PAZ DO SENHOR! IRMÃOS…


NA PAZ DO SENHOR! IRMÃOS…

Meu nome é Gerson, conhecido como Gibi, um assaltante que se deu mal. Junico meu comparsa foi o responsável por minha morte prematura, ninguém sabe, ninguém viu!

Junico meu amigo de infância, meu mano. Crescemos juntos e desde pivetes compartilhamos tudo. Roubos, estupros, drogas, vandalismos… Não estudamos por opção. A escola era para otários, para pessoas com uma visão de vida diferente da nossa. Nossa curtição era perturbar os professores e agredir colegas de classe. Éramos menores carentes, vítimas de uma sociedade de consumo, ávidos por desfrutar as benesses capitalistas e para isso o melhor caminho era o roubo.

Até os dezoito anos nunca fomos detidos, conhecíamos de cor e salteado o Estatuto do Menor e do Adolescente. A vida era boa, tênis importado, roupa de marca, muitas gatinhas… Com o tempo assaltar Bancos se tornou nossa especialidade.

Aos vinte e cinco anos tive o primeiro e derradeiro desacerto com Junico. No último trabalho matei o safado do vigia do Banco, nada pessoal, o pilantra fixou os olhos em mim e pediu por tudo que era mais sagrado que eu poupasse sua vidinha miserável, pois tinha três filhos pequenos para criar. A bala acertou bem no meio da testa, o outro vigia reagiu e fui baleado, não tivemos tempo de recolher o filme da câmara de segurança, nossa ação fora gravada e a polícia acionada… A fuga foi difícil, perdi muito sangue, discuti com Junico, queria socorro e obtive um tiro de misericórdia, o corpo esquartejado, queimado. Nosso método infalível para apagar as pistas.

Não entendo como continuo vivo! Tenho certeza de que fui incinerado… Assisti Junico comunicar minha morte. “Gerson foi minha cruz! Desestruturou nossa família, foi um peso que carreguei contra tudo e contra todos… Que agora ele encontre a paz!” disse minha mãe.

Por quarenta anos permaneço junto a Junico. Muitas sombras nos unem. Sombras de mulheres estranguladas, de meninas estupradas e mortas, de velhas apunhaladas na solidão da noite, de garotos consumidos pelo “craque”… Ouço soluços de mães e amigos a recriminarem Junico, ouço vozes tramando vingança, ouço gritos dentro da escuridão que nos cerca pedindo por justiça.

Junico está rico e a maldade deixou marcas profundas dentro da sua alma. Tem pensado em mim com freqüência… Não! Não está arrependido. Algo está acontecendo! Seu filho, seu braço direito no tráfico de drogas foi executado por rivais. Junico está sozinho. Hora de parar… Hora de procurar o Pastor.

Junico aceitou Jesus! Aleluia. Junico foi lavado de todos os pecados. Junico está salvo… “E as vidas tiradas? As crianças abandonadas pelo assassinato dos pais? As lágrimas nunca estancadas? A maldade gratuita? As dores! As dores!” gritam as vozes que nos cercam.

O templo lotado, Junico dá seu testemunho… Culpou o Demônio, o tal Satanás que o afastou do Senhor desde pequeno. Agora o diabo está amarrado… Aleluia irmãos! Aleluia… Fiquem todos na Paz do Senhor! Irmãos.

Gastão Ferreira/2011

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