DITINHA GIGLIO/ HOMENAGEM


DITINHA GIGLIO

Meu nome é memória. Sou a guardiã da história do homem. Estou presente desde o momento em que o primeiro ser pensante ergueu os olhos para as estrelas e perguntou:- Quem sou?
Sou o arquivo de tudo o que existe, de tudo que pensa, de tudo que vive, acompanho cada criatura do berço ao túmulo. Eu sou a memória e conheço Ditinha Giglio e partilho de seus sonhos. Lembro de seu pai Floramante Regino Giglio, comerciante, dono do engenho de arroz que ficava onde é hoje a pizzaria Canal na Beira do Valo, político, três vezes prefeito, filho de imigrantes italianos, teve quatorze irmãos e foi capitão da Guarda Nacional. Recordo a mãe de Ditinha, Maria do Carmo de Toledo Giglio com seus oito filhos e dos dois que sobreviveram à primeira infância.
Lembro Ditinha estudando inglês, das aulas de piano, das serestas, das viagens ao Rio de Janeiro que demoravam cinco dias. No primeiro dia o vapor saído de Iguape navegava o rio Ribeira até Registro e por lá pernoitávamos. No segundo dia ainda de vapor chegávamos a Juquiá e a noite cantávamos, fazíamos serestas e a felicidade era cúmplice de nossas inocentes brincadeiras juvenis. No terceiro dia era o trem até Santos e no quarto dia também de trem alcançávamos São Paulo. Não havia estradas e de São Paulo ao Rio de janeiro mais doze horas de trem.
Bons tempos, tempos felizes… Geraldo saudável, Ditinha jovem… Geraldo único irmão sobrevivente formara-se em contabilidade no Rio de Janeiro e passou a estudar Direito no Largo São Francisco em São Paulo… Eu lembro Geraldo afastando-se de mim, apagando da mente as lembranças, os sonhos e se perdendo por caminhos desconhecidos.
Lembro dos lampiões de gás, dos bois pastando na Praça São Benedito, dos bailes, teatros e clubes… Da revolução Constitucionalista de 1930 e Ditinha como voluntária da Legião Brasileira de Assistência. Lembro da Iguape de outrora, dos passeios na Fonte, dos muitos amigos, de seu noivo falecido e dos sonhos perdidos.
Recordo Ditinha funcionária pública, leitora voraz, soltando a voz no coro da igreja da matriz e lembro Ditinha ao entardecer. Suas lembranças são minhas, guardo comigo seus sonhos, seus fracassos, suas vitórias e juntas sentamos no alpendre e olhamos a Praça São Benedito e visitamos o passado e corremos crianças pela praça vazia de sonhos e rimos e choramos.
Eu sou a memória, o arquivo da vida, eu não minto, eu não invento… Eu anoto e recordo. Hoje sou apenas uma pequena chama na grande fogueira em que nos consumimos em que nos purificamos das vaidades em que transformamos nosso personagem em herói ou vilão… Benedicta de Toledo Giglio, uma amiga querida, alguém que ama, chora, canta e vive… Última sobrevivente de um poderoso político do passado, hoje sem vaidades, sem sonhos, mas com muitos amigos… Sentada a seus pés eu recordo… Eu sou a memória.

Gastão Ferreira

  • M Juliana Giglio
    15 de dezembro de 2011 - 7:23 pm · Responder

    Tive o prazer de conversar ao telefone com Dona Ditinha: muito simpática e com uma memória invejável. Estou à procura de informações dos imigrantes italianos parentes da Ditinha e meus também. O nome dos italianos eram Francisco (Francesco) Giglio e Alexandrina Zanone Giglio (conhecida como Santina, segundo Dona Ditinha). Tivem 14 filhos mas não tenho o nome de todos: Floramante Regino Giglio, Quirino Pergentino Giglio, José Giglio, Egydio, Domingos Miguel Archanjo Giglio, Angelo Zanoni Giglio, Maria Olivia , Joanina, Libera Zanoni Giglio, Leandro Giglio e Salvador Giglio. Memória faça com que as minhas origens sejam reveladas! Agradeço qualquer informação 🙂

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