Dudu 51

 

         Conversando
com nhá Pedrita, quase um século de vida, nascida e criada nas proximidades do
Morro do Pinheiro, num sitio conhecido como Itapema, ela lembrou de um fato
muito estranho e inusitado que aconteceu, há muitos e muitos anos com seu
esposo, Antônio Eduardo Costa, que Deus o tenha!

        

Seu Antônio
Eduardo, mais conhecido como Dudu 51, apelido devido a sua preferência pela
famosa e afamada pinga, gostava de tomar seus pileques para os lados do bairro
rural de Icapara; a distância de Icapara até Itapema era de uns cinco
quilômetros. Estrada de arreião, quando chovia a água empoçava e formava
pequenos lagos, uma maravilha para atolar carros e motos.

 

Seu Dudu era
um caiçara valente, muitas vezes enfrentou onças nas vizinhanças de seu rancho.
Não era uma má pessoa, pois até mesmo os bandos de guaribas que habitam o Morro
do Pinheiro não mexiam com ele, e ele tinha passagem livre e segura pela mata.

 

Nhá Pedrita,
até hoje não sabe o que aconteceu; casou mocinha, vieram dois filhos, Anita e
Marcos Paulo. As crianças cresceram felizes e saudáveis. Bons tempos; nada de
celular, nem televisão, muito menos internet. Fogão a lenha, nada de geladeira,
micro-ondas, liquidificador.

 

Muita caça,
jamais faltou um peixe defumado, o aipim arrancado do roçado, as verduras
fresquinhas, feijão de corda, carne de porco, frangos e frutas, mas alguma
coisa aconteceu ao Seu Antônio! O homem deu para beber.

 

É verdade
que ele sempre bebeu desde novinho, mas era como dizem, socialmente. Depois,
passou a bebeu todas, tanto bebeu que recebeu o apelido de Dudu 51. Nhá Pedrita
fez muitas promessas, pediu para Mãe Catherine benzer uma roupa do cristão; que
nada! O bebum continuava se chapando.

 

No
desespero, nhá Pedrita apelou para Exu, Cosme & Damião, São Benedito, Santa
Liduína, e até mesmo para Anhangá e todos os filhos de Tupã, pois a coisa
estava ficando a cada dia mais feia…. Quem atendeu às súplicas foi um
Curupira.

 

Dudu 51
voltava do boteco, era aproximadamente quinze para a meia-noite; bêbado feito
um gambá, havia chovido e já caíra alguns tombos na estrada de areia. Naquela
parte do caminho existia um barranco, e assim, sem mais nem menos, Dudu foi
levantado do chão e jogado de cara contra o barranco.

 

Uma das
poucas coisas que ele lembra eram as imensas e cabeludas pernas do ser que saiu
da mata e lhe deu uma grande coça, ficou todo lanhado, arranhado, cheio de
dores por todo o corpo, e jamais esqueceu a voz cavernosa que lhe soprou no
ouvido; -“Bebe, desgraçado! Bebe. ”

 

Dudu
conseguiu entrar em casa, chegou meio que se arrastando, contou da visagem para
nhá Pedrita; pegou pavor de sair depois do anoitecer, e um milagre aconteceu;
nunca mais colocou um pingo de bebida alcoólica na boca.

 

 

Gastão
Ferreira/2020

 

 

Observação;
História real ocorrida nas proximidades do Morro do Pinheiro no final dos anos
70. Quem me contou foi a própria nhá Pedrita.

  

 

 

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