Tempo de vento

É uma casa abandonada, uma tapera perdida num fim de mundo, no passado foi uma luxuosa residência muito bem cuidada… Quando Etelvina foi envenenada tudo mudou. Vina a futura esposa de Leandro, a que jamais usou o branco vestido de noiva, veste com a qual desceu à sepultura.

Não era ela a mulher que rondava o casarão em época de ventania, e que anunciava a chegada do vento minuano, Etelvina tinha uma negra história para contar, historia da qual fizera parte…

Filha do primeiro casamento do coronel Deodoro com Maria Luiza de Albuquerque Lins, aquela que fugiu com o jovem vigário e da qual nunca mais se soube notícias.

Diz as más línguas, que o coronel mandou matar o casal, o que se sabe é que Deodoro casou com Amanda Diogo alguns meses após o desaparecimento da bela Maria Luiza, e que Amanda estava grávida das gêmeas Paloma e Palmena.

Etelvina foi prometida à Leandro, filho do coronel Afrânio, que a escolheu como a moça que ele desejava para ser a esposa de seu herdeiro…

Leandro não amava a jovem, ele amava Palmena, mas quem amava Leandro era Paloma. Tudo aconteceu na fria noite do noivado de Leandro e Etelvina, na primeira noite em que o vento minuano soprou; Paloma colocou veneno em uma garrafa de vinho, a garrafa que ficava frente à cadeira da noiva, ela jamais imaginou que seu pai, sua mãe, o pai e a mãe de Leandro, ergueriam um brinde junto ao casal de noivos; os seis faleceram de forma horrível entre dores e golfadas de sangue…

A tragédia acabou com a festa de noivado, Paloma num gesto tresloucado encheu uma taça com a bebida envenenada, gritou seu amor por Leandro, confessou seu crime, bebeu da taça e morreu… Palmena perdeu os sentidos, jamais voltou do desmaio.

O espírito de Etelvina foi socorrido pelo espírito de sua mãe Maria Luiza, Paloma se agarrou em Leandro, Leandro abraçado a Palmena tentava acordá-la…

Paloma enlouquecida correu para fora do casarão e o vento minuano a envolveu, e a levou embora, mas a cada ano quando ele volta a soprar ele trás consigo o espírito de Paloma que ao recordar a sua maldade chora e pede perdão do mal praticado…

O casarão abandonado está deteriorado; ninguém passa frente a tapera em noites de ventania, todos temem o fantasma de Paloma.

 

Gastão Ferreira
– Imbé/RS –
2025

 

💬 Comentário sobre o conto:
Tempo de Vento é um conto que combina tragédia, romance e elementos sobrenaturais, ambientado em um casarão marcado por um passado sombrio. Inspirado pelo vento minuano, símbolo do frio e da saudade no sul do Brasil, o autor conduz o leitor por uma história de amores cruzados, vingança e arrependimento eterno. A figura de Paloma, que retorna com o vento pedindo perdão, transforma a tapera em um lugar onde o tempo não apagou a dor — apenas a escondeu entre as paredes e o silêncio das noites de ventania.

Deixe um comentario

Livro em Destaque

Categorias de Livros

Newsletter

Certifique-se de não perder nada!