CONVITE PARA FESTA


CONVITE PARA FESTA

Recebi por e-mail um convite para uma festa a fantasia num sitio, seria uma noite das bruxas a moda caipira. Duas exigências foram feitas; – Não levar companhia e chegar ao local do evento exatamente as vinte e três horas.

No horário marcado estacionei a moto frente ao salão parcamente iluminado… As fantasias eram horrorosas, piratas com punhais cravados no peito, enforcados de olhos esbugalhados, zumbis com olhares vazios, bruxas de todas as idades, esqueletos saltitantes, lobisomens, pessoas assassinadas com requintes de sadismo e crueldade, enfim todas as criaturas que povoam os pesadelos.

Interessante essas alegorias! Pensei. Não esperava encontrar fantasias tão bem elaboradas. Confesso que estava um tanto envergonhado, pois eu era o único fantasma na festa e por sinal um fantasma dos mais pobres, o que me cobria era um velho lençol branco com dois furos para os olhos.

Achei estranho os participantes me chamarem pelo nome, pois eu não conseguia adivinhar quem estava por detrás das máscaras. Ao dançar com uma das bruxas ali presente fui informado que a festa da qual participava ocorria anualmente à véspera do dia de finados e que a cada ano era escolhido um morador da cidade para compartilhar do evento, essa era a razão pela qual sabiam o meu nome. Perguntei por que motivo jamais ouvira falar da famosa festa, a resposta foi apenas um enigmático e cativante sorriso.

Um murmúrio vindo de fora do salão chamou a minha atenção, era como uma reza misturada a um cantar plangente… Os mascarados agruparam-se no centro do salão e nesse momento dezenas de pessoas encapuzadas, vestindo longos mantos brancos e portando velas acesas foram adentrando o ambiente. Gemidos, gritos, lamentos… Um vento frio e cortante misturado ao fedor de carne em decomposição empesteava o ar. Confesso que estava fascinado pelos efeitos especiais num local tão pobre, então soaram as doze badaladas anunciando a meia-noite, o vento rugiu, todas as velas e luzes se apagaram, um silêncio sepulcral se fez presente. Em pânico fui até a parede a procura de um interruptor de luz e ao acioná-lo o salão estava totalmente vazio, faltavam algumas telhas, as janelas estavam quebradas, o local estava em completo abandono. Então compreendi! Eu era o estranho, o único vivo a participar da festa dos mortos. Aterrorizado saí em disparada.

Retornei para casa apavorado e fui verificar no computador quem enviara o convite. Ao acessar o remetente, surgiu na tela uma caveira entre duas tíbias e a mensagem apagou-se sozinha. Desde então nunca mais aceitei convite para festas de quem não conheço.

Gastão Ferreira

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