Todos juntos…

TODOS JUNTOS (45+40+15= 100%)—-

A briga é feia durante o período eleitoral. Segredos dos antepassados são revelados, mágoas adormecidas há muito tempo voltam à baila repentinamente; – “Seu avô era um Cocho miserável!”, “Seu tio nunca passou de um Berne fedorento…” e por aí vai. Formigas, Tamanduás, Andorinhas, Gaivotas, Curupiras e Boitatás se enfrentam em palanques e sobram desaforos, abraços, palmadinhas nas costas e santinhos.
O encontro das caminhadas entre os adversários para os comícios muitas vezes se transformaram em guerra. As hastes das bandeiras foram utilizadas como bordunas, estiletes, lanças… Hoje rojões pipocam de todos os lados, fogos de artifício disputam qual o mais esplêndido a enfeitar os ares… Carros de som concorrem na categoria “surdinho são vocês”, as musicas dos inúmeros candidatos a vereadores pleiteiam a mais admirável letra de todos os tempos.
A cidade fica dividida em três tribos, dessa vez, tribo-15, tribo-40, tribo-45. Cada tribo com seu cacique, seus guerreiros, seus Pajés, seus afetos e desafetos, índios querendo apito, favores, cestas básicas, espetinhos de carne e cerveja.
As famílias põem a conversa em dia contando casos do passado e sempre envolvendo algum candidato; – “Puxou ao pai!”, “Esse é mais ensaboado do que bagre!”, “De pau mandado o mundo está cheio!” e por aí vai…
Os parentes ficam de mal uns com os outros… Vizinhos não se cumprimentam… Irmãos se estapeiam… Filhas apaixonadas por filhos de rivais sofrem igual Romeu e Julieta… Pessoas são expulsas de bares por defenderem seus pontos de vista. Cachorro briga com gato, oncinhas com jaguatiricas, pescadores com pedreiros, entregadores de pizzas com motobois… Ofensas gratuitas no Facebook, olhos roxos e mistérios desvendados; – “Agora que reparei! Olha bem a cara desse fulano no santinho. É filho do Asdrúbal da quitanda… Repara bem! É a cara escarrada do seu Pedro. Será que dona Maricota pulou a cerca?”
Enquanto a plebe vil defende com unhas e dentes seu candidato, arrumando briga com meio mundo, os maliciosos, os fofoqueiros murmuram que os pretendentes ao cargo máximo se encontram as escondidas e rifam cargos, secretarias e departamentos em mil inconfessos conchavos.
Os candidatos a cargos eletivos, que passaram quatro anos sem conhecer ninguém, de um momento para outro se transformam nas pessoas mais amáveis, educadas, gentis que o mundo já viu. Percorrem as ruas a pé e perguntam até mesmo o nome do nosso cachorro… Bebem café sem olhar se o copo está sujo, sorriem pela piada mais imbecil, elogiam nossos filhos que nem conhecem, perguntam por nossa avó que já morreu por falta de atendimento médico… Que gente humilde! Merecem nosso voto.
Os pretendentes, por serem muitos e os cargos poucos, jogam pesado, falam mal dos rivais, lembram antigas falcatruas dos desafetos as quais desconhecemos… Falam de mil empregos que vão criar, das melhorias necessárias ao progresso, dos problemas que foram esquecidos durante quatro anos e de repente voltaram com força total, esquecidos de que as dificuldades não são de hoje e de que, quando compartilhando do poder, nada fizeram.
Após o termino do pleito, tudo volta ao normal… As ruas continuarão esburacadas, a saúde pública deficitária, a moçada sem emprego fixo… Familiares e bajuladores serão contratados para cargos comissionados… 45 + 40 + 15 = 100%… Todos Juntos e de mãos dadas até a próxima eleição.

Gastão Ferreira/2012

Observação; – Esse texto é pura ficção… Qualquer semelhança com a realidade é coisa da cabeça do simpático leitor. Em nossa querida cidade, todos os políticos independente de partidos, só querem o nosso bem e o progresso do município.

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