UMA NOBRE VISITA
A Princesa do Litoral passou novamente pela cidade. Dessa vez chegou de barco, o qual ancorou atrás do CITUR:- Meu Bonje!Josephus, que pobreza, veja os guarda carros municipais… Tão mal vestidos.
– Esses não são guarda carros Majestades! São mendigos que estão prestando um belo trabalho comunitário, protegem os veículos de assaltos e vandalismos…
– O quê? Já temos isso nessa cidade pacata!
– Ainda não! Mas os proprietários das conduções não sabem…
– Mas Josephus! Sujinhos assim não vão afastar os turistas?
– Que turista majestade? Faz um bom tempo que por aqui só aparece meia dúzia de gatos pingados…
– Meu Bonje! Onde foram parar os turistas?
– Por incrível que pareça em Cananéia…
– O quê? Foram para aquela cidadezinha onde dizem que nem o vento presta…
– Pois é! Ela está recebendo muitos turistas… Ruas limpas, bem arborizadas, segurança e bons preços…
– Você deve estar enganado! Vamos até a praça da matriz.
– Vamos devagar majestade… Aprecie o passeio… Não se canse… A senhora vai fazer 471 anos em dezembro…
– Veja Josephus! Você estava enganado, os hotéis estão lotados, tem pessoas dormindo até na calçada…
– São pedintes majestade! Toda a semana aparece mais alguns…
– Meu povo continua generoso, adora alimentar quem não gosta de pegar no pesado…
– Não fale tão alto majestade! Vá que ouçam e pensem que seja uma carapuça, vai sobrar para a senhora…
– Josephus! Meu coreto! Que aconteceu com meu amado coreto?
– Calma majestade! Para tudo existe uma explicação. Seu coreto foi destruído…
– Isso eu já reparei! Mas como? Caiu um raio encima?
– Não Majestade! Sua cidade agora faz parte do patrimônio histórico nacional…
– Oh! E o velho coreto não fazia parte da praça?
– Sim! Mas não pertencia ao período tombado…
– Mas Josephus! Os nomes na placa também não pertencem ao tal período… Olhe aquele nome ali… Eu conheço… Eu conheço.
– Majestade! Vai sobrar para mim… É melhor sairmos da praça…
– Nem pensar! Vou imediatamente me queixar ao Bonje e resolver esse problema…
– Majestade! Tenho uma péssima notícia a vos dar…
– Pior do que o fim do coreto? Pior do que esses sem tetos e sem banhos dormindo nas laterais do templo? Pior do que o lixo no lagamar? Pior do que a falta de turistas? Pior do que a falta de perspectiva que noto no rosto dos cidadãos? Pior do que essas velhas árvores peladas? Ora Josephus! Me poupe…
– Majestade! O Bonje foi embora…
– Oh! Não… Não… Não!
– Majestade! Majestade!… Desmaiou.
Gastão Ferreira
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.