EDRIAN


EDRIAN

O carro capotou três vezes antes de cair na ribanceira. Quando Edrian acordou era noite fechada, subiu pela encosta e caminhou na lateral da rodovia pedindo socorro, ninguém o auxiliou… Cansado adormeceu.
Uma garoa fina em meio à névoa matinal o despertou, seu corpo dolorido pelo acidente necessitava de atenção. Os automóveis passavam céleres e não havia maneira de pará-los… Edrian fraco e faminto quase a arrastar-se continuou a caminhada.
Avistou a casa na beira da pista e para lá se dirigiu. Bateu palmas, gritou, chamou… A casa estava vazia ou seus moradores estavam trabalhando, não conseguiu destravar a porta, apenas bebeu da água que encontrou em um balde e seguiu seu caminho.
Encontrou o homem e o menino. O menino demonstrou medo e o homem fez de conta que não o via… Tentou explicar a situação. O menino apavorado agarrava-se ao pai que aparentemente não entendia a criança e nem sequer dirigiu um olhar a Edrian que gemia e chorava.
O caminhante maltrapilho também não foi de muita ajuda, apenas balbuciava palavras desconexas sobre um acidente na estrada, da fome que era sua companheira constante, das vozes que ouvia dentro da neblina, dos vultos atravessando a pista e dos gritos pedindo socorro que pareciam partir do nada… Acreditava-se um louco.
Edrian Salvatore, o famoso advogado que cobrava fortunas para qualquer consulta, nesse momento se comparava a um mendigo, na verdade pior que um mendigo, pois não tinha a quem recorrer e chegaram às lembranças… O dinheiro fácil, as bebidas, as drogas, o envolvimento com o lado negro da sociedade, a politicagem, a arrogância… “Meu Deus! Quanto tempo perdido com bobagens.” “Que vida sem sentido! Que vazio.” “Meu Deus! Ajude-me, por favor.”
-Edrian?Gritou uma voz.
-Sou eu!Que bom que me encontraram em meio a essa densa neblina. Quem são vocês?Policiais Rodoviários? Grupo de resgate?
– Grupo de Resgate… Venha em direção a nossa voz!
Eram cinco pessoas, Adrien reclamou da demora, da fome, das dores, da falta de socorro imediato e que processaria os responsáveis pelo descaso à sua posição social.
O chefe do grupo explicou que há vinte dias o estavam procurando. ”Palhaçada! Foi ontem a noite que ocorreu o acidente”, disse Adrian.
– Não! Já passaram vinte dias e o socorro foi imediato, não o encontramos porque sua alma não brilha, pois é praticamente impossível detectar algo sem luz própria em meio a neblina espiritual que envolve está região pós morte.
– Região pós morte? Exclamou Adrian.
– Sim! Seu corpo pereceu no acidente e você se pôs a vagar a procura de auxílio… Somente quando se lembrou de Deus foi que conseguimos detectar sua presença na neblina… Agora vamos conduzi-lo a um hospital e de lá o encaminharão para uma nova vida.
– “Meu Deus! Voltei de mãos vazias.” Disse Adrian.
-Algum bem você deve ter feito! Normalmente as pessoas iguais a você ficam anos e anos perdidos na neblina e somente quando se tornam merecedoras de ajuda é que são auxiliadas… Vem! Vamos para casa.

Gastão Ferreira

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