Tudo igual…

OS DIPHES…

         Os
Diphes são as criaturas mais fantásticas que conheço, moram em cavernas,
altamente sociáveis entre si, dividem com o restante da tribo a coleta diária
de alimento. Adoram cantar, suas músicas falam dos recantos escondidos na
floresta, do nascer do sol, da amizade e do amor.
         Educam
seus filhos com extrema severidade e com eles compartilham seu estilo de vida.
Um garoto Diphe conhece seu lugar no grupo desde criança, sendo o responsável
pelas orações acorda cedo, bem antes do dia clarear e se dirige a imagem do
Grande Senhor, pedindo proteção para a família, uma boa caça, saúde e paz.
         O asseio
é fundamental, tomam vários banhos durante o correr do dia. São coletores,
catadores de grãos, sementes, frutos e adoram carne… Eis o problema! A carne
dos animais silvícolas é tabu e não pode ser consumida desde tempos imemoriais.
         Seu
respeito aos habitantes da mata é algo que chama a atenção. Um animal doente
sempre procura um Diphe para ser tratado, não consta em suas muitas histórias
que algum deles tenha sido atacado por uma onça, um jaguar, uma serpente
venenosa… Os Diphes não conhecem o medo.
         Uma
caçada em busca da tão sonhada carne é algo místico. Na noite que precede a
grande busca muitos cânticos se fazem ouvir, são os xamãs pedindo permissão à
divindade para o inicio da perseguição à presa pretendida. As fêmeas preparam
diferentes bebidas, os meninos buscam lenha para a grande fogueira onde será
assada a carne, as mocinhas enfeitam a caverna com flores na espera de atrair a
graça divina.
         Antes de
o sol raiar já estão a caminho, normalmente a jornada é longa, um dia de viagem
e atacam somente à noite. Os pais abençoam os filhos, beijam as esposas, se
despede dos parentes, nuca se sabe o que pode ocorrer… Talvez não retornem!
         Desta
vez a caçada foi no Pé da Serra, escolheram a casa mais afastada e
silenciosamente atacaram. Seu Dito, dona Maria e o pequeno bebê nem sentiram a
morte chegar, foram degolados no local e sangraram até a última gota, pois o
sangue de humanos contaminados pode trazer sérios problemas de saúde. Queimaram
a biboca e jogaram os ossos do último banquete nas chamas, assim os vizinhos
diriam que foi um incêndio que matou o casal… Coitados tão jovens!
         Enquanto
a carne assava, os mais velhos comentavam da expedição, as crias gulosas
mordiscavam pequenos pedaços dos petiscos sobre as grelhas, as mães amamentavam
os recém-nascidos, os namoricos aconteciam no lusco fusco da caverna e o xamã
agradecia ao Grande Senhor a excelente abundância da tão gostosa carne.
         Num
outro local, na mesma floresta, um homem acabara de dizimar uma família de
Bugios, enquanto retirava a pele dos animais esquartejados, agradecia a Deus a
dádiva da comida e pedia saúde, paz e felicidade para a sua família… O homem
nem sabe que os Diphes existem e que adoram carne humana. O Saci e o Curupira
conhecem as matas, são os olhos de Tupã… Anhangá sorri e consente!
Gastão Ferreira/2012 

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