A foto

A juventude de Iguape não tem idéia de como era a nossa cidade há quarenta anos; ruas de terra, cinco motos, uns cem carros, milhares de bicicletas…

É verdade que tínhamos algumas fábricas; fábrica de violão, de lápis, salga de manjuba, fabricação de esteiras de pirí, um posto da Marinha do Brasil comandado por um tenente, seis salão de baile na cidade, e três no bairro do Rocio…

Cidade festeira, toda a semana tinha um folguedo, uma quermesse, uma procissão, um casamento; Ano Novo, carnaval, páscoa, paixão de Cristo ao vivo, festa da manjuba, da tainha, do robalo, do mandi, a festa de agosto, o grande desfile de 7 de setembro, 15 de novembro marcando o início da temporada, o o natal e muitos eventos alegrando os sítios e a zona rural…

Quem tinha uma linha telefônica era elite, nem tanto! Um grupo informava ao povo tudo o que acontecia na cidade; dois minutos após começar uma briga no Porto do Ribeira e já se sabia no restante da cidade… A fofoca imperava, e aí de quem apontasse quem eram os fofoqueiros.

Havia gente dia e noite nas janelas cuidando de quem passava na rua, algumas esquinas tinham um dono de plantão, à noite todos os gatos eram pardos e de dia todos eram cidadãos exemplares…

Quando Ditinha Serelepe foi fotografada pelada na Praça da Matriz todos afirmaram que era invenção do populacho; a moça era de boa família, participava da Paixão de Cristo ao vivo, nem saia atrás do boi…

No início dos anos 80 do século passado, todas as fotos eram reveladas em São Paulo capital; entre idas e vindas quinze dias para receber as fotos de volta… Jaime e Alaor eram os fotógrafos oficiais, e Lithia japonesa a lambe-lambe com milhares de cliques nunca revelados.

As fotos de Ditinha Serelepe seguiram para a revelação em São Paulo, a cidade inteira aguardava ansiosa a volta dos retratos… Quando elas chegaram se formou uma fila no estúdio fotográfico, todos queriam ver a peladona em primeira mão…

O fotógrafo se negou a mostrar as fotos alegando que toda a privacidade tem que ser respeitada, um vereador num gesto desvairado arrancou o envelope das mãos do fotógrafo, e o povo gritava:- Mostra! Mostra!

Quando ele rasgou o envelope se fez silêncio, o vereador não acreditou no que viu… Todas as fotos de Ditinha Serelepe haviam queimado, e ninguém nunca conseguiu provar que a moça, torrada, havia saído nua de dentro do carro do senhor…

Opa! Acabou a história…

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