MEU DEUS!

MEU DEUS!

I – NA FLORESTA

O dia amanhecera tranqüilo. O formigueiro estava despertando lentamente. As formigas operarias já haviam se alimentado e se dirigiam ao trabalho. A classe dominante ainda dormia, a noite fora farta em comes e bebes, e como sempre a festança acabara tarde.
As operarias dirigiram-se ao interior do jardim em busca de comida. Tinham que agir com o máximo cuidado, hoje, levavam consigo uma inocente formiguinha desconhecedora do mundo que a cercava.

II – FORMIGUINHA

A formiguinha bobinha como só podia ser uma inocente aprendiza, estava embriagada com as novidades e tudo observava. Ávida para tudo contar às coleguinhas que ainda não podiam sair do formigueiro.
Notou o sol imenso e luminoso. O céu azul sem fim. Arvores com folhagens deslumbrantes.
O vento que soprava mansamente. A água que corria murmurando sobre seixos coloridos. Pedras imóveis e mudas, majestosas em sua solidão. Extasiava-se perante tanta beleza e dizia: – o Grande Formigão, o que tudo fez! É um pai generoso. Olha como foi bondoso comigo! Quanta comida! Quanta fartura! Quanta… foi levada pelos ares por um sabiá para alimentar seus filhotes.

III – O SABIÁ
O sabiá que desde manhãzinha buscava alimento para sua prole, voando em direção ao seu ninho pensava lá com suas plumas: – O Grande Sabiá, o que tudo fez! É um pai generoso e bom. Deu-me de presente essa insignificante formiga que alimentará meu filhote.

IV – A COBRA
A cobra descobrira o ninho na noite anterior e aguardara a saída do sabiá para devorar seu petiz. E enquanto procurava uma moita para enrodilhar-se e digerir calmamente sua presa, agradeceu: – Oh! Grande Cobra, a que tudo fez! Obrigada pela farta alimentação.

V- MEU DEUS!

Joaquim matou a cobra e cuidadosamente tirou o couro, que vendeu para o sapateiro Zé Galvão. E alegremente agradecia ter ganhado seu sustento diário: – Obrigado meu Deus, o que tudo fez! Obrigado pelo pão de cada dia… Não terminou a oração, foi assaltado por um rapaz encapuzado que o deixou desmaiado, sem roupa e sem dinheiro.
O encapuzado comprou a sua dose diária de Crack e entrou a viajar: – Obrigado Paizão, o que tudo fez! Obrigadúúú… nem chegou a sentir o tiro certeiro bem no meio da testa… O jornal da cidade noticiou alguns dias depois: – meliante encontrado com a boca cheia de formigas. Obrigado meu Deus!Por menos um.
Lá em cima, bem lá em cima Ele balançava a cabeça: – São todos meus filhos! Eu os criei! Quanto tempo perdido, meu Deus!


Gastão Ferreira/Iguape

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