MATOU O LEON A PAULADAS


MATOU O LEON A PAULADAS

Leon era um cachorro. Um cão sem dono que batalhava seu sustento de casa em casa, de praça em praça, de lixo em de lixo. Desde tótozinho ganhou o apelido de Leon, El Bueno… Um cão desmilinguido que jamais teve uma casinha para chamar de sua, um sem teto que nunca foi vacinado, enfim um vira-lata amigo e amado por todos. Um paquerador nato. Um ser irracional com mais admiradores do que muitos bacanas moradores da periferia ou das praças da vida.
El Matador era um homem. O ser mais inteligente do planeta Terra, o único animal que interage através da razão com seus semelhantes, um sapiens, um predador intelectual, santo e pecador, bom e mau, egoísta e generoso, herói e bandido, um homem e um assassino em potencial.
El Matador cismou com Leon, alias El Matador cismava com qualquer coisa. Atirava em gatos de rua, urubus e passarinho, Saci Pererê e Boi Tatá, gado no pasto, radar nas estradas da vida… Se mexer leva bala, assim era El Matador e ai de quem cruzasse seu caminho… Pimba! Olha aí um corpo estendido no chão.
Foi um escândalo com direito a primeira página. Leiam as manchetes… “Uma cocotinha canina apaixona-se perdidamente por um vira-lata.”,” Leon passa diariamente frente à bela mansão de Lilibeth que finge não notá-lo.”,” Leon paquera Lilibeth…”,” Leon conquista a Dama dos seus sonhos…”,” Leon ama e é amado.” El Matador é informado do romance e um recado é dado:-“ Lilibeth não é osso para a sua laia!Cai fora Leon.”
O Amor foi cego, surdo e mudo as convenções do mundo. Lilibeth, uma cadelinha patinhas limpas, criada com Danoninho e contra filé, freqüentadora de pet shopping, acostumada a banhos de espuma e petiscos importados, ama e é amada, nada mais importa… Seu mundo tem um nome e o nome é Leon!
Leon sabe que seu amor é impossível, altos muros o separam de seu objeto de desejo. Começa a rondar a casa da amada, uivar para a lua, dormir no portão a espera de um milagre:- “Um dia essa porta abre!”
A porta abriu… Leon e Lilibeth juntos… Cheira daqui… Cheira dalí…Funga aqui… Cafunga ali e o circo esta armado… O cão vagabundo e a dama toda amor dão vazão a seus instintos. Os sinos repicam, as beatas benzem-se e reclamam de padres foliões, os mendigos de vida difícil batalham a vida fácil de cada dia:- “Me dá um Reau!”. Baseado na mente alguns garotos pensam num futuro melhor e o mundo gira… Gira… Gira numa boa.
El Matador sente-se traído:- “Com minha cadela de raça? Jamais!” “Como Lilibeth teve coragem de fazer isso comigo?”, “Isso é um ultraje! Uma putaria! Uma cachorrada!”, “Quem esse vagabundo pensa que é para invadir minha privacidade! Somente a morte para lavar minha reputação e honra!”,” Viva a Tradição, a Família e a Propriedade!”
A primeira paulada foi certeira e fatal. As outras trinta apenas para confirmarem que o Leon estava morto e bem morto. “Um bicho a menos no mundo não vai fazer falta! Não aturo desaforo.”, comentou El Matador, o ser mais inteligente do planeta Terra, que se diz a imagem e a semelhança do Criador.

Obs. Texto traduzido grosseiramente de um manuscrito hispânico da Baixa Idade Media, reparem no nome dos personagens (Leon e El Matador). Lilibeth creio que era da nobreza canina inglesa. Na Idade das Trevas devido à ignorância crassa o drama relatado era normal. Fiz pequena adaptação à modernidade para um melhor entendimento, mas qualquer semelhança com a atualidade é mera especulação.
A.Lamartine(Poeta francês -1790/1869)dizia:- ” Entre a crueldade para com o homem e a brutalidade para com os animais só há uma diferença:- A vitima.”

Gastão Ferreira

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