NA LAGOA DA VIDA
I – A FESTA
Na lagoa a festa estava animada. Grilos cantavam, cigarras faziam questão de mostrarem a linda voz. Lambaris aplaudiam com suas múltiplas nadadeiras, traíras de dentes afiados e mandis chorões completavam a assistência. Um único sapo destoava no ambiente. Imitava os cantores, tirava sarro de quem desafinava, falava palavrões, ou seja, tentava de todas as maneiras possíveis acabar com a alegre reunião.
II – O SAPO
Pinho, o sapo, era o batráquio problemático da família. Sempre aprontando, desde girino enlouquecia sua mãe, xingava os mais velho e professoras, batia nos sapinhos da vizinhança. O conselho tutelar da lagoa estava cansado de ser chamado a intervir. O juizado de menores o tinha como caso perdido e só não o prendia porque não havia uma cadeia apropriada. Ninguém ficava sossegado quando Pinho estava por perto, pediram ajuda ao Conselho Manipulador de Sapos E Girinos (Comseg). O diretor do conselho, uma capivara que adorava menores de idade, após ampla consulta as bases e baseado em farta documentação chamou Mafalda a sua presença.
III- MAFALDA
Mafalda era a fada local, uma espécie de mãos limpas da lagoa, emotiva ao extremo, nunca sabia o que estava ocorrendo em seu reino e quando questionada chorava fácil. Com os habitantes de maior porte, jacarés, antas, tapires, capivaras e veados, era toda amor, com os insignificantes pequenos roedores, baratas, ratos silvestres e outros seres exóticos era um raio na retaliação. Quando foi informada do comportamento politicamente incorreto de Pinho, falou com sua varinha de condão:- Com esse eu posso! Imediatamente o transformou num pescador.
IV – O PESCADOR
Pinho, o sapo agora metamorfoseado em pescador continuou o mesmo de sempre. Sujava a lagoa, derrubava árvores, pescava fora do defeso, cheirava cola, lança perfume e cocaína, fumava maconha e bebia todas. O que ninguém sabia era que Pinho agia dessa maneira por ter sido desprezado por Rachel, a sapinha mais serelepe do pedaço desde o prézinho. Seu sonho de amor fora morto no nascedouro. Era muito azar, como sapo não realizara seu destino e agora como homem paquerava Beatriz que só lhe dava atenção quando via uma nota de cem.
Pinho enriqueceu rápido, participava de tudo que desse lucro e como era completamente amoral foi comprando os carinhos de Bia e tanto comprou que casou com ela.
V – FINAL FELIZ
Beatriz, garota criada nas baladas e conhecedora de todos os escurinhos da cidade agiu com extrema cautela. Desde que conhecera Pinho arquitetara o famoso golpe do baú. Sabia de todos os seus golpes, desde vender cascalho roubado a super faturar e com quem dividir os lucros obtidos. Envenenou Pinho na primeira oportunidade e qual não foi o seu espanto ao ver seu cadáver transformar-se num sapo. Como era meio desmiolada nem se deu conta do insólito acontecimento. Hoje ela comanda o jogo do bicho, tem uma boca de fumo, vence licitações e é uma cidadã acima de qualquer suspeita. Está pensando em casar com Romualdo o agiota de plantão e juntos dominarem a cidade.
Gastão Ferreira
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.
Júlh
6 de setembro de 2009 - 8:58 pm ·ameii suas historias!!!
Cloud Estranho (prefiro assim)
6 de setembro de 2009 - 9:59 pm ·O texto está demais cara. muito bom mesmo. Mas só me veio uma dúvida: quantos anos você tem?
Valeu.
um abração.