Na outra margem do rio
Todos
aqueles que acreditam em reencarnação, aqueles que crêem em vidas sucessivas,
aqueles que através das muitas vindas ao plano físico, e que passaram diversas
vezes pelo Mundo Sombrio, e não recordam dessas viagens é porque beberam das
águas do Rio do Esquecimento.
Assim que
morríamos Tanatos reivindicava a nossa alma, e Hermes nos conduzia ao reino de
Hades, o senhor do mundo sombrio; na mitologia grega, os Infernos eram locais
para onde desciam as almas após a morte para serem julgadas; todos os caminhos
levavam aos Infernos.
Os
Infernos estavam situados no interior da terra, e suas
entradas se situavam em diversas
cavernas, ele era limitado e circunscrito pelo Reino da Noite, eram divididos
em quatro regiões principais.
O
ÉREBO – Era no Érebo que estavam os palácios da Noite, do Sono, e dos Sonhos;
ali era a morada de Cérbero, o cão de três cabeças, das Fúrias, e da Morte.
Essa região infernal era banhada pelo rio Cócito.
O
Cócito é um pequeno rio que nasce no grande rio Estige, e que no seu final se
une ao rio Flegetonte; Cócito é conhecido como O Rio das Lamentações, eram em
suas margens que vagavam por cem anos as almas dos mortos que não eram
sepultados.
Na
sua origem, Cócito era uma ninfa com quem Hades se relacionou até conhecer e se
apaixonar por Perséfone; a ninfa desesperada pôz-se a chorar desconsoladamente,
e de suas abundantes lágrimas se originou o rio das lamentações.
A
segunda região em que se dividia o Reino da Morte era o INFERNO; o inferno dos
maus era um lugar temível, um local de sofrimento e castigo de todas as
maldades, esse inferno foi copiado pelos cristãos, e sobrevive até a
atualidade.
A
terceira região infernal era o TÁRTARO, ele vinha logos após o Inferno, e era a
prisão dos deuses, onde ficavam os Titãs, os Gigantes encarcerados, e os deuses
antigos expulsos do Olimpo. No Tártaro estava o palácio do Rei dos Mundos
Subterrâneos.
A
quarta região era os CAMPOS ELÍSIOS; morada feliz das almas virtuosas, onde
elas gozavam o mais delicioso repouso, numa perpétua mocidade, sem sobressaltos
e sem dor.
O
Mundo Sombrio, também chamado o Reino de Hades, era banhado por cinco rios,
sendo o mais importante o RIO ESTIGE; Estige era uma ninfa das águas, filha da
deusa Tétis e do Grande Oceano. Estige foi a mãe de Nike (a Vitória), Bia (a
Força), Crotos (o Poder) e Zelo (a Rivalidade). Estige foi convertida em um rio
sagrado em recompensa por ter sido a primeira divindade a jurar lealdade a
Zeus, na primeira grande guerra entre os antigos e novos deuses.
O
rio Estige nascia em uma caverna nas proximidades da entrada principal do
Hades, e desaguava no Tártaro; possuía dois afluentes Cócito, e Flegetonte, o
Estige era conhecido como o Rio da Invulnerabilidade, foi nele que Tétis
mergulhou seu filho Aquiles, o maior de todos os guerreiros que o mundo antigo
conheceu, para que nenhuma arma mortal jamais o ferisse.
O segundo
rio em importância era o rio Aqueronte; na origem foi um Titã filho de Hélio (o
Sol) e Gaia (a Terra), era ele quem fornecia água à seus irmão Titãs na guerra
contra os deuses, e por isso, com a vitória de Zeus, ele foi transformado em um
rio no Mundo Inferior.
Em
seu leito navega Caronte, o barqueiro encarregado de transportar as almas até o
Tribunal dos Juízes (Éaco, Minos, e Rodamante) que definiam o destino das almas
no mundo das sombras. Aqueronte era conhecido como o Rio das Tristezas, pois se
sabe que quem o atravessava não voltava mais.
O
terceiro rio era o Cócito, já mencionado, e o quaro era o rio Lete; Lete era o
rio do esquecimento, ele nascia na caverna de Hipnos, o Sono, e seguia rumo ao
submundo. Quem bebia de sua água tinha a memória apagada, o rio Lete fazia
fronteira com os Campos Elísios, e assim, toda a alma deveria se banhar nas
Águas do Esquecimento para entrar nas Terras Abençoadas.
A
alma humana só podia reencarnar depois que tivesse suas lembranças de vidas
passadas apagadas pelo Lete, ele também era conhecido como Daemon,
personificação do Esquecimento, filha de Eris, a deusa da Discórdia.
O
quinto rio era o rio Flegetonte; era um pequeno rio que levava diretamente para
o Ínferno, sua função era purificar as almas dos pecadores, era conhecido como
o Rio da Cura.
Esse
relato é um pequeno passeio por nosso passado milenar; adoramos muitos deuses
em nossa caminhada das trevas para a luz. Já cultuamos Zeus, já navegamos na
barca de Caronte, já bebemos das águas do Lete, o Rio do Esquecimento… Nosso
corpo é feito de pó das estrelas, e nossa alma imortal é filha do sopro divino,
e todos nós estamos nessa viagem fantástica em busca da perfeição; somos pó,
mas também somos luz… Nosso passeio pela eternidade está apenas começando,
pois nosso Pai tem infinitas moradas.
Gastão Ferreira/2020
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.