APENAS UMA PORTA ?


APENAS UMA PORTA?

O aguaceiro era eminente, um vendaval varria a cidade, algumas habitações foram destelhadas, galhos de árvores arrancados pela ventania cortaram a eletricidade, as ruas estavam às escuras. Cheguei a casa no exato momento em que um raio caiu nas proximidades, lembro que seu clarão ajudou a encontrar a fechadura da porta. Sem luz fui à procura de velas. Onde as coloquei?

– “Estão no armário da cozinha!” Sussurrou uma voz.

Meu cabelo arrepiou. Eu moro sozinho! Quem invadiu meu lar? Um vento gelado dominou o ambiente; – “Estou apavorado com o relâmpago! Inventei essa voz.” disse a mim mesmo. ”Acenda a luz!” Cochichou alguém. Quase paralisado de medo encontrei o interruptor e acendi a lâmpada da sala. No aposento meus parentes e alguns amigos sentados nos sofás bateram palmas; – “Parabéns! Você conseguiu. Nós jamais obtivemos êxito ao tentar!” O horror se apossou de mim… Meus amigos e parentes mortos estavam em minha casa.

Corri para a cozinha… Não havia cozinha! Portas e janelas eram inexistentes, um vidro cristalino era a única parede e lá fora brilhava o sol. Num jardim florido árvores frutíferas, um pequeno regato com muitos seixos enfeitava a paisagem. Animais de há muito desaparecidos pastavam placidamente entre Dinossauros, bandos de Dodós, Tigres dente de sabre. No céu voavam pterodátilos pré-históricos. Ao longe se avistavam altas montanhas que davam forma ao vale onde eu estava:- “Moro perto do mar! Minha casa está localizada no centro de uma pequena cidade. Essa não é a minha casa!” pensei.

Voltei à sala e a sala estava vazia. Realmente não era a minha sala, vários quadros, pinturas desconhecidas, poucos móveis. A parede frontal totalmente de vidro e lá fora muita pessoas a olharem para mim como se eu fosse um extraterrestre. Uma fina corrente de ouro com um camafeu pendente chamou a minha atenção:-“ O camafeu de mamãe!Dentro está a foto de seu casamento… Foi seu último pedido ser enterrada com ele!.” Coloquei-o no pescoço.

“A porta está no armário!” Gritou uma voz. Abri o grande armário encostado junto à parede e dentro vi uma porta igual à de minha casa, com muito esforço consegui abri-la… A escuridão me envolveu e perdi os sentidos. Quando acordei estava do lado de fora, a chuva passara e eu completamente encharcado segurava a chave de entrada na mão. Abri a porta e acendi a luz, estava em casa. Creio que desmaiei com a queda do raio tão perto de mim e tive um pesadelo. Fui ao banheiro e ao me olhar no espelho tive o maior choque da minha vida, pendendo do meu pescoço estava o camafeu com o qual mamãe foi enterrada. Meu Deus! O que será que realmente aconteceu?

Gastão Ferreira/2010

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