O RAPTO DO MENINO JESUS



O RAPTO DO MENINO JESUS

Nada como uma muvuca para acordar a pacata cidade… Ninguém sabe, ninguém viu, mas a notícia voou como urubu faminto:- “O Menino Jesus desapareceu do presépio montado na praça! Quem raptou, seqüestrou, roubou a divina criança?Oh! Meu Deus…”

Chamaram o responsável máximo pela brilhante idéia da montagem natalina. A gentil, educada e religiosa criatura teve mais um dos seus chiliques:- “Por meu pai Oxalá! Minha mãe Yemanjá! Minha tia Yansã! Meu primo Ogum! Quem foi o cretino que roubou o pequeno Oxalazinho? Consultem os Búzios… As Cartas, os Tarôs, pais, mães, avós e tias de santo, eu quero o nome do desgraçado agora! Agora!”

A plebe ao saber da novidade partiu para as fofocas; – “Levaram até as espigas de trigo que estavam na manjedoura!”, “ O trigo? O trigo já era.Acho que pegaram o guri para pintarem.”, “ Para pintarem?”, “ Sim! Ele era loirinho e algum puxa saco quis pintar de negrão para fazer uma média, talvez para garantir o futuro da criança, pois na cidade só negrão tem vez.”

Era tanta conversa fiada jogada fora, que uma dedicada ONG abriu uma conta bancária para doações, caso os seqüestradores exigissem um futuro resgate. Foi uma beleza de se ver a abnegação dos cidadãos, os mendigos que habitam no entorno da praça fizeram coleta e doaram o dinheiro da pinga, os vendedores ambulantes de picolé deram dez por cento do faturamento diário, os comerciantes negaram ajuda, pois acreditavam que a honesta ONG daria um fim escuso ao dinheiro arrecadado.

Alguns políticos queriam ir a Brasília, falar com o presidente, solicitar a intervenção das forças armadas e aproveitar a ocasião para turistar na capital federal. Outros preferiam ir a Roma e contar ao Papa o ocorrido, todos esquecidos que em tempos de internet, bastava um e-mail para se comunicarem. O bom senso prevaleceu, caso viajassem não receberiam o décimo terceiro salário e o amor pelo bolso falou mais alto.

A tristeza pelo ocorrido era tamanha que muitas promessas foram feitas, a garotada prometeu não mais gritar palavrões pelas ruas, as mães a cuidar melhor dos filhos “dimenor” e marcar horário para chegarem em casa, o povão e povinho juravam nunca mais jogar lixo nas ruas,os bebuns e os bebinhos a diminuírem as doses de cachaça, as garotas de programa a só freqüentarem programas de auditório, as mocinhas puritanas não prometeram nada e continuaram fofocando sobre os mais variados pecados mortais, veniais e doidinhas para por em prática o que sabiam.

Foi organizado um ato de desagravo ao Menino. Todos compareceram e apareceram. Em meio a rezas, cânticos, ladainhas, choro e ranger de dentes, os pipoqueiros vendiam suas pipocas e os ambulantes camisetas com o rostinho do bebê. O responsável pela guarda do presépio já estava para ser apedrejado quando muitos foguetes foram ouvidos, e, o senhor Conde Fat apareceu com o menino nos braços:- “Encontrei a criança fujona, prometo que daqui para frente ele jamais fugirá, a partir desse momento eu o declaro TOMBADO!”

O que ninguém questionou foi como um recém nascido fugiu, mas como todos morrem de medo do senhor conde o assunto morreu ali mesmo e tome foguete… Foguete… Foguete.

Gastão Ferreira/2010

Obs. – A QUEM INTERESSAR POSSA; – Esse texto é ficção, o menino não desapareceu, o conde não existe e ninguém deu chilique… ATENÇÃO esse texto é ficção, não esqueçam, sem baixaria hem!

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