Ingênua… A princesa


INGÊNUA… A PRINCESA

Era uma vez uma princesa muito linda. Seu nome era Ingênua. Dizem que foi belíssima, uma mistura de Iracema, a virgem dos lábios de mel com a Gisele Bündchen e a Sonia Braga dos bons tempos. Virou um trapo, mal tratada, esquecida, enfim uma garota da terceira idade igual a tantas que ao se olharem no espelho exclamam:- “Gostosa! Não me troco por duas menininhas de dezoito anos.” Como se uma donzela juvenil fosse se trocar por uma velhota decadente.

Nossa princesa velhusca, desculpe, da melhor idade, andou um tanto amargurada com a vida. Muitas de suas propriedades foram literalmente tombadas, ou seja, no chão, em ruínas, aos cacos. O senhor Condephaat, um homem abastado insinuou-se na vida intima da nobre senhora, até colocou algumas faixas nos imóveis:- “Aguardando dinheiro do Condephaat para futura reforma.” Ficou só nisso, não casou e nem reformou.

Outro pretendente foi o jovem Iphan, cheio de panca, chegou como se fosse dono da casa ditando leis, um tanto zombeteiro foi mandando em Ingênua igual marido ciumento e na verdade mal se conheciam, mas Ingênua não era tola, era apenas meio bobinha e louca para se casar, sempre caía no golpe do baú. Ela era riquíssima, vitima constante de aventureiros que se aproveitando de sua simplicidade tentavam tombar o seu vasto patrimônio.

Com o tempo Ingênua foi perdendo a esperança, pois os ousados pretendentes sempre a deixavam menos rica. Nenhum namorado a abandonou sem ficar bem de vida. Alguns compraram fazendas, outros apartamentos, mansões, lanchonetes e muitos terrenos ou imóveis espalhados por localidades próximas ou distantes. Ingênua sofria com tudo isso, mas era o preço que pagava pela ânsia de casar e matrimônio bom jamais aconteceu.

Com o passar do tempo Ingênua parou de lutar, deixou os urubus tomarem conta das praças, os pedintes espantarem turistas, as drogas corroerem a juventude, os paus mandados locupletarem-se e paulatinamente a princesa aquietou-se, entrou em crise existencial, quase morreu, mas Tupã é um bom Pai e quando todas as portas se fecharam Ele abriu uma janela. Espiando pela janela Ingênua notou um jovem pescador que passava frente a sua casa e qual não foi sua surpresa quando o ousado mancebo jogou-lhe um beijo. É óbvio, ela bateu com a janela na cara do pescador, pois jamais se dera ao desfrute com gentinha da plebe, porém o tal pescador era um Hercules, um Édipo, um Perseu, um semideus de beleza inigualável e Ingênua pensou:- “Que tal provar dessa fruta? Desse peixe saboroso? Creio que esse filho de Posseidon está tentando uma aproximação!”

Ingênua se apaixonou, rejuvenesceu e a cada olhar do fogoso pescante ficava mais jovem, mais bela, mais popozuda. Um belo dia ela abriu a porta e deixou o Amor entrar em sua vida. Foi o que a salvou da decadência definitiva, descobriu que o amor do povo humilde é o único verdadeiro, que se contenta com pouco. Hoje é uma mulher realizada, voltou às origens e descobriu quanto tempo perdeu ao tentar se passar por uma dama esnobe, seu destino era ser feliz na simplicidade.

Gastão Ferreira

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