Um casório…

O BUQUÊ DA NOIVA

         Dona
Vina Sanfona acordou eufórica. Hoje é um grande dia, o dia inesquecível em que
dirá em alto e bom som perante a fina flor da sociedade, um tão guardado sim.
Seu casamento com Becival é o evento que está mexendo com a cidade.
         Malvina
Angélica de Castro, uma garotinha que sonhava em ser modelo desde o prézinho.
Uma guria risonha nascida em berço de ouro. Sua mãe acertara no nome da petiz.
Sim! Malvina jamais se corrompera com essas coisinhas bobas chamadas de
bondade, humildade, simplicidade, sua praia era outra e o segundo nome Angélica
explicava tudo, era bela fisicamente, nascera perfeita e crescera escultural.
Nunca passara pela loira burra das piadinhas dos menos favorecidos pelos dons
de Afrodite, a deusa da beleza e do amor.
         Vina
Sanfona, que desaforo! Como esse apelido horroroso pegou… Qual rastilho de
pólvora se espalhou pela cidade e ficou nas bocas pequenas e invejosas. Tudo
culpa de Becival! O namorico começou bem cedo, ela com doze anos e ele com
treze. Acostumada a nunca ser contrariada, na primeira desavença com o
namorado, deu para comer chocolate, bolos, doces… Puro estresse emocional!…
Engordou… Fez regime… Emagreceu e reconquistou Becival. Na milésima briga,
já com quinze anos de idade, havia engordado e emagrecido centenas de vezes.
Eis o porquê de Vina Sanfona… Safados!
         Aos
dezesseis anos Becival foi estudar na capital e as amigas da cidade grande
faziam questão de contar as muitas novidades. Becival estava namorando firme a
filha do doutor Florêncio, um industrial milionário e Vina não era páreo para
Cândida, a ricaça. Malvina Angélica engordou de forma imensurável e Vina
Sanfona chegou para ficar.
         O tempo
correu sem se importar com sentimentos e dores… Vina passou de garota para
mocinha, mocinha para moça, de moça para tia, de tia para senhora e de senhora
para garota da terceira idade. Não casou, aliás, quem teria coragem para
namorar uma baleia, uma orca de mal com a vida!
         Becival
casou com Cândida e foi muito feliz até completarem as bodas de ouro. Na volta
da comemoração, ao retornarem de Paris, seu avião particular sofreu uma ligeira
pane, na aterrissagem pegou fogo e todos a bordo pereceram menos Becival que
ficou cego… Uma tragédia!
         Becival
cego e encanecido voltou à pequena cidade de sua infância. Reencontrou Angélica
seu primeiro amor e como o amor também é cego, nunca ficou sabendo em que
baranga havia se transformado a bela Malvina Angélica, mais conhecida como Vina
Sanfona. Marcaram casamento e o casamento é hoje.
         A igreja
matriz toda iluminada, um afinadíssimo coral, os convidados escolhidos a dedo
entre a fina flor da sociedade. Se bem que flores um tanto murchas, todos
velhos, todos caquéticos, todos na melhor idade. Quando o buquê de noiva foi
lançado para o alto, já no lado de fora da igreja, Malvina fez questão de
jogá-lo próximo a escadaria. Foi um corre, corre… Um puxa, puxa… Um
empurra, empurra… Um Deus nos acuda. Muitas menininhas da terceira idade se
esborracharam no chão e rolaram escada a baixo enquanto o buquê importando
bailando no ar foi cair exatamente nas mãos de Dita Munrhá, que deu um jeitinho
e empurrou Maria Lambisgóia pela escada ao se apoderar do buquê… Dita é feia
prá dedéu. Vamos aguardar o milagre do Buquê de Noiva, Dita sonha em casar com
Wilson que ainda não faz parte de nenhuma história.
Gastão Ferreira/Iguape/2012 

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