Zuter, o Corvo…

ZUTER, O CORVO…

 Na idade das fábulas um primo em décimo grau de Zeus foi expulso do Olimpo e exilado próximo a uma grande ilha, seu nome; – Zuter!
 O motivo da exclusão estava ligado ao uso excessivo de Néctar e Ambrosia misturada a canabis, ópio, cocaína, crake, saquê, uísque, tequila e cachaça.

Zuter era belo como só pode ser um descendente dos deuses olímpicos, mas sua alma era negra como as asas da mais negra gralha, entre os imortais era conhecido como Zuter, o Corvo!

 Na realidade Zuter era um tarado, um abusado que transou com a Medusa e não se transformou em pedra. Teve casos com a Esfinge, a Górgona, um Centauro, um Sátiro e com diversos heróis que compartilharam de seus porres homéricos.

 Nenhum escritor, dramaturgo, poeta, vate ou doido varrido ousou contar a verdadeira história de Zuter, o expatriado do Olimpo. Em principio por temerem a ira de Zeus e seus mortíferos raios, pois revelar os podres dos poderosos sempre foi fatal a um reles mortal, depois por puro medo das fogueiras da Santa Inquisição medieval. Assim a lenda de Zuter, o Corvo, seguiu para o esquecimento até o dia em que um pergaminho foi encontrado na Caverna do Ódio e o mito reviveu.

A tradução foi demorada e controversa, pois Junica, a Purpurina-má, um gay perverso que odiava a quem matasse a cobra e não lhe mostrasse pessoalmente o pau, não aceitou a versão oficial julgando que se tratava de sua própria biografia. Quando o rei Corrupto-I foi destronado e Junica finalmente perdeu o cargo de “A bostinha cheirosa” e foi rodar bolsinha em outra freguesia, a história de Zuter foi revelada ao mundo.

 A irmã lésbica dos Três Porquinhos teve um surto e arranjou um amante pela primeira vez na vida, Dina Hipopótamo começou a sério um regime, vovó Nachel passou meses bebendo água e quase pirou, Dito Cheira-cheira descobriu o aroma das flores e virou Beija-flor, as Garotas do Mal viraram crentes e as Meninas do Bem se entregaram a mais deslava orgia e tudo isso ocorreu após a leitura da terrível saga de Zuter, o Corvo.

 O manuscrito ficou conhecido como “A maldição do Corvo”, pois a todos que conheceram seu conteúdo algo de muito estranho ocorreu. Zé Machão leu e na mesma hora saiu em desabalada carreira pelas ruas gritando; – “Meu nome é Leila!… Me comam… Me comam!”. Dona Benvinda, uma rica anciã de noventa e seis anos, abandonou seu Ventura após um abençoado casamento de mais de setenta anos e se juntou a Mequetrefe, um garoto de quinze anos usuário de drogas e foi muito infeliz. Dona Margot, a francesa, deu tudo o que tinha aos pobres e foi morar embaixo de uma ponte, pegou uma pneumonia e desencarnou prematuramente. Um jovem e honesto político perdeu o mandato e desapareceu por oito anos sem deixar saudades. Alguém muito conhecido caiu de uma moto parada e quase perdeu a perna. Um menino recém-alfabetizado ao ler, a muito custo o manuscrito, criou barba na mesma hora e fugiu com um circo que visitava o povoado.

 Os cidadãos se reuniram e pela primeira vez na vida não soltaram foguetes, simplesmente imploraram ao poder constituído que todas as cópias do nefando manuscrito fossem destruídas e o original colocado numa garrafa hermeticamente vedada e lançada ao mar… Assim foi feito segundo a vontade do povo e até hoje não entendi o porquê de jogarem no mar o tal pergaminho, coisa de loucos, acho eu!

O que ninguém sabe é que uma única cópia sobreviveu. Junica a Maldita escondeu uma reprodução do texto original para futura vingança… Quem viver lerá! A lenda de Zuter, o Corvo definitivamente ainda não morreu.

Gastão Ferreira/2012

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