Iguape cidade histórica, patrimônio cultural brasileiro. Famosa pelo ciclo do ouro, do arroz, navegação fluvial e marítima. Hoje cidade das cruzes. Nossos políticos se esgoelam de gritar nos palanques eleitorais prometendo profundas mudanças. Falam em turismo e no porvir radiante de nosso município.
Roma, Paris, Londres, Nova Yorque são cidades provincianas perto de Iguape. Onde já se viu perder tempo com esculturas em praças públicas, monumentos contando lendas e homenageando heróis?O melhor enfeite para um logradouro é uma cruz, esses estrangeiros ignorantes serão bem vindos a nossa cidade, assim talvez aprendam sobre a verdadeira arte.
Sou um defensor ferrenho das cruzes e graças ao bom São da Ilha ainda temos muitas praças a serem enfeitadas. Se eu tivesse poder de mando daria nome as cruzes. Cada cruz com o seu nome. A Cruz de taquara do sitiante que não pode desmatar. A Cruz do pescador que não pode pescar. A Cruz do cidadão que não pode andar tranqüilo pela rua, pois é achacado por um pedinte. A Cruz de quem freqüenta bares, pois sempre aparece um bêbado pedindo que se pague uma pinga.
Sou e serei um fã das cruzes. Uma cruz nunca será roubada como o Leão da passarela, como o Veado de bronze da Fonte do Senhor, os Anões e a Branca de Neve da praça homônima no Rocio. O Leão da Praça dos Pescadores do Porto da Ribeira. A placa de bronze de Albert Camus, o remo da fragata da Marinha, o Anjo e o Sino do cemitério, o Cupido urinando da piscina da Fonte, as miniaturas de animais que enfeitavam a rua ao lado do Supimpa.
Uma cruz além de ser baratinha (R$149.610,95) jamais deixa esquecer que cada um de nós possui a própria Cruz que se subdivide em muitas cruzinhas. A Cruz do medo, a Cruz da ignorância, a Cruz sem futuro certo, a Cruz dos impostos, a Cruz Cala a Boca de não poder reclamar, a Cruz da ingratidão e tantas outras.
Temos em nossa cidade uma nova praça, uma praça sem árvores, sem banquinhos, uma praça com jeito de quem tem medo de ser feliz, uma praça sem passarinhos, uma praça triste, a Praça São Sebastião que fica na orla do Valo Grande ao lado da peixaria do Wilson e sabem qual o diferencial desse novo local:- Uma Cruz! Cruz credo.
Gastão Ferreira
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.