O bragantim negro

As cantigas do mar contam os segredos do tempo, dizem dos dias distantes da criação, dos naufrágios, das tempestades, das muitas lágrimas que salgaram o oceano; falam das jovens apaixonadas que ficaram para sempre sozinhas nos cais dos portos, das mães que perderam os maridos e os filhos nas batalhas navais, lembram dos romances impossíveis, dos que partiram para o desconhecido, dos que nunca chegaram…

Conta a Lenda Urbana que no final do século XVIII o casal Marilda e Afonso fretou um veleiro e partiram em lua de mel pelo Sul do país; entre a cidade de Passo de Torres/SC e a cidade de Cidreira/RS algo muito estranho ocorreu…

Corsários europeus cercaram o bragantim, que era um veleiro armado com dois mastros e velas latinas triangulares, aprisionaram Afonso no porão do navio pirata, transferiram o tesouro pilhado de outros navios para o veleiro capturado e deixaram Marilda à disposição dos flibusteiros…

Marilda sofreu horrores nas mãos dos piratas; numa noite de tempestade Afonso conseguiu escapar e se escondeu no bragantim. Procurou pela esposa e quando estava prestes a abraçá-la um raio atingiu a embarcação, Marilda desmaiou…

Ao abrir os olhos, Marilda notou que o mar estava sereno e a nave corsária havia desaparecido na imensidão das águas. O marido não se encontrava a bordo; ela estava sozinha no navio.

Marilda tinha absoluta certeza que ainda encontraria o esposo, assim como os piratas, ele, Afonso também devia estar em algum lugar desse imenso mar… O veleiro vagava ao sabor das ondas, mas quando se formava uma frente fria, um ciclone extratropical, uma grande tormenta, a nave se aproximava da terra firme e Marilda gritava por socorro…

Nenhum pescador se aproximava do bragantim, eles enxergavam a realidade, e o que eles viam era puro horror; uma mulher esquelética, vestida de farrapos, uma morta viva de braços estendidos pedindo ajuda, uma figura vinda da morte à procura de alguém que também morreu e que ela não sabia…

O bragantim raramente cruza frente à praia de Imbé, a última vez em que foi avistado foi na passagem do ciclone extratropical que atingiu a cidade com fortes ventos; ocupantes dos poucos carros que estavam estacionados na Barra do Imbé viram o bragantim cercado por um cardume de botos, notaram o horrível e descarnado esqueleto fazendo gestos como se estivesse à procura de alguém…

Ao que se sabe nenhum marujo ou pescador teve coragem suficiente para subir a bordo, e o tesouro dos piratas continua na embarcação.

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