Passaram-se dois anos desde a noite em que o diabo tirou a linda donzela Martinha Serelepe para bailar, e desde então nenhum jovem, nenhum velhote assanhado, nenhum mancebo se apresentou para pedir a sua mão em namoro; Martha Eugênia de Alencar estava se aproximando perigosamente dos dezoito anos, e não queria ficar para titia…
Martha jurou que não teria a mesma triste sina de Ditinha Guaiamu; Benedicta ficou para titia após ser beijada por um pirata, como se ela tivesse culpa de ter sido a escolhida pelo
flibusteiro para o assédio em público, também ela Martha não chamou nenhum demônio para dançar, quando viu já estava rodopiando dentro da igreja abraçada com o diabo…
A família Mamangava morava um pouco distante do centro da vila de Icapara, mais para as bandas da Praia do Leste… Quando o coronel Juvenal Fontes e seu terrível filho Gerson Fontes desconfiaram que Ditinho Mamangava fosse um lobisomem, e perseguiram o rapaz com falsas insinuações, Benedito Mamangava desgostoso foi morar no meio do mato…
Fazia um bom tempo que Marthinha Serelepe arrastava uma asinha para os lados de Diogo Mamangava; – Eta guri bonito! Cara de macho, corpo de macho, jeito de macho… Pena que ele era tabu para as meninas da vila, sua fama de filho de lobisomem corria longe…
Fama por fama a de Martha Eugênia de Alencar também não era das melhores… Diogo tinha profissão? Tinha, era pescador. Era honesto? Dizem que sim. Tinha culpa de ser filho de um lobisomem? Claro que não!
Namoraram contra a vontade dos pais por dois anos, e finalmente casaram… Montaram casa no Despraiado, uma casa simples de quem viveria da pesca e da plantação de mandioca…
Na primeira noite de casados, já na nova casa, o bicho pegou… Mal chegaram e uma alcatéia de lobisomens cercou o rancho; das bandas da Juréia chegou um pé de vento dos grandes, e junto com o vendaval o som das violas caiçaras…
Martha tinha certeza que sua hora final estava próxima, o diabo era o mesmo dançarino da igreja… Ela e o marido espiavam a muvuca por entre as frestas da porta… O diabo simplesmente deu um cala a boca no bando de lobisomens e todos eles baixaram a cabeça para o capeta…
Diogo Mamangava tomou Marthinha Serelepe pela mão e a conduziu perante a alcatéia de lobisomens, e falou; – Minha esposa Martha, essa é a minha gente, seja bem vinda à sua nova família…
Cada lobo se aproximou e lambeu a mão de Martha, o diabo sorriu e disse; – Parabéns, minha filha! Chamem os convidados, os violeiros, e que o baile de casamento comece agora mesmo.
Martha Mamangava desmaiou, mas a história continua…
Gastão Ferreira
Imbé/RS – 2024
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.