Algo que chama a atenção em Iguape é a imensa criatividade de nossos cidadãos. Desde artes cênicas, artesanatos, música, festas e eventos o iguapense se destaca pela originalidade. Na atualidade, numa civilização globalizada possuímos esse diferencial. Nos antigos carnavais anteriores ao ano de 1985 lembro das fantasias com que muitos foliões nos brindavam. Fantasias criativas que encantavam crianças, adultos, turistas e as quais ficavam na memória por meses. Alguns cidadãos acima de qualquer suspeita se vestiam de mulher e ficavam passeando na praça. Não mexiam com ninguém, não partiam para a baixaria, simplesmente estavam travestidos e respeitavam a todos.
Seu Domingos do Funil de Baixo era procurado pela criatividade, O Nicanor da prefeitura, O Paulo Mijada e o Edson com suas caricaturas de homens da mala, o senhor desconhecido que era metade boneco e metade gente, a mulher bunda desfilando e correndo atrás da meninada, o Xixilá vestido de diabinho na lateral da igreja matriz dando garfadas na criançada. Famílias inteiras fantasiadas e divertindo-se juntos. O carro alegórico da turma do Peixinho despachante que era aguardado com a novidade do ano. A quem iriam satirizar?
Imagino como eram nossos velhos carnavais em sua simplicidade e alta criatividade. A época a que me refiro, anos 80, nenhum bloco era subsidiado e turistas vinham aos milhares e traziam suas famílias e fantasias, pois o divertimento era garantido.
Algumas pessoas não acreditam que fazemos parte do Vale do Ribeira, o rincão mais pobre do Estado de São Paulo e teimam em concorrer com as escolas de samba de cidades mais privilegiadas, como se os ricos turistas desistissem do Rio de Janeiro a nosso favor. Nossos donos esquecem que temos o essencial para um ótimo carnaval, a criatividade de nosso povo, que bastando um pequeno incentivo teria um maravilhoso e divertido carnaval, único em todo o estado pela maneira de ser.
Mas os donos de nossa cultura não admitem opiniões divergentes das suas e partem para a agressão verbal tornando difícil o convívio social. Numa cidade onde um pequeno grupo faz o que bem quer sem dar satisfação aos demais munícipes algo está errado. Senão vejamos:
1)- Monumento na Praça da Matriz:Um monumento no principal logradouro público é algo muito serio,algo para servir de ponto de referência e orgulho da população. Um monumento para ser admirado, comentado, fotografado e elogiado. Um monumento que merecia uma consulta popular. O que o povo quer ver? O que o povo gostaria de ver exposto na sua praça?Não!… Não. O povo é ignorante e nada entende de arte, não deve jamais ser consultado. Só que o povo de mau gosto que não serve para opinar, serve muito bem para votar e pagar impostos. Serve também para aplaudir e ficar calado. Somos cidadãos que quando tentamos exercer nossa cidadania somos apontados como inimigos vilipendiados e retaliados.
2)-Carnaval: Um carnaval diferenciado seria a solução para nosso turismo. Incentivar a população a comparecer fantasiada na praça. Um bom prêmio em dinheiro vivo para as melhores fantasias. Um júri composto por turistas, nada de colocar apadrinhados e amigos da realeza para julgar os foliões. Explorar o máximo esse diferencial único que é a nossa criatividade e investir na novidade. Nós não estamos em Recife, Rio de Janeiro, Baia. Nós estamos num local pobre de recursos, mas rico de criatividade. Deixem de serem egoístas, de sonharem com a primeira página dos jornais, isso é coisa para gente mesquinha e espíritos de porco que oferecem falsos sonhos sabendo que são falsos. Ninguém ganha fama duradoura a custa dos outros, o mundo é bem maior que nossa pequena cidade e aqui tem purpurina para todos.
O que falta em nossa cidade é uma cobrança de nossos direitos, hoje temos leis que protegem a cidadania. Ninguém é dono de uma cidade, as pessoas não são ovelhas para tosquiar, débeis mentais que necessitam de protetores. É a mediocridade que está nos sufocando. Nem todos os seres nascem para voar. Vamos aplaudir os que voam, mas não vamos dar asas às cobras. O ódio gratuito, a inveja, a prepotência e a baixaria moral nunca somaram nada de positivo, mas jamais esqueçam que todos têm o direito à vida e ao sonho.
Gastão Ferreira
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.