A BALSA


A BALSA

Foi o maior navio construído na região, imenso, majestoso. Batizaram-no com um nome feminino:- Princesa do Litoral.
Seus primeiros comandantes enfrentaram piratas, índios, revoltas, motins e guerras. Comercializavam com o mundo. Por seu porão passaram produtos vindos de Portugal, Inglaterra, Estados Unidos, China e Japão. Os passageiros da primeira classe nas festas espalhavam ouro em seus cabelos, vestiam-se a moda européia e eram tidos como referencia de bom gosto.
Com o passar do tempo o navio foi perdendo o prestígio. Primeiro esmaeceu a cor e lá se foi Eldorado, após uma terrível tempestade perdeu umas Sete Barras e por fim seu Registro também foi anulado. O navio virou um caco, fazia água, adernava, mas mantinha a pose e pose para quem vivia dela, era tudo.
O grande navio foi sucateado e com suas partes ainda aproveitáveis construíram outras embarcações mais modernas. Para não perderem nenhum material o coração da nave foi transformado em uma balsa que manteve o imponente e belo cognome:- Princesa do Litoral!
A balsa, menor e mais leve continuou singrando as águas revoltas do mar da vida. Muitos passageiros importantes dela não mais faziam uso e assim foi sendo paulatinamente esquecida. Os que diariamente se utilizavam da balsa,não se deram conta desse fato e continuaram acreditando que ela era o centro do mundo e o tempo foi passando.
Quem conhece a verdadeira origem da balsa, aquele navio privilegiado, não consegue entender tantas perdas. Como os seus donos permitiram a sua destruição? Por que não lutaram contra a adversidade? Alguém deve ter lucrado muito com isso tudo!
Hoje, revendo esses fatos e a luz de novos conhecimentos se pode chegar a uma conclusão. A razão do fracasso estava nos comandantes e imediatos que capitaneavam a embarcação. Tanto no passado como na atualidade os que comandam se acham no direito de fazerem o que bem querem, crendo erroneamente que são os únicos a amarem a velha balsa e a conduzem a seu bel prazer. Quando questionados ofendem-se e encaram os demais passageiros como inimigos, se fazem de espertos e se utilizam da balsa como propriedade particular.
Enquanto a totalidade dos passageiros não entender que são eles os verdadeiros donos, os que pagam os estragos, a manutenção e as melhorias.Que quem comanda são meros empregados e devem dar satisfação de seus atos aos proprietários,a balsa continuará sendo o que sempre foi; – Um meio pelo qual uma minoria privilegiada atravanca o progresso e garante para si e os seus um ótimo e seguro futuro.
O ideal é continuar lutando para que a balsa funcione cada dia melhor. Os comandantes e imediatos vem e vão, mas os passageiros permanecerão os únicos donos e não podem abdicar do direito de exigir o que é de seu, jamais esquecendo que foi o desinteresse que sucateou o navio do passado e o transformou na balsa atual.

Gastão Ferreira

Deixe um comentario

Livro em Destaque

Categorias de Livros

Newsletter

Certifique-se de não perder nada!