O PORQUINHO TROLOLÓ


O PORQUINHO TROLOLÓ

Quando Seu Nestório encontrou a vaca Esmeralda caída no curral, foi o maior corre, corre. Mandou imediatamente chamar Pai Galvão, o grande benzedor das cercanias e pediu seu auxílio. Pai Galvão examinou atentamente o animal, fez suas rezas e falou:- “Nestório, meu filho, tudo leva a crer que essa vaca está com trebucho, caso seja isso mesmo, todos os animais da fazenda terão de ser sacrificados.”

Nestório entrou em desespero, seu ganha pão dependia da venda de leite, da fabricação de queijo e derivados. O rebanho era pequeno, também criava porcos e galinhas, o sacrifício estava fora de questão, não podia matar os animais, pois ficaria completamente arruinado. Explicou tal situação a Pai Galvão. Pai, sabedor de coisas que estão alem da compreensão da maioria dos mortais, deu ao dono da fazenda uma garrafada de sua fabricação dizendo:- “Durante sete dias, três vezes ao dia, duas colheradas desse infalível remédio. Voltarei daqui a uma semana. Se no sétimo dia a vaca não estiver andando o sacrifício será necessário.”

Astro, o cachorro, contou a todos os animais a conversa de Pai Galvão com o Senhor Nestório. Os bichos entraram em pânico, resolveram abandonar a fazenda e fugir do sacrifício anunciado. O porquinho Trololó foi contra a debanda geral:- “Aqui é o nosso lar! Não podemos nessa hora amarga abandonar Seu Nestório. Ele é como um pai para todos nós. Alimenta-nos, nos dá amor, carinho, segurança!”, “Deixa de ser besta, Trololó! Disse a galinha Zildinha. Seu Nestório simplesmente nos explora, vende o leite das vacas. Vende os ovos das galinhas e até o fim do ano é provável que você Trololó seja lingüiça.”,” Me dêem uma chance! Vou provar a todos que nosso amo é gente boa! Vou conversar com Esmeralda.”

Passaram-se cinco dias e nada de Esmeralda reagir. Trololó estava sempre por perto incentivando a amiga:- “Meralda, garota! Sai dessa. Você sabe que não está doente.”, “ Eu quero morrer Trololó! Cansei de ser explorada… Cansei de ver meus bezerros serem vendidos… Cansei de dar o meu leite, alimento dos meus filhos, para esse homem levar a vida boa que tem.”, “ Que é isso amiga! Você esta em crise existencial. A vida é algo mais do que alguns litros de leite… Filhos não são nossos, são do mundo, Meralda!”, “Do mundo uma ova! Meus filhos viram churrasco… Eu quero morrer! Eu quero morrer! Meu nome é Esmeralda, pare de me chamar de Meralda, seu imbecil!”

Noite do sexto dia, Trololó em desespero, explica à Esmeralda que se na manhã seguinte, quando Pai Galvão chegar, ela não estiver de pé, todos os animais serão sacrificados:-“ Tudo bem! Você quer ir para os pastos do céu! É um direito seu. Mas não é um direito seu condenar todos nós à morte anunciada! Seu Nestório irá a falência com essa sua decisão, a fazenda será vendida. O futuro de todos estará comprometido.”, “ Trololó, você é apenas um leitãozinho sonhador! O bicho homem não é o que você pensa. Acorda menino! Até o amanhecer tomarei uma decisão. Agora! Vá dormir.”

Na manhã do sétimo dia, a fazenda estava em polvorosa. A porta do curral estava trancada… Os animais desesperados; – Teriam futuro?… Pai Galvão chega… Seu Nestório abre a porta do curral… Esmeralda em pé, lambia um resto de sal do cocho, aparentemente em paz com sua consciência bovina. A crise havia passado. Seu Nestório dá um abraço em Pai Galvão; – Mais uma vez o senhor me foi de grande valia! Muito obrigado… Para comemorar a saúde de Esmeralda, o senhor está convidado para o almoço. Hoje vamos comer leitão, Trololó assado.

Gastão Ferreira/2011

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