TURISMO


Essa foto é de um antigo pelourinho

TURISMO

Quando repetimos uma mentira dia após dia, ano após ano, essa mentira passa a ser encarada como uma verdade de fato. Criamos uma lenda urbana a respeito do turismo em nossa cidade e queremos viver um sonho forjado que não é a nossa realidade.
Desde o encontro da imagem do Senhor Bom Jesus, Iguape tem recebido anualmente milhares de romeiros. O que é um romeiro? Uma pessoa que se dirige a um santuário para uma visita de caráter religioso, a paga de uma promessa, a obtenção de uma graça (Essa é a definição de um romeiro). Tal peregrino se alimenta onde a comida estiver mais em conta, dorme em albergues, casas de família, em barracas, dentro de ônibus e até mesmo em boas e caras pousadas.
Qual seria a definição de UM TURISTA? Turista é alguém que resolve passar alguns dias em uma localidade, conhecer seus arredores, o que ela tem a oferecer em gastronomia, belezas naturais, histórico e partilhar o modo de vida dos nativos. Pernoita em hotéis, gosta de mordomias e de bom atendimento, pode ficar o dia todo no meio da mata estapeando mutuca, mas quer uma boa refeição, um bom banho e uma boa cama. Tem dinheiro e sabe o quanto ele vale. As pessoas que possuem casas de veraneio não devem ser apontadas como turistas e sim como moradores esporádicos.
Até o início dos anos sessenta Iguape era uma ilha, para entrar na cidade somente através de balsas e nos séculos anteriores navios. Antes da construção da grande rodovia (BR-116) e da estrada municipal Casimiro Teixeira, pouquíssimo turistas aventurava-se á conhecer a cidade, a única via de acesso era a estrada Iguape/Pariquéra. Já os romeiros vinham às centenas em caravanas sempre em fins de julho e começo de agosto.
Após o término das rodovias começamos a receber muitas visitas, os romeiros que se dirigiam a outros santuários paravam aqui para uma oração e aproveitavam a proximidade do mar para um rápido mergulho, os trabalhadores que queriam curtir uma praia num final de semana, os que vinham em condução própria e ficavam alguns dias, esses sempre em minoria e eram esses os que mais se aproximavam da definição de turista. Esse período durou dos anos sessenta aos noventa do século passado,quando a municipalidade querendo restringir o número de “farofeiros” iniciou a prática do pedágio na entrada da cidade, o que afugentou os “turistas” de um dia. Lembro que antes do pedágio contava-se até 750 ônibus em um final de semana e alguns meses após o início da cobrança apenas 20 ônibus.
O insipiente turismo em nossa cidade durou aproximadamente 30 anos. Durante o período de carnaval nas últimas décadas o pessoal das cidades vizinhas comparecia em massa as festividades, assim como também participava do feriado prolongado da Semana Santa, fora esses eventos a cidade ficava a ver navios, aliás, nem a ver navios, pois o porto fechou nos anos quarenta e assim na verdade nunca tivemos um verdadeiro turismo e ficamos apenas nas palavras. Quem se interessar pelo assunto basta perguntar nos hotéis qual a freqüência com que recebem hospedes que se dizem turistas. Nos hotéis ficam muitos vendedores, prestadores de serviço e pessoas ligadas ao serviço público. Hoje em dia recebemos visitantes de locais mais distantes devido ao acesso fácil no carnaval e raramente nos dias de semana. Não devemos esquecer que milhares de nativos moram e trabalham fora de Iguape e que nos feriados prolongados, natal e final de ano retornam a cidade para visitar parentes e amigos, dando-nos a impressão que eles são pessoas de fora colaborando para o mito “turismo”.
A verdade dói, mas precisa ser mostrada. Recentemente as redes de televisão referindo-se a nossa cidade repetiram reiteradas vezes; -*uma cidadezinha no litoral sul do estado de São Paulo*, ou seja, nossa cidade só aparece quando ocorre um crime e nós por aqui crentes que somos a cereja do bolo, os súditos bem amados da Princesa do Litoral Sul.
Agora começou uma nova lenda urbana, somos uma cidade histórica patrimônio nacional. Como patrimônio nacional? Temos prédios centenários caindo e com os quais os defensores do tal patrimônio nunca se importaram! Pirá, Correio Velho, Sobrado dos Toledos, a Única e muitos outros. Temos casas do século vinte no entorno da praça da matriz que destoam da época histórica que querem representar, se a coisa fosse séria as casas seriam demolidas como o foi o coreto. Os chafarizes seriam recolocados nos locais onde em séculos passados a população buscava a água diária, os pelourinhos refeitos para mostrar aos visitantes como eram tratados os escravos, as estátuas bem conservadas e limpas nos mostrariam a arte de nossos antepassados, a estátua do Pescador que está próxima a ponte bi-municipal deveria enfeitar o Porto do Ribeira, Vila Garcez ou a belíssima orla do Valo Grande no Rocio, local onde moram pescadores e a obra de arte poderia ser admirada.
Quando constatamos que uma mentira é causa de desavenças, de mal entendidos, é bom que a verdade venha à tona mesmo que fira alguns egos que vivem e querem impor essa ilusão a um povo carente e sempre na espera de melhoras, pois como disse Martin Luther King: ”- O que mais me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons.”

Gastão Ferreira

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