PARABÉNS
Esta cidade foi fundada logo após a descoberta do país. Teve tudo para dar certo, participou de todos os ciclos que fomentaram o progresso. O do ouro, canavial, escravatura, arroz, possuiu importante porto fluvial e marítimo. Deu a pátria filhos ilustres, deu a si própria o cognome “Princesa do Litoral” e nunca mais saiu disso.
Que será que impossibilita o progresso local? Seus habitantes são pessoas afáveis, educadas e gentis. Trabalhadores, sempre em busca do melhor para si e os seus, não pode ter partido dos mais humildes esse destino cruel que pesa sobre a localidade. A cidade é pródiga em acolher forasteiros de todas as paragens e a população por esse motivo tem todas as mesclas possíveis. Brancos, pretos, amarelos e vermelhos tem seus representantes entre os ecléticos caiçaras.
A conclusão que se chega é que o desmazelo, a falta de progresso e perspectivas de melhoras não pode ser imputada ao povo, mas sim a alguns elementos entre a classe dominante que querem manter o status e temerosos de perdê-lo tudo fazem para atrasar propositadamente a localidade. Teimam em viver de glórias passadas, acreditam serem donas de corações e mentes, como se estivéssemos na época do império. Na verdade não passam de cem os que atravancam o progresso.
Algumas se crêem gênios e agem como se estivéssemos no século XVII. Recentemente foram quase destruídas as árvores de uma velha praça, o motivo, alguns menores arruaceiros estavam depredando o local. Ao invés de colocar um guarda para manter a ordem acharam mais cômodo desgalhar as árvores para uma melhor visibilidade como se elas fossem culpadas pelo o que ocorre no jardim público.
Onde estão nossas estátuas? Onde está o leão da Fonte do Senhor?
Onde foi parar o veado de bronze que estava na mesma Fonte? A placa comemorativa da visita de Albert Camus a cidade? A placa de bronze do Cristo Redentor? O Leão da passarela? Os anões que enfeitavam a pacata rua ao lado do Supimpa? O sino do cemitério, os santos desaparecidos, as pratarias roubadas das igrejas? A efígie do Papa Pio XII? Os marcos geodésicos que há séculos enfeitam logradouros públicos? Os antigos chafarizes?Verdadeiras obras de arte que lembram nosso passado histórico. Se não nos importamos com nossa herança passada como vamos nos importar com o futuro?
Para quem reclamar? Qualquer reclamação e somos apontados como inimigos! Qualquer crítica e somos mal vistos e vítimas de enxovalhos públicos. Nossos lideres não querem liderar pessoas, querem comandar ovelhas surdas e mudas. Quando questionados já vem com discursos prontos, tentando impor no grito o que pensam ser correto, não dão chance ao diálogo como se estivessem lidando com idiotas. Onde fica a cidadania? Quem discorda é discriminado e jamais convidado para participar de algo construtivo.
Estamos nas mãos dos que fazem o que bem querem sem consultarem a opinião dos cidadãos. Admitem sempre as mesmas pessoas em todos os conselhos. Como são escolhidos os participantes dos conselhos?Qual o conhecimento técnico dessas pessoas? Sua visão ética do bem comum? Sua moral perante a sociedade?É crime questionar isso?
Há algo errado em se fazer perguntas?
Nossos líderes são extremamente sensíveis, se magoam fácil, cobram o impossível, esquecidos que foram eles que prometeram o impossível em discursos eleitoreiros. Quem tem direito a mágoas é o cidadão que acreditou nas promessas e deu seu voto. Como falar bem de nossa cidade? Falar bem do que?Da mendicância que já é um problema crônico?Dos drogados que assaltam e matam? Dos baderneiros gritando alta madrugada?Do descaso com nossos bens comuns? Orla do lagamar, beira do valo, estátuas desaparecidas?
Temos que preservar o que herdamos dos antepassados, essa cidade tem histórias para contar, essa cidade é importante, essa cidade era para ser um exemplo por ser uma das primeiras. Como ser exemplo se destruímos nossas árvores, sujamos nossa água, destratamos nossos cidadãos e encaramos como inimigos quem tem a coragem de mostrar que o rei está nu? Todos os reis sempre estiveram nus, todos os reis vestem mantos de arrogância e prepotência, todos os reis morrem e viram nomes de ruas. A culpa não é dos reis, a culpa é nossa que não fazemos cobranças, que temos medo de pedir o que é direito nosso.
Parabéns meu povo! Parabéns aos que tiveram coragem e participaram do ato cívico e exigiram segurança. Parabéns! Vivemos num país livre, temos o direito a reivindicações, temos o direito de pedir justificativas á nossos representantes. Tomara que daqui para frente possamos perder o medo e exercer a cidadania plena, nunca esquecendo que ninguém está acima da lei e que todos nós somos responsáveis por nossa bela cidade e que com ela temos muitos deveres.
Gastão Ferreira
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.