Anhangá nosso rei e senhor.

A VISITA DOS DEUSES…

Os antigos gregos acreditavam que a terra fosse chata e redonda, sendo o Monte Olimpo na Tessália, a residências dos deuses, ou Delfos, o centro do mundo.
A abóbada terrestre era atravessada de leste a oeste e dividida em duas partes iguais pelo Mar, nome pelo qual os helenos chamavam o Mediterrâneo.
Em torno da terra corria o Rio Oceano, cujo curso era do sul para o norte na parte ocidental do globo e em direção contrária do lado oriental. Era dele que o Mar e todos os rios recebiam suas águas.
A parte setentrional da terra era habitada por uma raça feliz, chamada Hiperbóreos, que desfrutavam uma primavera eterna e uma felicidade perene.
Na parte meridional, junto ao curso do Oceano, morava um povo tão feliz e virtuoso quanto os Hiperbóreos, conhecidos como Etíopes.
Na parte ocidental da terra, banhada pelo Oceano, ficava um lugar abençoado, Os Campos Elíseos, para onde os mortais favorecidos pelos deuses eram levados sem provar a morte, a fim de gozar a imortalidade da bem-aventurança. Essa região feliz era também conhecida como “Campos Afortunados” e “Ilha dos Abençoados”.
Um manuscrito antigo, escrito em grego arcaico, foi encontrado recentemente na Caverna do Ódio. Os peritos estão eufóricos, o documento quase ilegível demonstra de forma concisa e sem deixar dúvida que a “Ilha dos Abençoados” é a nossa visinha Ilha Comprida.
As escritas contam que Hermes (O deus Mercúrio dos romanos) após uma bacanal, calçou suas sandálias aladas e voou sem destino para a parte ocidental da terra, cansado avistou uma ilha verdejante e pousou na branca areia da praia. Ao acordar estava cercado pelos aborígines, pessoas seminuas que lhe ofereceram frutas e peixes. Os nativos tinham um modo peculiar de andar, requebravam os quadris, davam pulinhos, o deus os apelidou de Sambaquis, que em grego significa aquele que samba aqui.
Hermes, o mensageiro dos deuses, também era o deus dos comerciantes e dos ladrões. Ensinou suas artes aos inocentes selvagens que a espalharam pelo imenso continente.
Afrodite (A Vênus romana) a deusa do amor e seu filho Eros (Cupido), preocupados com o desaparecimento de Hermes saíram a sua procura… Uma Fênix contou do paradeiro do deus. O encontro deu no que falar, Eros gastou seu estoque de setas com os novos amigos… Afrodite, que não gostava de uma sacanagem, aproveitou as férias e instruiu os nativos em suas artimanhas amorosas.
Ares (Marte o romano deus da guerra), na época curtindo uma paixonite aguda por Afrodite, apesar de a mesma ser a esposa oficial de seu irmão Hefestos (Vulcano o romano artista celestial), localizou sua amada e chegou botando panca… As muitas tribos partiram para a luta e deu no que deu; – Os ingênuos formadores de sambaquis foram totalmente exterminados.
O restante do manuscrito está praticamente ilegível. O pouco que foi decifrado dá uma noção de quão profundas são nossas raízes civilizatórias… Aprendemos com o próprio deus dos larápios as falcatruas e a rapinagem… Com Afrodite a arte de amar sem medir as consequências… Com Eros, o erotismo sem maldade e com Ares, a sede de sangue, a perseguição aos desafetos, à arrogância desmedida com os menos afortunados, herdamos do deus da guerra à estranha mania de combater pessoas em vez de ideias.
Sim! Os deuses nos visitaram e Anhangá foi um aluno aplicado… O Curupira, protetor das matas e as Iaras nossas ninfas das águas cristalinas rogaram humildemente a Tupã pelo retorno da harmonia… O mal deixou raízes adormecidas e Tupã fechou Pindorama numa redoma de paz… Quando as caravelas chegaram com um novo deus e novos senhores, o mal despertou e Anhangá foi coroado vencedor.

Gastão Ferreira/2012

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