Os estudiosos estavam intrigados, algo estranho ocorria na pequena cidade. Possuía tudo para dar certo, poderia optar por diversas formas de turismo, era cercada por uma natureza privilegiada (turismo ecológico), muita água (turismo náutico), rios em abundância (turismo de pesca), uma arquitetura antiga preservada (turismo histórico), ruas planas e muitas praças (turismo para a terceira idade), um povo alegre, hospitaleiro e festeiro (turismo pagão?). Ah! Quase esqueci… Igrejas (turismo religioso).
Os cientistas brasileiros chegados diretamente de Brasília, foram hospedados nos melhores hotéis, alimentação de primeira, horas extras corridas, carros com motoristas a disposição, cartão corporativo e muita cachaça, tudo a custa de nossos impostos e pagos pela municipalidade.
Após estudarem o problema nas horas vagas em que não estavam se aproveitando das mordomias e não tendo encontrado a causa da paradeira geral recomendaram a doação de cestas básicas, vale-luz, vale-água, vale-tudo, menos vale transporte porque todos tinham bicicleta. A pindaíba continuou a mesma e chamaram os americanos.
Os mandatários de cara não simpatizaram com os cientistas americanos que armaram acampamento no campo de futebol, bebiam a própria água, comiam alimentos enlatados e falavam um idioma que ninguém entendia, mas mostraram serviço e o resultado foi um espanto, descobriram o famigerado VINDES (Vírus Interessado Na Decadência Social).
Cientista americano vai fundo! As equipes de apoio detectaram que todos os nativos quando saiam da tal cidade se davam bem, prosperavam,eram trabalhadores, ficha limpa, bem aceitos, um exemplo de bons cidadãos, enquanto os que permaneciam no local de origem eram desbocados, propensos a armarem barraco, um tanto egoístas e sem perspectiva de vida.Fizeram uma pesquisa e menos de um por cento da população estava contaminada com o VINDES (Vírus Interessado Na Decadência Social)… Ufa! Ainda bem que era menos de um por cento.
Quando a exaustiva pesquisa foi apresentada na ONU foi um Deus nos acuda! E se esse vírus se espalhar! O que vai ocorrer com o mundo civilizado? Vamos retroceder?… Não!… Não!… Joguem uma bomba atômica nessa cidade, matem o problema no nascedouro!
A solução foi fácil, o vírus não sobrevivia fora da pequena cidade, pois os nativos que moravam fora não o carregavam consigo. Americano não é fácil e levam o trabalho a serio, descobriram um antídoto chamado SEMANCOL e obrigaram na marra e para o bem coletivo os portadores a beberem a dose única e como ninguém é besta de criar encrenca com americano todos se mostraram felizes em colaborar.
Não é que deu certo! Toda a vez que um ex infectado pegava um microfone para se esgoelar de gritar dava um saricotico no coitado. O fogueteiro começava a tremer e não conseguia acender o rojão. Quando alguém propenso a falar palavrão abria a boca caia um dente, o metido a besta ficava só no besta, os corruptos doavam o fruto de suas negociatas.
Que coisa! A cidade não prosperava porque menos de um por cento de seus habitantes estava contaminada com esse estranho vírus. Tão poucas pessoas causando a decadência de tantos, atravancando o sonhado progresso e se achando donos de corações, mentes e cofres. Uma pequena dose de SEMANCOL resolveu um problema tão antigo. Viva aos cientistas americanos… Hei! Nada de soltar foguetes.
Gastão Ferreira
Obs.:- Esse texto é ficção, nada a ver com nossa realidade, mas caso existam os menos de um por cento:- Já passou da hora de tomarem SEMANCOL.
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.