AS CARVELAS VOLTARAM

AS CARAVELAS VOLTARAM

Ano de 1540. A noticia correu rápido, feito um rastilho de pólvora. Seu Benedictus, vulgo Dictinho, que passarinhava lá pros lado do Morro do Espia, avistara alguma coisa no mar. Seriam piratas?
O populacho assustou-se, os piratas eram uma praga. Chegavam de mansinho, conquistavam a plebe vil com conversinhas fiadas, e quando detinham a confiança da maioria, chamavam os companheiros e saqueavam o povoado. Ou simplesmente aportavam seus navios e roubavam o que queriam.
Os mandatários temerosos por seus tesouros armaram um pequeno grupo de brancos, negões e mestiços e, foram, o pequeno grupo é claro, não os mandatários, observar os bucaneiros.
Alguns índios remanescentes de uma antiga tribo da região conhecida como os “Joios” por vira e mexe tentarem se misturarem com os brancos e negrões, faziam sua festa anual em Maratayama, chamada Monaracy, o que significada em língua de gente, mais ou menos: – “Nem te fede nem te cheira”, tais indígenas não queriam que os brancos e seus companheiros passassem por seu território. Após um longo tiroteio e flechadas, chegaram a um acordo, cobraram um pequeno pedágio (notem como é antigo o costume), e deixaram os curiosos brancos, negrões e mestiços chegarem à beira mar.
Os lusitanos e afros descendentes observaram que realmente uma caravela estava fundeada frente à ilha, e mandaram dois mestiços espiar mais de perto e relatar o que ocorria. Eis o dialogo:
– Será pá! Que o enigmático descubridoire está a Voltaire?
– Será que o Pedro voltou pá?
– Se não for o Pedro será o Álvares?
– Ou será que é o Pedro Álvares Ca…
– Cale esta boca infeliz! Queres ir para a forca? Não sabes que o Pedro Álvares foi para o outro lado do mundo?
– Foi para a China, Pá?
– Não! Foi para o Japão!
– Para o Japão, pá?
– Sim! Foi enriquecer em terras estrangeiras e decerto está a Voltaire, deve estar milionário! Coitados dos mandatários!
– Por quê? Coitados dos mandatários?
– Claro pá! Pois sem moedas sonantes já era uma calamidade, quase venceu, imagine agora com um barco desse tamanho, cheio de oiro. Meu Deus!
– Meu Deus! Por quê? Pá!
– É claro que decidiu comprar o povinho miúdo! Está claro que o porão do barco esta carregado de dentaduras, odres de pinga e outras cositas que são o regalo da plebe vil, e pelo que posso deduzir, se baldearão em massa para seus braços.
– Meu Deus! Estamos fritos! Precisamos avisar nosso dono.
Soltaram alguns rojões (outro costume antigo) e receberam a resposta adequada, mais rojões (eram os telefonemas da época).
– O que foi comunicado, pá?
– Temos que descobrir se é mesmo o descobridoire, pá!
– Quem? Pedro Álvares Ca…
– Cale a boca!
– Por que não posso dizeire o nome todo pá?
– Aqui nessa ilha tão comprida até as areias têm ouvidos, queres ser degredado?
– Eu não, pá!
– Pois então não digas mais esse nome feio, ou nosso dono te expulsa da vila!
– Juro que não mais repetirei o nefando nome, oh pá!
– É melhor mesmo. Pois já esta na lista dos sem cargos!
– Eu! Um sem cargo?
– Sim! Estais na lista negra de nosso dono!
– Mas que coisa terrível! Eu nada fiz!
– Fizestes sim, oh pá! Fizestes um comentário jocoso de nossa simpática dona!
– Mas o que a simpática tem a veire com esta história, pá?
– Esqueceram que nosso dono não é lá muito bom de fazeire contas, e quem faz a lista de execuções e desafetos é a simpática. A única que sabe leire, escreveire e desenhaire na vila!
– Meu Deus! Serei expulso da vila!
– Calma Dudu Joaquim! Acharemos uma solução.
– Que solução Beto Manuel? Aderir ao descobridor?
– Mas Joaquim, nós já o conhecemos tão bem, sabemos que não é a solução!
– Mas nosso dono também não é a solução!
– P.Q.P., mas que M…, hem!
– Sem palavrões, por favoire, Dudu Joaquim!
– Beto Manuel! Vamos falar com o que multa embarcações!
– Qual? O que não deixa derrubaire arvore?
– Sim! Também esta no páreo!
– Nossa terra é rica pá! Todos querem tirar uma casquinha…
– Olha pá! É melhor deixaire a caravela aportaire, e ver o que acontece, afinal
Não somos nem brancos nem negrões, somos mulatos…
– Vamos avisar aos brancos e negrões que o Pedro Álvares esta de volta?
– Não precisa, pá! Eles já adivinharam.
– Como sabes?
– Preste atenção! Os foguetes estão a contaire!
– Ah!
– Pum… Puum… Pãããng… Puuum… Puum…

GASTÃO FERREIRA/IGUAPE/2007

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