Existiu um mundo diferente antes da pandemia, o pai do meu pai morreu bem velho, ele chegou a conhecer meu bisavô e o bisa lhe contou sobre aquele mundo antigo. Meu avô tinha quarenta anos quando foi se juntar aos nossos antepassados.
Havia cidades, fábricas, lojas, supermercados, carros, motos, eletricidade, comunicação à distância, barcos, lanchas, comida à vontade, avião… Meu avô me mostrou fotos de todas essas coisas em velhas revistas que sobreviveram aos tempos sombrios da pós-pandemia.
Após o vigésimo “fique em casa” começou a falta de comida, os agricultores continuavam a produzir alimentos, mas não havia transporte para as suas mercadorias; cada estado, cada cidade, cada casa fechava a sua porta de entrada para estranhos, e a civilização começou a definhar, a desaparecer, e a barbárie se instalou…
Quando a fome apertou, eles saíram das casas em busca de alimentos, muitos deles voltaram contaminados, e o vírus fatal dizimou famílias inteiras… Os poucos que restaram foram para as matas, as florestas, os campos; viraram coletores de frutas, e raízes… A vida não era mais como no passado; o homem voltou lentamente às cavernas.
Sem cientistas, sem máquinas e equipamentos, com a falta de energia elétrica, sem conhecimentos específicos, os poucos que restaram deram inicio a uma nova civilização… Já estamos no ano 120 da Nova Era (120-NE); o progresso está voltando com tudo, saímos das cavernas e estamos morando em pequenas vilas em meio à floresta.
A mata nos fornece o alimento básico, vivemos de frutas e raízes, já não comemos carne, e não matamos nenhum animal; os animais são nossos companheiros nessa jornada vida, agora estamos em paz e convivemos em harmonia com todos eles; os macacos sobem no alto das árvores e dividem conosco os frutos apanhados nas alturas.
Acabaram as guerras, os assaltos, as brigas… Cada tribo vive para si, os estranhos não são bem vindos; mantemos a distância padrão de vinte passos entre pessoas desconhecidas, o uso de máscara é coisa do passado, o tecido é raro e caro, e a saudação padrão é a velha saudação romana; Ave, irmão!
Somos os sobreviventes da raça dos homens, somos poucos e espalhados pelo planeta; não temos comunicação a distância, toda a tecnologia foi perdida, o conhecimento é passado de pai para filho, poucos sabem ler e escrever…
Hoje recebemos a visita de um parente que mora na periferia da floresta, a noite junto à fogueira eles nos contou as novidades; luzes foram vistas no céu, parece que o homem não está só no universo… Estamos aguardando o primeiro contato.
Gastão Ferreira/2021
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.