Histórias da vovó Nachel…

ZINA…

         Zina era
extremamente infeliz. Nascida na zona rural, poucas amigas, roupas presenteadas
por terceiros. Não que ela fosse materialista! Nada disso. Era até muito pé no
chão, o seu primeiro sapatinho ganhou aos quinze anos de idade. A infelicidade
da menina vinha de sua feiura, uma vez participou de uma peça de teatro
infantil e fez o papel de espantalho sem necessitar de maquiagem.
         A vida é
cheia de sonhos impossíveis. O pobre quer ser rico sem precisar estudar ou
trabalhar. O rico quer comprar a felicidade à custa da infelicidade alheia. A
manjuba sonha em ser tainha, o camarão em ser lagosta e Formozina em ser modelo
fotográfico.
         Quando
ela completou quinze anos e foi presenteada com o primeiro par de sapatos, o
mimo veio da famosa vovó Nachel, uma boa-fada para alguns e uma má-fada para
muitos. Vovó se engraçou pela guria, pois ela lembrava a bruxa que a iniciara
em magia negra e que tentaram queimar numa fogueira e que fugiu para Sete
Barras, mas esta é outra história, voltamos à Zina.
         Vovó
Nachel se apiedou da mocinha. Fez um terrível feitiço num espelho de cristal e
milagre dos milagres Zina ficou de uma hora para outra belíssima… Corpo de
odalisca, rosto de artista de cinema, uma gata. Em algum lugar uma odalisca
virou baranga, uma artista de cinema fez com urgência urgentíssima uma plástica,
uma gata virou anta. Quando Formozina se mirava no espelho, extasiava-se
perante tanta beleza, no reverso do espelho a Zina de outrora chorava.
         O mundo
é mesmo assim, bastou à mocinha ficar bonita e todos passaram a chamá-la de
Formosa, Zina já era. Participou do concurso “A mais bela garota rural” e levou
o prêmio… Dois leitões e uma vaca leiteira. Vendeu os prêmios e foi para a
cidade grande… Pouco tempo depois já estava em mil cartazes, era uma modelo
fotográfica famosa, ganhava rios de dinheiro.
         Apaixonou-se
por Júnior, um garoto do interior que vendeu a alma ao diabo para sair da
miséria, era tão honesto que enriqueceu da noite para o dia com trambiques e
afins. Zina nunca ligou para dinheiro, mesmo assim fez Júnior passar para seu
nome todas as propriedades compradas com a grana ilícita.
         Agora
Formozina era da elite. Para as bodas convidou a fina flor da sociedade, os
políticos milionários, os donos de indústrias, os banqueiros e investidores
nacionais. Da pequena cidade histórica tombada, não convidou ninguém, nem pai,
nem mãe, nem prefeita.
         O
casamento estava se realizando na catedral. Os canais de televisão apostos para
o evento, um coral de seiscentas vozes entoavam a Ave Maria… Os convidados
babavam de emoção… Um cardeal iniciou a santa cerimônia… Um grito
sobrepujou a pompa principesca… Silêncio total.
         Vovó
Nachel adentrou o templo e em suas mãos um presente para a noiva. O espelho
encantado! … Formozina correu para pegá-lo e vovó o quebrou contra o piso de
mármore. Um lamento partiu da multidão, os ricos convidados estavam
horrorizados, o noivo desmaiou… Formozina, a linda modelo mundialmente
elogiada por sua divinal beleza, transformara-se novamente em Zina, a feia.
         Zina
voltou para a zona rural, acabou não casando e nem devolvendo as propriedades
que o ex-noivo passara para seu nome; – “Posso ser feia, mas não sou laranja! O
que é meu é meu, ninguém tasca.”
         Zina
pediu mil desculpas a vovó Nachel e a presenteou com uma imensa mansão, com um
laboratório completo para bruxarias e feitiços. Comprou de papel passado um tal
de Evandro, tido como o mais belo sitiante, casou e é muito feliz. Quem diz que
a felicidade não tem preço, não conhece Evandro nem Zina.
Gastão Ferreira/2012     
        
         

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