A ROSA…


A ROSA VERMELHA…

Corria o ano de 1850, o sarau estava animado, as moças aproveitavam a oportunidade para a troca de confidências e namoricos inconseqüentes. Maria Rita acompanhada da irmã mais velha Mariana, não conhecia ninguém no salão. Seu pai, o coronel Armindo, dono de engenho era rígido e não admitia desfrutes com cria sua. Namoro somente na sala e na presença da mucama de confiança da sinhá.

Ritinha estava encantada com o luxuoso salão, Iguape com seu famoso porto era uma cidade de endinheirados e era neste recinto que se reunia a elite e visitantes ilustres. Um rapaz chamou a sua atenção, moreno claro, olhos negros, um sorriso de dentes perfeitos, um tanto sarcástico, na lapela do fraque ostentava uma Rosa vermelha, trajando a última moda da capital, Rio de Janeiro, era disputado platonicamente pelas ricas donzelas que não tiravam a vista da galante figura.

Quando o escravo veio buscá-las, o mancebo se aproximou de Maria Rita, retirou a flor da lapela e lhe ofertou segredando; – “Guarde com carinho! Um dia a pedirei de volta junto com o seu amor.” Mariana estranhou a palidez da irmã e perguntou; – “O que aconteceu Ritinha? Algum problema?”,” Nada maninha! É que ganhei esta linda Rosa vermelha de um desconhecido… Daquele moço de fraque escuro com listinhas brancas. Ele retirou a flor da lapela e me presenteou”, “Não notei nenhum estranho no sarau e muito menos alguém com um fraque de listinhas com uma Rosa vermelha na lapela, aliás, isto nunca foi moda por aqui… Eu hem!”

Maria Rita guardou com carinho a Rosa vermelha, fez dela sua confidente. Como era possível se apaixonar por um desconhecido? Qual seria o nome do rapaz? Alfredo! Sim!… Alfredo passou a fazer parte de seus sonhos de menina moça… Alfredo que morava no Rio de Janeiro e que a amava, e, que um dia lhe pediria de volta a Rosa vermelha… O tempo passou.

Mariana casou-se e foi morar na capital do império, ao nascer o primeiro filho pediu a companhia da irmã mais nova e Rita foi ao Rio de Janeiro passar um tempo com a irmã. Mariana fizera amizade com Elvira, filha do comendador Deodato. Num belo e ensolarado Domingo, as duas irmãs foram convidadas para um chá no palacete do comendador. Pela primeira vez Rita participava de um evento social na cidade. Ficou encantada com a bela mansão e Elvira fazendo as honras da casa levou Maria Rita para conhecer a pinacoteca da família.

A linhagem do comendador era antiga e muitos quadros faziam parte do acervo. Apenas um quadro destoava do recinto, estava coberto por um pano escuro. Ao notar a bisbilhotice de Maria Rita, Elvira comentou; – “É o retrato do irmão mais novo de papai, quase da minha idade, era o poeta da família. O quadro está danificado! Um fato muito estranho ocorreu na noite de sua morte, uma parte do retrato desapareceu e ainda não encontramos o pintor certo para fazer o reparo.”

Rita ficou curiosa, mas devido à timidez permaneceu calada. Chegou a sonhar que retirava o pano negro e ao fazer isto desmaiava. Passado dois meses foram novamente visitar Elvira. Maria Rita aproveitou o momento em que a irmã e a dona da casa estavam entretidas e correu até a pinacoteca. Parou frente ao retrato coberto e retirou o pano… Ali estava ele, Alfredo, um rapaz moreno, olhos negros, um sorriso de dentes perfeitos, um tanto sarcástico, vestindo um fraque escuro com listinhas brancas e na lapela um vazio… Um vazio de onde desaparecera uma Rosa vermelha na noite de sua morte, a flor que Maria Rita trazia sempre consigo… Rita foi encontrada desacordada sob o retrato perfeito de Alfredo, que para espanto de todos ostentava a bela Rosa vermelha intacta na lapela.

Gastão Ferreira/2011

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