Chapeuzinho vermelho

Esta peça “Chapeuzinho Vermelho Vinte Anos Depois”, escrita por Gastão Ferreira, oferece uma releitura irreverente e humorística do conto clássico. No enredo, vemos uma inversão de expectativas, onde personagens amadurecem e vivem realidades bem diferentes das narrativas tradicionais.

Chapéuzinho Velha, marcada pela vida e com traços cômicos de desencanto, compartilha suas desilusões de forma bem humorada. O Caçador Velho revela uma história envolta em mal-entendidos e exageros, enquanto o Lobo Velho, longe de ser o vilão, tem sua história revisada como uma vítima das circunstâncias. Vovó, por sua vez, emerge como uma personagem sagaz e manipuladora, revelando segredos e ironizando a fama que a história lhe deu.

A peça também satiriza questões contemporâneas, como o impacto da fama, relações interpessoais e os estereótipos impostos aos personagens. O humor se faz presente por meio de diálogos rápidos e situações absurdas, onde todos os personagens mostram-se longe da perfeição e agem de forma inesperada.

Esta obra é um exemplo de como histórias infantis podem ser reinterpretadas em uma chave adulta, explorando temáticas mais profundas e cotidianas, como frustrações, desejos não realizados e, principalmente, a desconstrução de mitos.

TEATRO NÃO INFANTIL

CHAPÉUZINHO VERMELHO

Tema: Chapeuzinho Vinte Anos Depois

Personagens (7):

  • Chapéuzinho Nova
  • Chapéuzinho Velha
  • Caçador Novo
  • Caçador Velho
  • Lobo Novo
  • Lobo Velho
  • Vovó (Velha/Nova)

Cenário:

Uma sala bem simples.


ATO I

  1. Monólogo de Chapéuzinho Velha (I-01)
  2. Monólogo do Caçador Velho (I-02)
  3. Monólogo do Lobo Velho (I-03)
  4. Monólogo da Vovó (I-04)

ATO II

  1. Peça teatral da Vovó (II-01)

Autor: Gastão Ferreira
Local e Ano: Iguape/SP, 2006

I-01 MONÓLOGO DE CHAPÉUZINHO VELHA

(Entra no palco tropeçando, bêbada.)

Chapeuzinho Velha:
Hich… hich… Boa tarde, pessoal! Estão me reconhecendo?
Não?
Não?
Não?

Poo! Eu sei que mudei adoidada, mas pensem um pouco e reparem no corpítcho… não?
No chapéuuuu!… Isso! No chapéu.
Hum… hum… Chapéuzinho Vermelho!
Acertaram na mosca, digo, no chapéu!
Sou eu! Sou eu!

Claro que vocês estão duvidando… Eu era apenas uma inocente garotinha, algo bobinha… meio sabidinha, que curtia levar doces para sua amada e idolatrada, salve salve, avó.

Estou meio confusa. Não sei se é pelo tempo que já se passou… Eu sei que vocês estão pensando:
“Puxa! Que mudança! Cadê a criaturinha inocente que estava por trás desse mulherão?”
Que sou eu! Que sou euuu…

Não pensem que me enganam! Eu estou sóóóóbria!
Só tomei uns gorós para encarar essa história sórdida que me perseguiu a vida inteira… Pensam que é moleza?
Ser rotulada, empacotada, apontada como a menina que foi papada pelo Lobo Mau!

Não foi fácil! Sei lá… De repente, tudo mudou… O menininho que eu paquerava ficou com medo de ficar mal falado… Aquele viadinho! Abandonou-me…

Sordidamente me esnobou… Esqueceu-me!
E eu nunca mais, em toda a minha loooonga vida, roubei sequer um beijinho de um garoto bobinho…

Mas para quê lembrar? Se tudo já passou… Mas que doeu! Doeu… e ainda dói, bem aqui… no coração.

Para mim, parece que foi ontem… Era dia da visita semanal à vovó, e eu, lépida e faceira, peguei a cestinha com doces e fui andando pela floresta…

Boa tarde, árvore!
Boa tarde, passarinho!
Boa tarde, sua vaca!
Boa tarde, João!… Nããão!… João é outra história… Apaga o João.

Sim! Após muito, muito caminhar, pois vovó morava longe pra cacete, cheguei à casa da velha…
Aquilo não era nem casa… era um muquifo vagabundo… sem nenhuma segurança, bem no meio da mata…

Entrei no quarto de vovó! E o que vejo? O que vejo?
Vovó deitada em sua cama ordinária… com um olhão desse tamanho! Uma bocona enorme… um bigode feio pra xuxú… tentando parecer normal!
Como poderia parecer normal com aquela cara de cachorro, digo, de lobo…

Só sei que gritei! (imita a música “Bastidores” de Chico Buarque)
Gritei! Gritei! Até ficar com dó de mim… e aí tudo apagou!

Quando abri meus inocentes olhos, estava um trapo… caída no chão… roupa rasgada… sem calcinha, quer dizer, calcinha não! Sem cestinha… sem bolo, sem chapéuzinho… e…

Um valente caçador apontava uma arma enorme para aquele lobo babão… e então, novamente eu…
Gritei! Gritei! E desmaiei.

(Fica desmaiada no palco até entrar o Caçador.)

(Entra o Caçador…)

 

I-02 MONÓLOGO DO CAÇADOR VELHO

(Entra no palco.)

Caçador Velho:
Tarde, pessoar! Pois então, eu sou o famoso e valente caçador que acabou com o sequestro da Chapéuzinho Vermelho! Essa mesma, que tá aí, caída que nem saco de batata vazia nesse chão!

Rapáiz! Aquilo foi a meiô coisa que pudéra acontecê prum vivente que nem nheu… Fiquei famoso e já fui inté intrevistado por meio mundo…

Pois saibam ocês, que eu havéra de sair de casa a móde de passarinhar, isto é, matá meia dúzia de sabiá pra fazê um ensopadim…

Quando de repentí… não mais que de repentí, senti um arrepiu na espinhéla, que nem se uma arma penada tivésse soprado… (faz o som de um sopro)… nim nheu!
Ai!… Falei cum eu mesmo: “Vou inté a casa da vovó… aquela véia safada que fica de namorico cum nheu, pois tá na hora dela vê o que é bom pra tosse… ou hoje consigo mais qui aquela meia dúzia di beijim lambido, ou pode me isquecê pra sempre… qui um sujeito bem apessoado que nem nheu não pode si dá o desfruti di ficá cum namorico escondido, hum!”

Quando entrei na casa bacana da vovó, ouvi um grito terríver… HÁÁÁÁ!… HÁÁÁÁ!… HÁÁÁÁ!… (pausa) (Chega?)

Corri inté nosso quarto, digo, quarto da vovó! E o que vejo? E o que vejo? E o que vejo?… (pausa) (Já falei isso?)

O lobo, com safadeza, com a Chapéuzinho Vermelho… Graças ao bom Deus, cheguei a tempo de evitá uma desgraça… Uma calamidade? Um estrupo?… Não sei!

Esses óios qui a terra há di cumê, ficaram envergonhados com a cena que corria no quartim…

Entoncesss!… Empunhei a arma e dei vóis de prisão àquele lobo horríver de si vê…

O lobo pulô a janela e correu pru mato, e eu saí correndo que nem puliciar atrás di bandídu… hum!

(Sai correndo.)

(Entra o Lobo…)

I-03 MONÓLOGO DO LOBO VELHO

(Entra no palco.)

Lobo Velho:
Oi, pessoal! Como vocês podem notar, eu sou o Lobo Mau. (Ai!)

Na verdade, não sou tão mau assim! São coisas que inventam… Coisas dessa gente fofoqueira, que não tem nada a fazer na vida a não ser cuidar do rabo alheio…

Eu sempre fui um lobinho comportado! Fiz prezinho (básico!) e estudei até a oitava série…

Papai queria que eu seguisse sua profissão (comededor oficial de ovelhas), mamãe queria que eu fosse manequim, cabeleireiro, maquiador… por aí! E nunca, nunquinha, perguntaram minha opinião.

Sempre fui um lobinho estranho… Dá pra notar? Ah!… Não dá? Obrigado!

Bem! Fui crescendo… crescendo… crescendo… (pausa) (menos!)
Meu melhor amigo era um cão policial…
Ahh! Depois a gente brigou. (faz gesto triste) Xôôô, tristeza!

Como eu era um lobo muito tímido, espiava Chapéuzinho Vermelho passear pela floresta e morria de inveja dos seus modelitos… Chapéuzinho Vermelho… Vestidinho vermelho… Sapatinho vermelho… Tudo combinando… uma graça!

Nessa fase da vida, eu queria ser um famoso costureiro…

Então, numa bela tarde, tomei coragem e fui falar com a vovó, que era tida como uma má-dama na floresta…
Ela (amiga!) tentou ajudar-me, em troca de um favor que eu poderia ou não… fazer por ela…

Havia um caçador, um tipinho atrevido, que estava assediando vovó, e ela não queria que sua netinha ficasse sabendo do babado…

Então combinamos que eu tomaria seu lugar na cama, na próxima visita do caçador, e que talvez euzinho, com esse charme tão meu, pudesse solucionar o problema…
Era só uma questão, digamos… de cama!

Vimos quando o caçador se aproximava sorrateiramente pelos fundos da casa.
Coloquei a touca de vovó e cobri-me com seu lençol, enquanto ela se trancava no guarda-roupa.
O que não percebemos foi que Chapéuzinho Vermelho havia chegado pela porta da frente.

Quando Chapéuzinho me viu, tolinnha e inocente como era, certamente pensou no pior… Que eu havia devorado sua vovózinha!
De tão estressadinha, deu um chilique na coitada… Fez xixi na calcinha vermelha e desmaiou…

O caçador invadiu o quarto, e grosseiro como só pode ser um caçador, com sua imensa espingarda, apontando para o meu coração, encheu-me de desaforos…
Claro! Depois percebi que ele não passava de um réles aventureiro…

O caçador tentou me retirar da casa no tapa, quando ele me deu uma gravata, vovó saiu do roupeiro acusando-nos de coisas terríveis… (pausa) (Puro ciúme da baranga!)

Envergonhados, saímos da casa e fomos continuar a luta num matinho próximo…

Pois é! De vez em quando nos vemos para lembrar os velhos tempos… Quanta saudade… É da vida!

Tchau!

(Sai o Lobo. Entra Vovó.)

I-04 MONÓLOGO DA VOVÓ

(Entra no palco.)

Vovó:
Mas vejam só! Quem está caída no chão? Minha neta, Chapéuzinho! Que, nessa altura do campeonato, já virou um Chapeuzão…

Coitada da Emengardinha!
É esse o verdadeiro nome dela…
Acho que revelei um segredo!
Tadinha! Nunca conseguiu superar o trauma pelo qual passou na infância…
Também, era tão bobinha! Não ia dar em nada mesmo…
Pelo menos ficou famosa!

E eu? Eu fiquei milionária!
Armei tudo! Tintim por tintim… Depois que a terrível história espalhou-se pela vizinhança, dei uma força! Claro!
Escrevi um conto infantil… E não é que deu certo!
Ganhei muito dinheiro… Comprei uma mansão, fiz uma plástica, casei com um garotão… que me roubou!
Bem, essa é outra história…

Chapéu nunca se recuperou do trauma, até hoje procura um lobo para chamar de seu!
Não disse que ela é meio abobada?

O Caçador continua morando na floresta e ainda não saiu do armário, digo, da mata!

E o Lobo? Bem, o Lobo anda por aí pintando o pelo de loiro uma vez por mês!

E eu? A Vovó, estou aqui para apresentar a todos vocês uma peça teatral de minha autoria, chamada?… Tcham… tcham…
Chapeuzinho Vermelho!

(Fim do primeiro ato.)

ATO II – CHAPÉUZINHO VERMELHO: A PEÇA

(Cenário: O mesmo anterior.)

Chapéu:
Oi! Eu sou Chapéuzinho Vermelho… Maravilhosa… Gostosa… Inteligente… Tudo de bom!
Não sei o que faço morando nesse meio de mato! Hoje vim visitar vovó… trazer uns docinhos… Tudo coisas de pobre… Eu gosto mesmo é de lagosta… Nunca comi! Mas que gosto!… Gosto.

Ah!… Pessoal! Nem te conto… Vovó pensa que sou uma tolinha, uma menininha com QI de lagartixa… Na verdade!… Eu sou uma dissimulada, uma devassa… Sei de coisas que deixariam vovó mais vermelha do que uma beterraba…

Pobre vovó!… Não sai de casa… Não se diverte… Só pensa em rezar… Desde que vovô fugiu com uma garota do Supimpa, ela jurou que jamais teria um novo alguém em sua vida… Vou dar um sustinho nela…

(Abre a cortina – vovó está abraçada ao Caçador.)

Chapéu:
Vovó!

Vovó:
Chapeuzinho!

Chapéu:
O que é isso, vovó?

Vovó:
É um homem!

Chapéu:
Que é um homem eu sei! Mas o quê ele está fazendo aqui?

Vovó:
Veio consertar o chuveiro…

Chapéu:
Vovó! A senhora não tem chuveiro…

Vovó:
Bem!… Bem?… Veio trocar o butijão de gás…

Chapéu:
O seu fogão é a lenha, vovó!…

Vovó:
É mesmo?

Chapéu:
Meu Deus!… Que vergonha! Um homem na casa de vovó e eu trouxe lanche apenas para uma pessoa!

Vovó:
Ah! Esquece, vai! Chápe? Faça um favor para sua vovó? Um cafezinho para nosso visitante!

Chapéu:
Tudo eu!… Tudo eu! (Faz um muxoxo e sai.)

Caçador:
Será que ela reparou em alguma coisa?

Vovó:
Que nada! Ela é tão inocente…

Caçador:
Mas bem que ela deu uma olhadinha!

Vovó:
Olhadinha? Pra onde?

Caçador:
Pra mim! É claro…

Vovó:
Óh… óh… óh… se toca, meu!

Caçador:
Hum!… Com ciúme?

Vovó:
De Chapéuzinho?… Nunquinha! Meu pedaço de tainha defumada…

Caçador:
Quanto elogio!… Gostô?

Vovó:
Demais!

Caçador:
Então vamo até a barranca do rio pra continuá o conversê?

Vovó:
É pra já…

(Saem Vovó e Caçador – Entra o Lobo.)

Lobo:
Oh seu!… Pois hoje tô a fim de comer coisa diferente! Seu… Tô farto de comer ovelha, bichinho que bérra e chama a atenção com o alarido! Seu…
(Vê a cesta que Chapéuzinho trouxe.)
…Uhm… Aqui tem coisa diferente!
(Tira um sutiã, um balão, um sabonete. Chapéuzinho volta.)

Chapéu:
Aaaí!!!!

Lobo:
Calada!… Psiuuuu!

Chapéu:
Cadê vovó? Cadê vovó? Você comeu minha avó?

Lobo:
Que vovó coisa nenhuma! Nem conheço sua avó…

Chapéu:
Comeu sim! Seu monstro…

Lobo:
Óia a boa educação, mocinha.

Chapéu:
Boa educação o cacete! O que fez com a velha, seu viado?

Lobo:
A velha tá na barranca do rio, no maior amaço com um caçador…

Chapéu:
Seu mentiroso… Filho da puta… Minha avó é uma santa!

Lobo:
Santa ignorância da sua parte! Tá lá sim!… Agarrada naquele mequestreffe, que nem jabuticaba em árvore…

Chapéu:
Ah!… Já sei… Você veio me comer?

Lobo:
Hêê!… Cai na real, moleca! Pra cima de mim? Não violão!

Chapéu:
Acha que eu não sirvo pra você?

Lobo:
Tá meio oferecidinha, tá não?

Chapéu:
O quê?… Você me conhece? Você me conhece? Sou Chapéuzinho Vermelho, meu…

Lobo:
E daí?… Qual o problema?

Chapéu:
Chapéuzinho Vermelho, cara!

Lobo:
Chapéuzinho Vermelho!… Vestidinho vermelho!… Sapatinho vermelho!… Qual é? Não tem um branco pra combinar? Ou tá pagando promessa?

Chapéu:
Você é muito cara de pau! Entra na minha casa e já vem me tirando!

Lobo:
Se toca!… Fica aí se jogando pra cima da gente!…

Chapéu:
Não gostou, fofura?

Lobo:
Olha o assédio!…

Chapéu:
Tô na tua, cara…

Lobo:
Dá pra ver! Hahaha…

Chapéu:
Tá me tirando? Seu bosta…

Lobo:
Eh! Calma… Sou de paz…

Chapéu:
Acho que você não é chegado…

Lobo:
Pô!… Vê se desgruda! Ôh lagartixa!

Chapéu:
Não me chame de lagartixa, seu cachorro vira-lata!

Lobo:
Ôpa!… Ofensa pessoal! Não vem que não tem…

Chapéu:
O quê? O quê?… Vai me encarar? Vai me encarar?

(Quando o Lobo vai reagir, Chapéuzinho grita e entra o Caçador com uma arma na mão.)

Caçador:
Parado aí! Seu humilhante… Mãos nas orelhas!

Lobo:
Não é humilhante! É meliante…

Caçador:
Cale a boca ou passo fogo, seu tarado!

Lobo:
Tarado? Eu?

Caçador:
Sim!… Assediando Chapéuzinho… Essa inocente criaturinha!

Lobo:
Ela é que estava me atacando!

Chapéu:
Eeeu?… Euzinha!

Caçador:
Viu?… É uma criança bobinha…

Lobo:
My God! (Põe a mão na boca.)

Caçador:
Mãos nas orelhas! Seu safado…

Chapéu:
Mata logo esse salafrário!

Caçador:
Calma, menina!… Fique carma…

Chapéu:
Eu sou vítima!… Eu sou vítima! Quero justiça!

Caçador:
Como vê televisão essa criança!

Chapéu:
Ninguém me entende!… Ninguém me entende!

Lobo:
Eu entendo! Entendo…

Caçador:
Cale a boca! Tarado…

Chapéu:
Cale a boca!… Cale a boca!… Cale a boca!

(Chega Vovó.)

Vovó:
Lobo?

Lobo:
Vovó!

Vovó:
Há um engano!… Baixe a arma.

Caçador:
Você conhece este humilhante?

Vovó:
Mais ou menos!

Caçador:
Pra mais ou pra menos?

Vovó:
Pra mais!… Óh vida cruel!

Chapéu:
Meu Deus!… Nem o Lobo escapou…

Caçador:
Como é que é?

Vovó:
Ele é apenas um bom amigo… Digamos, nada mais!

Chapéu:
Vovó?

Vovó:
Menina!… Pare de dar chilique… Vovó!… Vovó!… Que coisa mais feia!

Caçador:
Não acredito! Tô levando chifre de um lobo!

Lobo:
Como assim? O que rola entre você e vovó?

Vovó:
Não rola nada!… Não rola nada…

Chapéu:
Não acredito!… Não acredito!

Vovó:
Chapeuzinho! Pare de se intrometer na minha vida privada!

Caçador:
E que privada!…

Chapéu:
Eu não disse!… Eu não disse! Minha avó é uma messalina!

Caçador:
Uma mensalina?

Chapéu:
Sim!… Uma dama da noite…

Caçador:
Uma dama da noite?

Chapéu:
Quer parar de repetir tudo o que eu digo!
Sim!… Sim!… Uma perdida…

Vovó:
Chapeuzinho!… Menos, tá! Volte a me chamar só de vovó! Ok?

Chapéu:
Ok!… Vovó…

Lobo:
Então, hein, vovó? Quem diria!

Vovó:
Escreveu? Não leu?… O pau comeu…

Caçador:
Não, senhora!… Não, senhora! Eu não admito ser trocado por um animal irracional!

Lobo:
Olha aqui, cara… Qual é?

Caçador:
Úúú!… Tô morrendo de medo!… Úúú…

Lobo:
O teu apelido não é Zé Galinha?

Vovó:
Zé Galinha?

Chapéu:
Zé Galinha?

Caçador:
É! Foi, né…

Lobo:
Conto?… Ou não conto?

Vovó:
Conta!…

Chapéu:
Conta! Vai… Conta logo!…

Caçador:
Pensando bem!… Sabe, vovó! A senhora faz da sua vida o que bem entender!… Tô nem aí!

Chapéu:
Tô nem aí!… Tô nem aí!…

Lobo:
E aí?… Como vamos consertar essa bagunça?

Chapéu:
Não quero que vovó fique mal falada!…

Caçador:
Mais do que já é?… Nunquinha!…

Lobo:
Olha a boca!… Olha a boca!…

Vovó:
Podemos dar um jeito nisso…

Chapéu:
Como? Vovó…

Vovó:
Vamos vazar a notícia de que o lobo tentou te seduzir!…

Lobo:
Eu não sou pedófilo!…

Vovó:
Calma!… Calminha!… É só uma mentirinha… Vamos inventar o seguinte:
Chapeuzinho chega pra sua visita semanal, estou amarrada dentro do guarda-roupa. O lobo toma meu lugar na cama para seduzir Chapeuzinho Vermelho… O caçador, que estava passando, ouve os gritos de Chapeuzinho e vem em seu socorro… Ele liberta a inocente e pura Chapeuzinho e também sua frágil e honesta avózinha… Que tal?

Caçador:
Eu vou virar herói!… Para mim está ótimo!

Chapéu:
Eu vou ficar famosa e lançar um modelo bacana de chapéu… Para mim está perfeito!

Lobo:
E eu?… Vou ter fama de mau para sempre?

Vovó:
Vai sim!… Para o povo vai ser sempre mau… Mas para mim vai ser o meu eterno herói!

(Vovó abraça o Lobo e ficam se beijando.)

FIM

GASTÃO FERREIRA/IGUAPE
DEZEMBRO/2006

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