Final Feliz…

ADOÇÃO… FINAL FELIZ!

Todos conhecem a história de Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau. A vida para Chapeuzinho não foi nada fácil, ficou marcada definitivamente. Rotulada como alguém fútil e digamos assim, um tanto oferecidinha… Na época foi um verdadeiro escândalo, pois pouquíssimas pessoas escapavam incólumes de um encontro com um lobo.
A menina cresceu sem amigos, era mal vista na sociedade, tornou-se uma garota solitária, uma moça ingênua, uma mulher mal amada, uma velha ranzinza… Só não passou maiores apuros porque herdou a casa da floresta, era a única neta da vovó.
Viveu esquecida de todos. Amargurada e sem amigos. Quando completou oitenta anos de idade, ou melhor, quando chegou a melhor idade, cheia de dores reumáticas, um caquinho de gente, resolveu adotar um amiguinho de quatro patas e acabar de vez com sua imensa solidão.
Colocou o famoso chapéu vermelho e dirigiu-se ao Canil Municipal… Foi atendida pela doutora Camila, a famosa protetora de toda a fauna da floresta, tipo assim, uma Marina Silva daquela época longínqua.
– “Gostaria de fazer uma adoção, querida!” Disse a senhora de chapéu vermelho.
– “Um felino ou um canídeo? Ou talvez um porquinho da Índia, uma capivara, uma preá, um pássaro canoro, um papagaio? Temos mil opções.” Informou a doutora Camila.
– “Estou pensando em adotar um canídeo. Vivo sozinha na floresta e nessa altura da vida, alguém para me proteger é fundamental.” Complementou a garota da melhor idade.
– “Creio que a melhor opção será um cão de porte pequeno, dócil e fácil de cuidar. A senhora não tem mais idade para ficar se preocupando…” Falou a doutora Camila.
– “Como assim? Não tem mais idade! Está me chamando de velha, mocinha?” Exaltou-se a do chapéu.
– “Não! De maneira nenhuma minha senhora. Uma pessoa tão bem conservada! Queira desculpar se a ofendi.” Disse uma encabulada doutora Camila.
– “Obrigada querida! Hoje estou completando oitenta anos de vida e o seu elogio me deixa tão feliz… Não são todas as que chegam nessa idade vendendo saúde como eu… Vamos escolher o cachorrinho?” Solicitou Chapeuzinho Vermelho.
Adentraram o Canil e a doutora Camila foi mostrando cada animal recolhido das ruas e matas pela municipalidade.
– “Aqui ficam trancafiados muitas espécies de nosso ecossistema, a maioria abandonada pelos donos. Temos desde filhotes nascidos na instituição, até velhos e solitários animais que tem como último refugio esse abrigo… Repare naquele velho lobo!” Mostrou uma emocionada doutora.
– “Meu Bonje! Um lobo. Desde criança que não avisto um lobo… Vamos chegar mais perto!” Solicitou a mocinha da terceira idade.
– “Ora, ora! Mas não é a Chapeuzinho Vermelho que vejo a minha frente. A que devo a honra de sua visita após tão longo tempo?” Exclamou o caquético lobo.
– “Meu Deus! O lobo que quase comeu minha vovó! Nossa amigo! Você está bem acabadinho…” Disse a senhora.
– “Pois é estou chegando aos cem anos de vida. Quando nos conhecemos eu tinha vinte anos de idade e você uma menininha muito sapeca de oito aninhos…” Babou o lobo, olhando eroticamente para Chapeuzinho Vermelho.
– “Tolinho! Não fale assim que eu me envergonho. Jamais consegui te esquecer!” Suspirou a senhora de chapéu vermelho.
– “Nem eu! Você foi o único ser humano que eu amei realmente…” Choramingou o velho lobo.
– “Vou levar você para morar comigo na floresta, só nos dois… Temos tanto para conversar… Eu tenho uma vida inteira para te contar… Nossa! Setenta e dois anos sem nos vermos. Quanto tempo!” Lembrou a do chapéu.
A doutora Camila tentou impedir a adoção. O lobo também estava na melhor idade e não duraria muito… Era um tanto selvagem… Poderia talvez até comer a adotante!… Não, isso não! Já passara da idade de comer alguém.
A doutora ficou impressionada… Junto à velha senhora de chapéu vermelho, o lobo era dócil e a olhava com aquele olhar de adoração com o qual os cães costumam presentear seus donos… Enfim que sejam felizes!
Foi assim que Chapeuzinho Vermelho reencontrou o Lobo Mau… Ambos cheios de experiências, cansados das armadilhas da vida, já não ligam mais para o quê os outros pensam… Só querem ser felizes e com certeza foram, agora sim, felizes para sempre!

Gastão Ferreira/2013

  • Anônimo
    19 de abril de 2013 - 12:28 pm · Responder

    Até que enfim leio uma extensão inédita de um final feliz para um conto que na verdade retrata o despertar sexual e a maturidade menstrual de uma jovem que atinge seu desdobramento máximo na idade avançada.Gostei.

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