos; ela olhou dentro dos olhos da Iara, eles eram azuis e lembravam as
águas puras, os mundos esquecidos, os arcamos mais profundos, consultou o seu
coração e perguntou à Senhora das Águas qual o preço da felicidade…, mas isso
é outra história.
Gastão Ferreira/2020
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.