O pesadelo

Naquele começo de noite faltou luz elétrica, a mãe de Marquinho pediu ao garoto que
desse um pulo até a venda de Seu Dito Bofe e comprasse três velas brancas, não
era bom que a casa ficasse em completo negrume, pois coisas estranhas acontecem
nas trevas.

Marquinho não tinha medo do escuro, sua mãe Elisa era traumatizada com a escuridão, pois
desde criança ouvia as histórias macabras de vovó Celestina, e a velha sabia
muito bem como assustar alguém…

Um cachorro tão negro quanto à noite mais profunda atacou tio Hilário e mordeu a
sua perna, Hilário mancou por várias semanas e nunca mais dormiu de luz
apagada; o primo Caiado acordou no meio da noite e um menino fedido do qual só
se via os olhos estava sentado à beira da sua cama… Era com esse tipo de
história que vovó assustou filhos e netos a vida toda, pobre vovó Celestina foi
encontrada mortinha da silva e com os olhos esbugalhados de terror numa manhã
fria de um inverno rigoroso.

Marquinho comprou as três velas brancas e voltou serelepe para sua casa; na encruzilhada
perto da moradia sentiu um arrepio, os cabelos ficaram em pé e ele correu até o
portão, parecia que estava sendo seguido, parecia que ouvia uma ofegante
respiração… Bobagem! Assombração não existe.

Dona Elisa trancou portas e janelas, serviu a janta, e nem lavou a louça; sentia-se
inquieta e com calafrios. Sem energia elétrica não havia rádio, televisão,
celular… Todos na casa foram dormir mais cedo.

Marquinho acordou de supetão; tudo escuro no quarto, um cheiro de algo podre infestava o
ambiente… Do canto da parede vinha um risinho de escárnio… O menino notou o
branco de dois olhos que o fitavam, firmou a vista e reparou na farta
cabeleira, nas mãos disformes, nos dentes podres, no arfar igual ao que ouvira
na encruzilhada… Cobriu a cabeça com o edredom e ficou espiando a nefasta
figura…

A visagem se levantou e foi cambaleante em direção a sua cama, Marquinho não
sabia como agir; se gritava por socorro ou fingia dormir, se se mijava de medo
ou enfrentava a assombração… Lembrou-se de vovó Celestina e pediu a sua ajuda…
Uma branca mão saiu de dentro da parede, agarrou a visagem pela goela e a arrastou
consigo para o desconhecido, Marquinho viu o fantasma de vovó Celestina, e ela
murmurou; -“Durma meu neto, e nunca mais duvide das histórias que eu contava.”

Gastão Ferreira/Imbé-2022

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