A poesia é um vento… Monólogo.

A POESIA É UM VENTO…

O vento vinha ventando pelos caminhos do mundo…
Espiava sobre os telhados, sobre velas de jangadas…
Cantava pelas esquinas, ventava pelas estradas.

O vento perdeu o rumo numa noite sem luar e dormiu feita criança sonhando com o seu ventar…
Acordou na madrugada ouvindo um galo a cantar e lá no alto do monte o vento ficou espiando a cidade despertar…
Viu o povo batalhando na procura do melhor, professor professorando, pedreiro a pedrejar, o pastor pastoreando, a criança a estudar, o rio sereno buscando as águas azuis do mar…

E o vento encantado, com tudo o que ele via, da cidade, enamorado pelas esquinas corria…

Viu a velha na janela espiando o fim da rua…
Ouviu riso de menina, ouviu prantos e canções…
Viu na mesa de quem come o que no prato restou, viu mendigo mendigando que com fome despertou.

Viu amor e abandono…
Viu tristeza e solidão, viu o pobre e o rico, viu o doente e viu o são. Viu pessoa trabalhando em diversa profissão…
O amor abrindo portas, ódio fechando em prisão…
Viu um dedo apontando a beleza e a podridão.

Muita gente se encontrando, outros perdendo a razão…
Viu olhares de incertezas, viu desprezo e safadeza em quem nunca se amou…
Viu orgulho, viu pobreza, viu bondade e viu horror…
Viu maldade gratuita, coração enganador, viu gentinha se achando ser de tudo o senhor…
Viu sonhos desencantados, ouviu gritos de agonia. Amantes desesperados vivendo de fantasias…

O vento quedou-se mudo…
Só ventar é o que sabia…
O vento nunca pensou que essa cidade existia!

Soprou no banco da praça uma brisa de alegria e os casais enamorados os seus beijos ali sentiam…
Soprou no adro da igreja e o rezador se benzia…
Soprou no supermercado, nos bares e padarias, no varejo e no atacado, na porta do cemitério…
Soprou por todos os lados, soprou por sobre mistérios…

Na cidade já desperta, o povo se perguntava:-“ Que será que acontecia que o vento tanto ventava?”

O vento sabia tudo, tudo o que se passava…
Corria de casa em casa e a tudo espiava…
Passou pelos gabinetes dos mandantes do local…
Ouviu risos e palpites, viu o bem e viu o mal.

Leu na banca de revistas as notícias no jornal…
Viu ladrão e viu polícia, viu os barcos no canal…
O vento ventou mansinho, pois de tudo ele entendia, em sua vida de vento ventava todos os dias…

Afastou-se da cidade…
Sobre a montanha dançou…
E depois seguiu ventando e de tristeza…
Chorou!

GASTÃO FERREIRA/Iguape/2009

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