Depois da meia noite

 

                Quando Maria
Lambisgóia saiu do baile de viola às três horas da madrugada, ela sabia muito
bem o que poderia lhe acontecer; Cidinha Borogodó, Nelson Escangalhado e
Ditinho Desmilinguido, seus acompanhantes eram pessoas da pá virada,
sacripantas, gente do balacobaco, péssima companhia para uma moça de família.

 

         Cidinha
Borogodó, chapada, bêbada, alcoolizada, resolveu ter um siricutico bem numa
encruzilhada que ficava ao lado de um cemitério. Seu colega de farra, Ditinho
Desmilinguido, avisou; – Borogodó, encruzilhada não é um bom lugar para um
faniquito…

 

        
Vai cuidar da tua vida, Desmilinguido! Não tenho medo de urucubaca, não ligo
necas de pitibiriba para essas visagens que costumam aparecer nas horas
tardias; o piripaque é meu e ninguém manda em mim…

 

        
“Não é bem assim, Cidinha! Lembra de nossa amiga Zenaide Ziriguidum?
Desapareceu misteriosamente nesta mesma encruzilhada, então vamos respeitar os
seres que caminham na escuridão.”, disse Nelson Escangalhado.

 

         Maria
Lambisgóia ficou apavorada, lembrava muito bem de Zenaide Ziriguidum, foi sua
colega de escola, uma sirigaita dando uma de pudica, escafedeu-se no mundo,
dizem que foi abduzida por um espírito das trevas. Quanta imaginação deste povo
abestado! Raptada por um ser da escuridão; me poupe!

 

         O
homem vestia uma capa vermelha e preta, negros cabelos muito bem aparados,
barba escanhoada, olhos azuis contrastando com a pele morena, ele parecia
flutuar, talvez efeito da capa que arrastava no chão; – “Sou o guardião desta
rua, lembre-se que estão frente a um campo santo, e as almas dos mortos merecem
respeito…”

 

        
“Olha aqui, oh fantasiado!”, falou Cidinha Borogodó, “ vai cuidar da tua vida,
que conversa estapafúrdia é esta; campo santo, guardião da rua, querendo dar
uma de Tranca Rua das Almas, cai fora, xará!”

 

        
“Hora de aprender a respeitar o desconhecido!”, o homem cobriu Borogodó com sua
negra capa, Cidinha deu um grito e desmaiou. O homem simplesmente sumiu, o
homem desapareceu. Os colegas arrastaram e sentaram Borogodó na calçada; quando
ela voltou a si, arregalou os olhos, fez cara de poucos amigos e perguntou; –
Quem são vocês?

 

        
Somos os seus amigos, Cidinha! Estamos acompanhando Maria Lambisgóia até em
casa…

 

        
Maria Lambisgóia vai sozinha para casa, e vocês me sigam, vamos visitar Zenaide
Ziriguidum que está se sentido muito solitária; ah, sim… Meu nome é Maria
Padilha, podem esquecer a Cidinha Borogodó…

 

         Um
vento gelado, vindo ninguém sabe de onde, soprou, a luminária pública apagou, a
lua foi encoberta por uma grande nuvem, por um breve momento a escuridão foi
total. Quando a ventania passou e a luz voltou ao normal, Maria Lambisgóia
estava só frente ao cemitério, nenhum sinal de seus colegas, colegas que ela
nunca mais encontrou.

 

         Esta
história foi testemunhada por irmã Maria de Jesus, uma serva do Senhor, aquela
que um dia foi apelidada de Maria Lambisgóia, mas que não pertence mais à este
mundo perdido; paz do Senhor, irmãos!

 

Gastão Ferreira/2020

 

 

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