UM SALTO NO TEMPO…


UM SALTO NO TEMPO…

Estamos no ano de 2.050 e a Princesa do Litoral visita o seu reino. O aero carro adentra a zona urbana pela nova avenida que margeia o sopé da montanha e termina na ponte de acesso a Ilha Comprida. Sua Majestade com 512 anos de idade se mantém lúcida e atenta;

-” Josephus! Esta sirene altíssima é uma homenagem a minha pessoa?”

-“ Não creio Princesa! É apenas uma ambulância pedindo passagem para levar com urgência mais uma parturiente a Pariquéra”, responde o secretário Josephus.

-“ Não acredito! Após 512 anos ainda não temos uma Maternidade!”

-“ Majestade, o município não tem verbas para tal despesa extra e a maioria dos pediatras se negam a clinicarem por estas bandas devido a falta de pagamento.”

-“ Meu Bonje! Esta fila não anda…”

-“ É devido a um cortejo fúnebre vindo de Pariquéra, Princesa…”

-“ Cortejo fúnebre vindo de Pariquéra?…”

-“ Sua Majestade esqueceu que a cidade não possui um velório municipal e quem nasce em Pariquéra, por lei, também é velado por lá!…”

-“ Meu bom Josephus, a coisa tá feia! Tantos aero carros quebrados e largados a beira da avenida!…”

-“ São carros da frota municipal, como as peças de reposição vêm de Pariquéra, estão aguardando socorro…”

-“ Josephus! Pariquéra não é o nome da minha filha mais nova? A última a se separar da família?…”

-“ Sim Princesa! Devo lembrá-la que seu reino já não é o mesmo, depois do casamento de Barra do Ribeira com Peruíbe, depois da separação de Subauma, Jairê, Mumuna e Rocio, suas terras Majestades estão confinadas entre a Ponte do Mathias e o Valo Grande…”

-“ Meu Bonje! Eu era uma latifundiária, possuía uma Capitania Hereditária e agora só tenho alguns palmos de terras…”

-“ Coisas da política Princesa! Não cuidou perdeu!…”

-“ Josephus! E o meu povo, meus súditos! Como aconteceu isto?”

-“O povo foi trocando voto por dentadura, cesta básica, contas a pagar e deu no que deu…”

-“ Josephus! Que tristeza! Eu fui tão rica e acabei assim nessa miséria.”

-“ Que nada Majestade! Sacode a poeira, a senhora ainda tem os prédios tombados e nunca reformados, a floresta da beira do mangue, o Valinho Grande que voltou a ser um fio de água e dá para pular facilmente…”

-“ Josephus! Josephus! Como decaí tanto?…”

-“ Depois da Grande Grilagem de 2011 na Porcina, uma imensa favela cercou a cidade…”

-“ A famosa favela da Tia Bete?…”

-“ Sim, esta mesma! A favela virou refugio de traficantes e fugitivos da lei… Quem pode vendeu a preço de banana suas casas, muitos simplesmente abandonaram as propriedades aos pedintes que invadiam a cidade…”

-“ E ninguém fez nada para impedir tal calamidade?…”

-“ Quáquáquá… O povo estava mais preocupado em obter favores dos políticos, um empreguinho comunitário numa ONG, um cargo na Bimunicipal, um vale gás, uma cesta básica, uma consulta médica… Quando acordaram só tinham direito a respirar, pois a cidade estava dominada… Não podiam reformar suas casas, pois a cidade era tombada… Não podiam pescar e nem sair a noite devido aos bandos de vândalos que infestavam as ruas…”

-“ Que triste fim! Que triste fim!…”

-“ Nada de entrar em desespero!Parece que o Cocho fez as pazes com o Berne…”

-“ E o que tem isto com toda a calamidade que está ocorrendo?…”

-“ Se o Cocho e o Berne se uniram é sinal que vem grana por aí… Alguém vai lucrar muito com a sua desgraça Princesa!”

-“ Eu quero morrer Josephus!…”

-“ Nem pensar Majestade! Para ser enterrada em Pariquéra? Jamais…”

Gastão Ferreira/2011

Observação – Esse texto é ficção… A cidade tem uma ótima Maternidade, um excelente Velório Municipal, ninguém está grilando a Porcina e Pariquéra não existe.

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