Candidatos a Caciques…

COISAS DA TRIBO…

A aldeia está muito dividida… Teve um tempo em que bastava olhar para a cara do índio para saber se era Cocho ou Berne, Formiga ou Tamanduá, Loiro ou Negrão. Depois que o Descobridor do Brasil fez a mistureba, ninguém consegue afirmar com certeza quem é quem.

Todas as personagens são permitidas, desde uma oncinha com instinto de raposa a um fauno serelepe e conquistador que nega sua própria essência, cuja fama ultrapassa as fronteiras da aldeia e finca raízes (Opa!) em ilhas distantes.

A tribo sobrevive! Muito antiga, passou por centenas de fases. Desde os formadores de Sambaquis aos formadores de propinodutos. Os Caciques foram as causas dos maiores problemas. A aldeia, nunca conheceu um verdadeiro Cacique, um enviado de Tupã que levasse o progresso a serio, que lutasse por melhorias e não vendesse a alma a Anhangá por meia dúzia de apartamentos noutra cidade. Na verdade, alguns caciques tentaram mostrar serviço e servir a comunidade, mas, numa aldeia de “rabos presos”, alguma coisa ocorreu e muitos foguetes foram soltos para alegria de aliados e amarrados.

Para quem curte História Universal, há uma similaridade com o que se passa na aldeia, na atualidade, com o que ocorreu no Império Romano no ano 37 dc, quando Gaio César Germânico sucedeu Tibério no trono de Roma. Calígula deu muito poder a atores secundários, canastrões, mulheres devassas, pessoas desqualificadas, sem ética ou moral. O reinado de Calígula foi uma permanente saturnal, uma rapinagem ao tesouro público, fonte de humilhação para as pessoas decentes, onde cortesãs faziam as honras da casa, os amantes e ex-amantes do imperador mandavam e desmandavam, os senadores eram servis. Fato interessante é que Calígula reinou de 37 a 41 dc, exatamente por quatro anos.

Óbvio que nada temos a ver com Calígula, nem com império romano, idade média, inquisição, feitiçaria, magia negra, mãe-de-santo, tio-de-santo, avô-de-santo, enredo umbralino para escola de samba, quimbanda e outras fontes de poder para manter proximidade com o trono… Tudo é parte da tribo dos homens e se a tribo em seu conjunto é venal, o que resta é vender as urnas mortuárias dos antepassados por uma boa grana e curtir a vida na cidade grande.

Sinto falta dos costumes antigos, do tempo em que o canibalismo era parte de nossos rituais. Todos os candidatos a Cacique estão no ponto certo para um bom assado, alias, alguns bem acima do peso. Pela lei antiga, quem concorria e perdia o mando, virava churrasco depois da disputa…

Nossa rainha não diz nada! Adorada pelo povo, basta uma palavra sua para que a situação mude completamente. O candidato que ela apoiar já sai perdendo… Coisas da tribo, mistérios guardados a sete chaves no cofre vazio, discurso de ator mal amado manipulando a verdade, abandono de sonho e tristeza frente o descaso. Nada a declarar por medo de retaliação, tudo a declarar por amor a cidade antiga que é meu lar.

A aldeia sobreviverá, a tribo dividida queima incenso a todos os deuses e demônios… Que vença o melhor, o mais preparado. Sabemos quer a vitoria pertence ao mais esperto e que o ouro fala, sorri, lisonjeia… Somos filhos de Tupã, nosso pai que nos manda a chuva. Quem nos dá dentadura, cesta básica, colchão e cachaça são os filhos de Anhangá… Salve Anhangá! Vida longa ao novo Cacique!

Gastão Ferreira/2012

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