Em 1956 eu estava com oito anos, e a cidade de Esteio/RS tinha menos de cinco mil habitantes, hoje ela possui mais de 85 mil moradores. Nós morávamos na Vila Osório e meu avô Juca residia perto do Cine Imperial, a uns três quilômetros de distância.
Naquela manhã Dona Anadir, minha mãe, separou uma dúzia de bananas e mandou que eu levasse para o vovô comer com o café da tarde…
Naquela época não existia sacola de plástico, e as bananas foram embrulhadas em folha de jornal; eu, meu estilingue e de pé no chão seguimos pela linha de trem até perto da casa de vovô…
Saltando entre os dormentes da via férrea, cantarolando alguma musiqueta, como era de meu feitio, espiava as douradas bananas; – Vovô está velho e não vai comer todas estas bananas, elas vão acabar estragando…
Comi uma banana; – Sobraram onze bananas, número ímpar, com certeza vovô vai desconfiar que eu comi uma banana, melhor comer outra e entregar só dez…
Sentei ao lado da estação de trem para um pequeno descanso;
– Muito gostosas essas bananas, vou comer mais duas…
Estava quase chegando quando me toquei que oito era um número muito estranho, imagina alguém comprar oito bananas! Ou se compra uma dúzia, ou se compra meia dúzia, e lá se foram mais duas bananas…
Cheguei à casa, tomei a benção da vovó Julieta e do vovô Juca e entreguei as bananas dizendo que era um presente de minha mãe para o vovô comer com o café da tarde, e voltei voando para casa, feliz da vida e de barriga cheia…
Passaram-se quinze dias e vovô Juca foi visitar a minha mãe; conversa vem, conversa vai, e eu ali por perto fazendo de conta que não estava prestando atenção em conversa de gente grande, e então a pergunta fatal;
– Pai, o senhor gostou da dúzia de bananas que eu lhe mandei?
Vovô Juca olhou bem na minha cara, me mediu de cima em baixo, na verdade o velho me detestava porque eu comia todas as goiabas maduras do seu quintal, e disse; – Que dúzia! Não foram três bananas?
Imaginem o tamanho da surra que levei, passei um bom tempo sem conseguir comer banana; muitos anos depois, conversando com a vovó Julieta contei a história das bananas e disse que nunca entendi o porquê do vovô mentir para a minha mãe dizendo que eu lhe dera três bananas e não seis…
Vovó Julieta ainda se lembrava do causo das bananas, pois ele gerou a minha fama de esganado, e descaradamente me disse que dera três das seis bananas para a minha prima Zenaide, sua neta filha da tia Nair.
A vida era tão boa, a gente não conhecia a perda de alguém, a gente apanhava da mãe, a gente comia banana escondido e a gente era muito feliz…
Gastão Ferreira/2022
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.