TEXTO PARA TEATRO AMADOR


A VINGANÇA

TEXTO PARA TEATRO

MARIETA – ATO I

(Na sala uma mesa coberta até o chão, sobre a mesa um manequim coberto com um lençol… Algumas cadeiras… Acendem-se as luzes… Umberto sai debaixo da mesa)

Umberto – (Saindo espantado debaixo da mesa)- Como vim parar nesse
lugar? Que estou fazendo aqui? Estava jantando com Marieta,
um belo risoto de mariscos e agora acordo embaixo de uma
mesa… Sozinho… Não tão sozinho… Parece que tenho uma
companhia (levanta o lençol)… Meu Deus! Sou eu… Claro que
é eu!… Frio!… Mortinho!… Mortinho?(baixa o lençol)… Deve
ser uma brincadeira de mau gosto! Uma pegadinha imbecil
para algum programa de TV. Onde estão as câmeras?(olha em
volta da sala)… Pois que se danem! Vou esperar sentado e
estragar essa palhaçada. (senta na cadeira frente à mesa)

(Entra Marieta toda de preto… Lenço preto nas mãos… levanta o lençol)

Marieta – Morto e bem morto! Descanse em paz Umberto. Espero que
tenha gostado do risoto de marisco! Nada como um veneninho
básico para dar fim a um marido indesejado… Agora é a vez da
viúva inconsolável (passa o lenço preto nos olhos)

(Entra Neyde… Amante secreta de Umberto – Vai até o morto)

Neyde – Não acredito! Umberto mortinho… Mortinho! O que será de
mim sem a mesada mensal? Terei que vender o carro?
Voltar a rodar bolsinha? E essa Marieta milionária! Essa burra,
essa anta… Essa coisa ridícula!

Marieta – Boa noite Neyde?

Neyde – Boa noite dona Marieta! Vim aqui me despedir do doutor
Umberto…
2)

Marieta – Estranha a sua atitude Neyde! Lembro que abandonou o
emprego em nossa casa por não aturar os modos rudes de
Umberto e agora tantos meses depois aparece assim… Do nada
e fica assim chocada ao vê-lo defunto!

Neyde – Sabe dona Marieta! Não devemos guardar mágoas… Assim que
fiquei sabendo do falecimento do doutor, pensei! É melhor eu pedir desculpas ao mortinho… Vá que depois me venha
assombrar!

Marieta – Bobagens Neyde! Umberto morreu e acabou… Que será de
mim sem meu adorável esposo?

Neyde – Oh dona Marieta! A senhora tão rica! Tão jovem! Logo há de
superar esse trauma.

Marieta – Não sei! Não sei! Minha boa Neyde. Sem Umberto minha vida
não terá sentido… Estou confusa… Magoada… Você poderia
ficar um pouco mais aqui enquanto vou a sala ao lado tomar
um comprimido?

Neyde – Claro que sim dona Marieta! Fique a vontade…

(Marieta sai… Neyde se aproxima do caixão… Levanta o lençol)

Neyde – Cachorro! Pilantra! Enganou-me esse tempo todo dizendo que
não era amado pela esposa… Empregou-me como doméstica
no próprio lar… Falsificou meus documentos… Mudou meu
nome… De Clarisse virei Neyde por amor! E você mentiu…
Mentiu… Mentiu!

(O espírito de Umberto se aproxima de Neyde… Passa a mão em seus
cabelos)

Umberto – Clarisse!… Clarisse!… Eu não menti! Marieta me matou… Me
envenenou… Me assassinou!
3)

Neyde – Cruz credo! Senti um arrepio… Um toque nos cabelos… Um
sussurro…Será que Umberto ainda está por aqui?

Umberto – Clarisse! Meu único amor… Vingue-me… Vingue-me… Marieta
não presta… Não presta… Ela me assassinou… Me assassinou!

Neyde – Ai! Já to ficando com medo. Parece que ouço a voz de meu
Umberto dizendo que me ama e que foi assassinado!Será
possível que a anta da Marieta chegou a tanto com seu ciúme
doentio? Vou especular melhor e tomar as providências
cabíveis…

(Marieta voltando)

Marieta – Neyde! Pode se retirar e obrigada pela demonstração de afeto
a minha pessoa…

Neyde – Vou ficar mais um pouco… Fazer companhia a senhora nessa
hora de dor…

Marieta – Fique então! Preciso desabafar com alguém…

Neyde – Tudo bem dona Marieta! Sou toda ouvidos…

Marieta – Sabe Neyde! Eu amei muito a Umberto… Conhecemos-nos
numa praia e foi amor a primeira vista, contra a vontade de
meu pai casei…

Neyde – Seu pai era contra o casamento?

Marieta – Sim! Papai afirmava que Umberto era um caça dotes, um pé
rapado querendo dar o golpe do baú…Briguei feio com papai,
ele contratou um detetive para seguir Umberto…

Neyde – E descobriu alguma coisa?

Marieta – Papai foi assaltado… Reagiu e foi morto. Eu herdei sua imensa
fortuna e uma semana depois casei-me com Umberto.
4)

Neyde – Foi feliz dona Marieta?

Marieta – Sempre!… Umberto foi um excelente esposo, nunca deu
motivos para ciúmes… Adorava-me…

Neyde – Mas quando trabalhei em sua casa muitas vezes a via triste
alheia à tudo… Desgostosa da vida.

Marieta – Sim! Era verdade… Um dia descobri alguns relatórios entre os
papéis trancados em um cofre no escritório de papai…

Neyde – Relatórios num cofre?

Marieta – As informações que o detetive levantou sobre Umberto…

Neyde – Nossa! As informações que seu pai pediu?

Marieta – Lendo as informações minha vida mudou completamente…

Neyde – Doutor Umberto não era o que a senhora julgava ser?

Marieta – Primeiro Neyde, o tal doutor Umberto nunca existiu, seus
documentos pessoais eram falsos… Seu nome verdadeiro
era Eriberto Martins…

Neyde – Eriberto Martins?

Marieta – Sim!Um terrível psicopata que matou mais de trinta mulheres…

Neyde – Tem certeza dona Marieta? Doutor Umberto parecia uma
pessoa tão sensata.

Marieta – Tudo falsidade querida! E caso você for a minha casa vou lhe
mostrar as provas…

Neyde – Dona Marieta! Estou apavorada… Como a senhora chegou a
essa conclusão?
5)

Marieta – Os relatórios informavam que o método usado pelo tal
Eriberto Martins era enganar pobres moças com promessa
de casamento e falsas juras de amor… Tirou algumas fotos de
Eriberto e suas acompanhantes… Todas acabaram mortas e
todas foram esquartejadas. Todas as namoradas de Eriberto
tiveram um triste fim… Namorava várias ao mesmo tempo…
Algumas por anos a fio, mas todas morreram de forma sinistra.

Neyde – Dona Marieta! Esse Eriberto era um monstro… O tal detetive
não informou as autoridades?

Marieta – O detetive foi assassinado no mesmo dia em que meu pai foi
morto…

Neyde – Que horror! E tudo isso estava nos relatórios?

Marieta – Não Neyde! Consegui a muito custo descobrir o código do
cofre de Umberto e durante uma de suas estranha ausências
abri o cofre e fotografei tudo…

Neyde – Tudo?

Marieta – No cofre encontrei mais de trinta documentos pessoais de
moças que haviam desaparecido misteriosamente…

Neyde – Tem certeza?

Marieta – Contratei um ex policial para fazer o levantamento e ele
descobriu que dos trinta e cinco documentos, trinta e quatro
das meninas estavam desaparecidas…

Neyde – Meu Deus! Dona Marieta. O homem era um monstro, quer
dizer que escapou apenas uma?

Marieta – Sim! Dessa o policial nada descobriu, talvez seja a última vítima
de Umberto… Tomara que nada tenha ocorrido com a moça…
Mas ele vasculhou em todos os locais possíveis e nada
encontrou…
6)

Neyde – Dona Marieta! Posso saber o nome da moça?

Marieta – Ah Neyde! Acho que já falei demais… Isso poderá atrapalhar
as investigações. Bem! Por favor, guarde segredo e não conte
para ninguém… O nome dela é Clarisse!

Neyde – Meu Deus! Clarisse?

Marieta – Você ficou pálida Neyde! Você conhece alguma Clarisse?

Neyde – Não! Não! Nenhuma. Dona Marieta eu já estou indo… Ainda
bem que esse cretino morreu.

(Neyde passa frente à mesa… Levanta o lençol, olha o rosto do morto e
diz:- Cachorro!… E vai embora)

(Marieta se aproxima da mesa… Também levanta o lenço… Olha o morto)

Marieta – Vamos aguardar a próxima!Essa acreditou na falsa história:-
Cachorro!

(Fim do primeiro ato)

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A VINGANÇA

UMBERTO – ATO II

(Marieta sentada numa cadeira bem longe da mesa, a beira do palco, lê um livro… O espírito de Umberto levanta do local onde está sentado e se aproxima de Marieta)

Umberto – Sua cadela!… Cretina!… Eu te tirei da sarjeta!… Você não era
nada!… Nunca foi nada!… O máximo que você conquistou foi
um título de miss simpatia que eu comprei! Eu comprei!… Eu
comprei! Te dei o meu nome… Um nome honrado… Um nome
de bem!Te dei carros… Jóias… Viagens… Um palácio para
morar… Empregados… Luxos… Tudo o que uma mulher pode
sonhar! E o quê eu ganhei com isso? O quê eu ganhei? Ser
envenenado em meu próprio lar!… Eu nem sei o quê está
acontecendo! Vejo-me morto sobre a mesa, mas eu estou aqui
vivinho da Silva!Mas não vou deixar barato… Eu quero justiça.
Eu exijo justiça… JUSTIÇAAAAAA…

(Entra na sala um homem todo de preto com o rosto pintado de branco, uma capa comprida (tipo vampiro) e vai ao encontro de Umberto)

Junior – Chamou por justiça?… To aqui!

Umberto – Opa!… Opa!…Quem é você?

Junior – Sou o encarregado de te conduzir ao Tribunal?

Umberto – Que tribunal meu caro? Quem precisa de um Tribunal?

Junior – Ué! Você não gritou JUSTIÇAAAAA!… E eu vim!

Umberto – Eu não quero ir a nenhum Tribunal… Essa mulher me
assassinou… Destruiu meus sonhos… Tirou minha vida…
Eu quero é me vingar… Acabar com essa mocréia… É isso
que eu quero… E se manda do meu velório coisa ruim!

Junior – Nãnãnã… Nana! Nada feito eu vim te buscar para falar com
o chefe. O nosso chefe!

Umberto – Que chefe cara? E eu lá tenho chefe.

Junior – Tem sim!… Você não vivia pedindo mil favores as forças da
escuridão?

Umberto – Eu? … Eu?

Junior – Você sim! Temos tudo gravado… Ou vem por bem ou vai por
mal!… Acompanhe-me!

Umberto – SOCORRO! Alguém me ajude… Eu não quero ir junto com esse
demônio!… SOCORRO!

(Entra um novo personagem, esse todo de branco e com um grande livro nas mãos)

Carlos – Alguém pediu socorro? Posso ajudar em algo?

Umberto – Eu pedi socorro!… Essa figura quer me levar à força para um
tal Tribunal.

Carlos – Oi Junior! Você como sempre chegando primeiro!

Umberto – Meu! Vocês se conhecem? Isso é um complô?

Carlos _ Calma!… Calma Umberto!Junior é um grande amigo seu…

Umberto_ Meu amigo? Nunca vi esse sujeito na vida!

Carlos – Na vida não! Mas agora estamos na morte e era ele o
mensageiro de seus pedidos para os das trevas…
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Junior – É isso amigão! Você vivia pedindo bens materiais… Poder…
Dinheiro… Umas macumbinhas básicas para se livrar dos
inimigos, acabar com desafetos, arrumar belas mulheres,
aprontar todas e sair impune…

Umberto- Era tudo de brincadeira! Nunca levei a serio esses tolos pedidos.

Junior – Não interessa! Eu realizei os seus desejos… Agora você é meu…

Umberto – Que negocio é esse de “Agora você é meu!”… Comigo não
violão! Tem prova que eu pedi alguma coisa?… Tem? Tem?

Junior _ Ai Carlão! Abre o livro…

Umberto – Carlão? Livro?

Junior – Carlão é do bem! É o que anotava tudo o que você fazia para
acompanhar sua evolução no planeta…Era, digamos, o seu
Anjo da Guarda.

Umberto – Carlão meu amigo! Meu guardião… Meu camarada, me livra
desse coisa ruim… Me livra!

Carlos – Não posso Umberto! Você feriu muitas leis… Não se
comportou direito… Não fez o bem… Só se aproveitou das
pessoas… Ofendeu a vida…

Umberto – Não foi bem assim! Eu até que fui uma pessoa honesta…

Junior – Kkkkkkkk…Kkkkkk… Honesta? Mostra para ele Carlos…
Mostra no livro!

(Carlos abrindo o livro e procurando alguma coisa)

Carlos – Vejamos uma página qualquer… Não!… Não!… Vamos espiar o
inicio… Você Umberto foi coroinha da Igreja Matriz…

Umberto – Fui um coroinha exemplar…
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Carlos – Não é o que consta aqui no livro… Aqui diz que você roubava o
dinheiro das ofertas…

Umberto – Eu? Eu?

Carlos – Olha aqui essa foto! Não é você roubando?

Umberto – Caramba! Vocês filmavam tudo?

Carlos – O tempo todo… O tempo todo…

Umberto – Tive meus motivos! O padre era um pedófilo…

Carlos – Umberto!… Umberto! Pare de mentir. Nós sabemos de tudo e
você acabou com a reputação do padre, assim como fez com
muitos desafetos…

Umberto – Eram coisas de criança! Mas depois melhorei…

Junior _ Oh! E como melhorou. Carlão mostra para ele a parte
quando foi eleito para um cargo municipal…

Umberto – Essa parte é boa! Fiz muitos benefícios para a cidade…

Carlos – Falcatruas… Mensalinhos… 10%… Compra de votos…

Umberto – Haha! Eu fiz um monumento…

Carlos – Mas subfaturou e ficou com 90% das verbas…

Umberto – Mas fiz!… Não fiz?

Carlos – Fez! Fez!… Mas roubou o que não era seu… Prejudicou a
cidade…

Umberto – Como prejudicou a cidade?

Carlos – Se você não tivesse subfaturado e ficado com a grana para
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comprar um carro novo, viajar de navio, comprar uma bela
mansão… Quanta coisa boa em beneficio da cidade poderia
ter sido feito com esse dinheiro… Melhorias na saúde, um
velório público, uma melhor coleta de lixo, mais merenda
escolar… Na verdade você se tornou um devedor da
sociedade… Você foi um péssimo exemplo de cidadão, um
corrupto, um ladrão, um salafrário, um falso que afrontou
a vida…

Umberto – Afrontou a vida? Eu sempre cuidei muito bem da vida. Cerquei
o meu mundo com o que havia de melhor, plantei árvores,
cuidei de jardins, tratei muito bem dos animais…

Carlos – Sim! Você cuidou muito bem da sua vida, das suas árvores, dos
seus animais… Comeu e bebeu do melhor com o suor alheio,
achava que o mundo era só seu, orgulhoso, vaidoso, arrogante
e prepotente… E ainda grita por SOCORRO! Quem você pensa
que é? Você pensa que toda a dor que causou não tem um
preço? Que o mal não se cobra? Que não existe justiça?

Umberto – Tudo bem! Eu assumo que fui um canalha… Que me aproveitei
das pessoas, que menti, que enganei, que roubei. E daí? E daí?

Carlos – Junior! O cara é seu… Pode levar para a escuridão

Junior – Vem Amor! Chegou a hora de pagar a conta…

Umberto – Que conta? Que conta?

Junior – A conta dos favores prestados ou você acha que te ajudamos
de graça? Você alguma vez ajudou alguém de graça?

Umberto – Meu Deus! O que eu fiz!

Carlos – Não chame o Deus que você negava dentro de você… Tenha
respeito por nosso criador que te deu um bom pai, uma boa
mãe, te cercou de bons exemplos… Colocou-me ao teu lado
para inspirar boas obras… Amigo! Você faliu…
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Junior – A toda a ação corresponde uma reação… Até pagar todo o mal
feito na Terra você não terá um minuto de paz… Será escravo
da escuridão… A degradação e o sofrimento vão começar…

Umberto – E ela? E ela? A minha assassina vai continuar livre e se apossar
do que conquistei com tanta mentira e esforço?

Carlos – Ela não é mais um problema seu Umberto…

Umberto – Como não? Se ela me matou!

Carlos – Agora ela é um problema da vida… Aliás, tudo o que ela sabe
aprendeu com você…

Umberto- Comigo?

Carlos – Sim! Com você. Quando Marieta apareceu em sua vida era uma
mocinha ingênua, sonhadora… Foi através dos seus péssimos
exemplos que ela se tornou nessa mulher vaidosa, orgulhosa,
essa predadora que afasta com um veneno mortal quem
atrapalha seus sonhos… Foi você quem transformou Marina no
que ela é hoje…

Umberto – Carlos! Meu amigo e protetor… Deixa-me voltar… Deixa-me
voltar para tentar desfazer todo o mal que fiz… Eu não tinha
idéia de quanto mal eu causei…

Junior – Deixa de ser falso Umberto… Você sempre soube muito bem o
que fazia… Quantas vezes ouvi você dizendo que assumia os
os seus atos…

Carlos – Umberto! Os amigos que vivem na luz cansaram de ajudar…
Mandar pensamentos bons, intuir o bem… Falhamos com você,
você escolheu o sofrimento… Agora é à hora de pagar o preço.
O preço que você mesmo se comprometeu a pagar.

Umberto- Não! Não!… Eu quero uma chance para mostrar que posso ser
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realmente bom, que posso ser humilde, simples, honesto, que
posso me tornar uma pessoa melhor, que posso ajudar aos
meus semelhantes, que posso compartilhar da vida sem
maldade… Carlos me dê essa nova chance!

(Umberto baixa a cabeça e chora)

Carlos – Um dia… Num tempo que ainda há de vir você terá essa chance
novamente… A vida é eterna e todos caminham para a
perfeição.

Junior – Vamos aguardar a hora do sepultamento e depois seguiremos
A viagem…

Carlos – Junior! Cuide bem do meu amigo…

Junior – Não se preocupe! Enquanto não aprender através de todos os
sofrimentos a respeitar a vida, não se livrará de nós e daqui há
alguns séculos quando estiver pronto para a próxima viagem
entrarei em contacto… Até breve irmão!

Carlos – Até breve! Agora irei até a casa de nosso Pastor… Irei triste! Pois
terei que noticiar que mais uma ovelha se desgarrou.

(Fim do Ato II)

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A VINGANÇA

AOS VIVOS – ATO III

(Entra Nestor, secretário de Umberto e vai olhar o defunto)

Nestor – Esse já era! Nunca mais vai atrapalhar nossos planos…

Marieta – Foi uma pena termos que nos desfazer de Umberto…

Nestor – Está arrependida Marieta? Afinal não foi o primeiro…

Marieta – Realmente não foi o primeiro que matei, mas foi o último,
não voltarei a agir dessa maneira… A fortuna de Umberto
é imensa e posso tocar a vida sem preocupação e ser muito
feliz…

Nestor – Está se referindo a seu tórrido romance com Jessé?

Marieta – Nestor meu amigo! Estou tão feliz. Finalmente encontrei um
homem para chamar de meu… Um tanto ingênuo é verdade,
não entendo porque você e Jessé não se suportam…

Nestor – Jessé é honesto demais para meu gosto… Quer tudo certinho,
já pensou Marieta se ele descobrir a fonte geradora da grande
fortuna de Umberto?

Marieta – Sim! Pensei sobre o assunto… Vamos aproveitar a morte de
Umberto e parar com o tráfico de drogas, também devemos
esquecer a venda de armas para as quadrilhas que assaltam
bancos e caminhoneiros…

Nestor – Pobre Umberto! Morreu sem saber que era um dos maiores

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traficantes do país…Ele nunca desconfiou Marieta?

Marieta – Nunca!… Confiava cegamente na esposa e eu me aproveitei o
máximo para usar secretamente seu nome em negócios
escusos e colocar toda a grana no exterior…

Nestor – E Neyde? Não vai atrapalhar nosso plano? Umberto amava
profundamente a tola criatura…

Marieta – Neyde Clarisse? Coitada!… Caiu feito um patinho na história
que inventei… Essa jamais voltará a aparecer.

Nestor – Umberto tão corrupto… Tão sem caráter… Sempre tentando
levar a melhor com seu eleitorado e jamais imaginou como
usamos seu nome para enriquecer…Agora que ele se foi caso
algo seja descoberto podemos jogar a culpa nele…

Marieta – Foi por isso que matei Umberto!… Estava a um passo de
descobrir nossos trambiques… Um fornecedor avisou a tempo,
a policia já começou as investigações preliminares, por isso o
corpo será cremado…

Nestor – Após a cremação uma longa viagem ao exterior com Jessé…
Caso a polícia descobrir a ligação de Umberto com o Narco
tráfico, uma viúva incrédula afirmando que nada sabia e
horrorizada com a conduta do marido comoverá as
autoridades…

Marieta – Você destruiu todas as pistas que poderiam levar a nós dois?

Nestor – Quanto a isso fique sossegada… Somos dois inocentes…
Umberto levará toda a culpa e nós sua imensa fortuna, mas
lembre-se, jamais conte a Jessé a verdadeira história…

Marieta – Óbvio que jamais contarei… Jessé é honesto em demasia… Eu
quero começar uma nova vida… Conhecer o mundo… Viajar…
Divertir-me sem culpas… Ser feliz…

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(Entra Jessé, coloca a bolsa sobre a mesa e olha o morto)

Jessé – Jamais pensei que Umberto fosse morrer tão jovem…

Marieta – Frutos do mar mal conservados são fatais e ele adorava
mariscos…

Jessé – Marieta! O responsável pela cremação quer falar com você e
está aguardando lá fora…

Marieta – Vou até lá… Volto já e, por favor, não briguem meninos…

( Sai Marieta… Nestor olha para Jessé… A linguagem corporal muda)

Nestor – Ulálá! Vencemos amor…

Jessé – Reservou o hotel?

Nestor – Daqui a quinze dias… Paris!

Jessé – Não vejo a hora de andar de gôndola…

Nestor – Gôndola é em Veneza amor…

Jessé – Nossa eu nem sabia… Vamos repassar o planejado?

Nestor – Siga corretamente as minhas instruções… Amanhã vocês
seguem em vôos separados para o exterior… Casem-se
imediatamente… As passagens para a lua de mel em um
luxuoso transatlântico já estão reservadas… Na primeira
oportunidade mate Marieta… Jogue-a pela amurada…
Mostre-se um viúvo inconsolável… Um helicóptero irá
apanhá-lo no navio… Uma passagem de avião para Paris está
reservada em seu nome… E voilá! A felicidade nos espera.

Jessé – Não sei o que seria de mim se não tivesse conhecido você
Nestor?

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Nestor – Provavelmente ainda seria um simples garoto de programas…

Jessé – Você é um gênio! Convenceu Marieta a entrar no negócio das
drogas… Ganhou rios de dinheiro…Me apresentou a esposa
mal amada e finalmente o grande desfecho:- O assassinato de
Umberto…

Nestor – O que não se faz por amor!

Jessé – Não se preocupe Nestor! Serei eternamente grato e farei de
você o cara mais feliz do mundo… Eu juro!

Nestor – Eu sei! Tenho tanta certeza de seu amor que nossa conta é
conjunta… Quer uma prova maior de confiança?

Jessé – Eu agradeço… Jamais darei motivo para desavenças em nosso
relacionamento… Tenho tanto a aprender com você meu gênio
do mal…

Nestor – Não vá esquecer o combinado… Case… Mate a mocréia e toda
a fortuna de Umberto e Marieta será nossa… Ela está voltando.

(Entra Marieta com ar feliz)( Nestor e Jessé estão de costa um para o outro)

Marieta – Mais alguns minutos e o corpo seguirá para cremação… A única
coisa que me deixa triste é essa rixa entre vocês dois…

Nestor – Não adianta Marieta!… Não suporto esse menino… Acho que
meu santo bateu de frente com o dele, só aceito ficar perto
desse sujeitinho pela amizade que tenho por você, mesmo
assim quero vê-la feliz amiga… Vamos? Está na hora da
cremação…

(Saem Marieta e Nestor… Jesse vai pegar sua bolsa que está sobre a mesa e se aproxima do defunto – Olha para o cadáver… Passa a mão
no rosto do morto)

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Jessé – Adeus Umberto… Que descanse no inferno! Seu pedófilo…
Eu nunca te esqueci… Jurei destruir a todos vocês, Marieta
é só uma peça nesse jogo… A próxima vitima será Nestor.

(Sai Jessé e ficam Umberto e Junior)

Umberto – Que podridão… Que podridão… E eu participei disso tudo…
leve-me para o inferno Junior… Lá deve ser bem melhor do
que aqui.

Junior – São apenas crianças espirituais brincando de viver… Um dia
crescerão e aprenderão a respeitar a todos… Eu também
tenho os meus pecados secretos e sei que fora do grande
mandamento:- “ Amar a todos como a si mesmo” não
existe outro caminho para a casa do Pai…

(Umberto cansado coloca a cabeça no ombro de Junior que o retira de
cena… A luz apaga e a vida continua)

FIM

Gastão Ferreira/Iguape/2010

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