O TER E O SER – CRÔNICA


CRÔNICA INCORRETA – O TER E O SER

Atualmente é complicado lidar com as pessoas. Ofendem-se com uma facilidade espantosa, vestem carapuças e máscaras, nunca se sabe em que vespeiro se mexe.

Uma amiga fez uma promessa a São Longuinho, praticou o ritual certo e não foi atendida. Ao consultar uma cartomante descobriu a origem do não atendimento. Não se pode mais invocar São Longuinho, mas sim o Santinho Longitudinalmente Limitado.

O famoso Negrinho do Pastoreio nem pensar, o correto é pedir uma graça ao Pequeno Afro Descendente do Pastoreio… Velhinhos e velhinhas que me perdoem, mas chamar as pessoas com o pé na cova, sem dentes, pouco cabelo, com manchas senis na pele, dores nas articulações e uma infinidade de doenças crônicas de pessoas da “melhor idade”, com certeza é uma brincadeira de mau gosto.

Vivemos num mundo irreal… O menino mimado, de péssima educação, que não respeita pai e mãe, nem professora, é tido como um menor hiper ativo.Uma adolescente que já ficou com meia cidade e transou com a outra metade está apenas tentando encontrar a sua alma gêmea.

O mundo mudou? Os valores mudaram? O que está ocorrendo?Aplaude-se o indivíduo corrupto, o medíocre pensa ser o rei da cocada preta, promessa é coisa para político fazer e não cumprir, um ladrão tem mais valor que uma pessoa correta. O dinheiro compra tudo? Sim! Se estiver à venda… Compra até a felicidade.

Vivemos tempos difíceis! Hoje o importante é o Ter e não o Ser. As pessoas são medidas por suas posses, seus bens materiais, independentes da origem de tais bens. O Ser passou à sinônimo de derrotado.

O que podemos observar é que as pessoas estão a cada dia mais vazias, correm atrás do dinheiro, do poder, da eterna juventude e esquecem o essencial que é o aprender a vivenciar a existência. Cercadas de todos os confortos modernos não conseguem administrar a solidão. As pequenas armadilhas com que a vida nos brinda diariamente são tratadas como atentados terroristas. O Homem está cada vez mais só!

Caminhamos para o túmulo sem ter partilhado do existir, apegados a um imenso ego que nada divide. Em plena era do conhecimento instantâneo o analfabeto funcional é a realidade. Os poucos que estudam são chamados pejorativamente de elite, como se o saber não esteja à disposição de toda a sociedade.

Hoje é feio ser caridoso. A bondade é vista como fraqueza… O humanismo como uma utopia. Oh! Tempos… Oh! Costumes… Em pleno século XXI, no estágio mais evoluído em tecnologia atingido pelo planeta em milhares de anos outra tempestade se anuncia. Uma nova era em que o homem não mais lutará contra seus irmãos, mas sim contra si mesmo e onde fará a suprema escolha entre o TER e o SER.

Gastão Ferreira/2010

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