Gilmar foi meu melhor amigo, conhecíamos desde crianças, mesma escola, mesma sala de aula. Jogos, pescarias no riacho, brincadeiras, éramos vizinhos, companheiros nas artes infantis, nossa idade era a mesma.
Quando papai mudou para a cidade grande eu era um adolescente preparando-se para conquistar o mundo. Formei-me com louvor, meu trabalho levou-me para muitos países. O tempo passou, esqueci as aventuras de menino. Quando antigas lembranças vinham à mente, eu lembrava de Gilmar.
Eu contava vinte e cinco anos, aproveitando as férias vim visitar a família, resolvi rever Gilmar. Foi grande a alegria, muita conversa jogada fora, muitos risos. Fomos em meu carro dar uma volta, um acidente aconteceu. Numa curva o carro derrapou, caímos numa ribanceira. Gilmar desmaiou, de um pequeno corte em seu queixo saia um líquido amarelado, fiquei curioso, notei que a ponta de uma película translúcida aparecia… Toquei levemente no local, a aparência de meu amigo sofreu uma metamorfose. Um rosto desconhecido sobrepunha-se ao rosto tão conhecido, uma medonha face nunca vista, onde olhos de um fulgor extraterrestre me fitavam zombeteiros… Desmaiei.
Ao acordar, Gilmar tentava socorrer-me, me afastando do veículo em pane. Era o amigo de sempre com seu sorriso luminoso, o aspecto de galã de novela, o olhar franco de quem confia. Informou que nada sofrera, que eu desde a queda na ribanceira permanecera desmaiado e que em nenhum momento recuperara a lucidez.
Aquele acidente marcou-me para sempre, tinha a certeza de que não perdera os sentidos, que havia realmente presenciado uma estranha e horripilante transformação… Nunca mais me encontrei com Gilmar, o tempo foi passando.
Hoje completo noventa anos, estou voltando de um passeio na orla marítima. Estou apavorado! Minha memória é excelente, tenho certeza absoluta que vi Gilmar… Um jovem de vinte e cinco anos, cabelos negros, traços de galã de novela, o sorriso luminoso. Os olhos que me fitaram em um quase reconhecimento!… A juventude! Meu amigo jamais envelheceu.O acidente de carro, o sangue amarelo, a transformação perante meus olhos… Meu melhor amigo era um extraterrestre!
Gastão Ferreira
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.
Giulia
18 de outubro de 2011 - 7:59 pm ·Gastão Ferreira,eu sou a Giulia tenho 11 anos e adorei essa historia !! de paixao,uma pergunta:
1. quando voce escreveu essa historia?, voce gostaria que fosse real?