A CRUZ DE PEDRA…

Até o ano de 2009 era assim

Eis a origem da Cruz de pedra

Local onde estava abandonada a famosa Cruz de pedra

Local onde está atualmente a esplêndida Cruz de pedra…

CONFISSÕES DA VELHA PRINCESA – A CRUZ DE PEDRA

Desfrutando de sua melhor idade, a Princesa do Litoral palestrava com sua irmã mais velha, Cananéia a plebéia, quando surgiu um assunto que era quase um segredo de família, o porquê da decadência do reino.

– Sabe Myriam Eleonora, nunca entendi esse fado cruel que a persegue! Falou Cananéia.

– Querida irmã mais velha, gosto que ao se referir a minha real pessoa, me tratem por Princesa, pois fora do ninho familiar, ninguém imagina que meu nome é Leonora…

– Maninha mais nova! Seu nome não é Leonora, seu nome é Eleonora…

– Quem melhor do que eu para saber do meu nome! Meu nome é Leonora…

– Tudo bem Eleonora! Somos garotas da terceira idade, não vamos brigar por insignificâncias. Você reparou como minha cidade está progredindo? Ruas limpas… Sem Dengue… Temos uma maternidade para acolher os novos cananeanos e um velório para um último e digno adeus aos que aqui viveram.

– Néia querida! Estou notando que você nunca superou o ciúme doentio em relação ao testamento de papai Portugal.

– Oh… Oh… Oh… Mais de quinhentos anos se passaram e você acha que devo esquecer-me da pilantragem? Da armação?

– Irmãzinha! Não existiu armação. Eu era a bela, a inteligente da família, por isso herdei tantas terras…

– Que foi perdendo… Perdendo… Perdendo.

– Mas ainda tenho muito… Tenho a fabulosa Juréia…

– Sim! Mas nosso irmão Peruíbe já está de olho nela…

– Estou pouco me lixando! Meu passado fala mais alto…

– Acorda Eleonora! Sacode a poeira… Dá a volta por cima…

– Não posso maninha! Simplesmente não posso…

– Irmã Princesa! Não consigo entender… Você sempre teve e tem tudo para vencer. Sei que você é inteligente, mãos limpas, boa administradora… Lembro de você jovem e feliz… Com um futuro esplêndido, mas depois do aparecimento da Cruz de pedra, tudo mudou… Livre-se da Cruz e quem sabe os bons tempos voltarão!

– Se tem uma coisa da qual nunca consegui me livrar foi da fatídica Cruz de pedra…

– Parece que foi ontem! Aquele português mau caráter a trouxe de navio e construiu uma pequena capela no Icapára… Chegaram os piratas, você mudou para o sitio atual e levou a Cruz de pedra para a nova igreja… Quando a riqueza surgiu e um imponente santuário foi erigido, a Cruz foi jogada nos subterrâneos do novo templo… Veio o progresso, o ouro, os engenhos, os navios e o reconhecimento do mundo através de diplomas e honrarias…

– É verdade! De repente, não mais que de repente, retiraram a Cruz de pedra dos subterrâneos e a colocaram numa capela na beira do Valo… O Valo Grande começou a desmoronar e a Cruz de pedra foi salva e escondida… Mas, o estrago estava feito e começou a decadência…

– Tem lógica! Houve uma pequena melhora depois disso… A família estava certa de que você voltaria a brilhar, mas a Cruz de pedra reapareceu encimando um pedestal na orla do mangue e foi aí que o apelido de “Cidade lá tinha” pegou de vez…

– Nem me lembre! Perdi o Posto da Marinha, a Santa Casa, a Maternidade, o Banco do Brasil e começou a derrocada fatal…

– Princesa! Tudo vai melhorar… Fui informada de que a Cruz de pedra desapareceu do pedestal. Quem sabe a levaram para longe! Agora é um tempo de recomeçar… Um tempo de Pré-sal… Um tempo de realizações.

– Ah! Cananéia, minha doce irmã mais velha. Você não sabe? Eu fui tombada! Sou um asilo e vou viver das glórias do passado… Agora não tem mais como evitar meu fim… A Cruz de pedra está na Praça central!

– Oh! Eleonora… Oh! Pobre Princesa do Litoral… Oh! Maninha.

Gastão Ferreira/2011

Deixe um comentario

Livro em Destaque

Categorias de Livros

Newsletter

Certifique-se de não perder nada!