Na cidade grande…

OMISSO… UM CÃO FELIZ.

Meu nome é Omisso. Um apelido estranho para um cão criado no sitio, se bem que meu pai, o Senhor Hideu Okubo encantou-se por tal nome, ainda bem que ele não colocou seu sobrenome como minha alcunha.
Pai Okubo planta maracujá, aipim, abóboras, couve, caqui, cheiro-verde e muitas hortaliças… É um pequeno sitiante e todo Domingo participa da “feirinha rural” na Praça da Matriz. Nessa semana completei cinco meses de idade, já sou um garoto esperto e muito sapeca e pela primeira vez vim conhecer a cidade grande.
Enquanto papai vendia seus produtos eu dei uma escapulida para conhecer os arredores, confesso que quase me perdi. Cidade grande é uma coisa muito confusa. Pai Hideu nunca derrubou um pé de palmito, desmatamento é crime ambiental, fiquei pasmo com o que um grupo de indígenas vendia! Alem dos palmitos, orquídeas, bromélias… Só não fiquei mais indignado porque ganhei um pedaço de bolo de um curumim que estava pedindo moedas aos passantes.
Papai sempre comentava sobre o Mar Pequeno. Meu Bonje! Como é estreito. Só capim e um filete de água. É bem menor que o córrego do sitio e bem sujinho… Garrafas pets, sacolas plásticas e muito lixo na margem… Chocante! Também conheci a famosa Orla do Valo Grande, a obra faraônica que custou milhões e está surucando… Uma afronta ao bom senso e a cidadania! Coisa de gente esperta e não de um tolo cachorro ignorante que nem eu.
Na cidade grande tem muitos prédios velhos pedindo socorro, estão desmoronando e vi alguns turistas batendo fotos e elogiando a antiga arquitetura… Fiquei imaginando todos eles reformados. Que belezoca!
Por meu gosto, meu nome seria Faro-fino, fui bem longe e não me perdi… Voltei à praça e fiquei vigiando a barraca de pai Okubo. Tem um monte de jovens em situação de rua, nome bonito para quem não quer batalhar o próprio sustento e que ficam pedindo um “Reau” para comprar pão. Dizem que roubam os feirantes… Que vergonha! Sou apenas um cachorrinho e ganho honestamente meu sustento… Espanto o Gavião quando quer roubar um pintainho, corro atrás da Raposa quando vem roubar galinhas, aviso a chegada de estranhos… Trabalho feito cachorro grande e gosto do que faço… Sou um cão feliz.
Não vejo a hora de voltar para o sossego do sitio. Um senhor disse a papai Hideu que uma senhora de nome Dengue está na cidade… Falou tão mal da madame que estou apavorado… Quem a conhece fica dengoso, sente dor nos olhos, perde o apetite, tem febre e pode sofrer hemorragia e ficar com sequelas para o resto da vida… Macabro!
Gostei da “feirinha rural”, ganhei muitos afagos, conheci um montão de gente… Espero voltar outras vezes e contar para todos os amigos do sitio as novidades… Meu nome é Omisso, mas não sou omisso! Sou apenas um filhote de cachorro tentando entender os humanos… Como são complicados! Um dia eles aprenderão que para ser feliz basta ser simples. Fui.

Omisso, um cão feliz.

Gastão Ferreira/2013

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