O cão fantasma

 

         Na
rodovia que liga a cidade de Iguape à cidade de Pariquera, na altura do bairro
rural de Ilha Grande, existe um sitio onde nenhum vivente costuma passar após
as vinte horas; no local, diz que aparece um cachorro de olhos brilhantes, a claridade
é tanta que chega a iluminar a estradinha de terra batida.

 

         Muitos
motoristas de ônibus, que trafegam no horário noturno entre as duas cidades,
afirmam que já notaram a presença de um estranho cão, e que ele costuma
atravessar a pista asfaltada e seguir em direção ao sítio de seu Antenor
Guaxica, um dos moradores mais antigos do lugar, pois sua família habita estas
terras há mais de trezentos anos.

 

         Nhá
Margoti, esposa de nhô Guaxica, conta que sua bisavó que passou dos cem anos
dizia que aquele cão estava zanzando pela região desde a época das Entradas e
Bandeiras, e que segundo a lenda urbana o cachorro era de um curumim que foi
vendido para um engenho de uma freguesia distante.

 

         Quando
aprisionaram o indiozinho, o cão tentou defender o curumim, e acabou sendo
morto a pauladas, e desde então toda a vez que algo estranho está para
acontecer ele é visto pelas redondezas, as pessoas se pelam de medo quando
cruzam com o cão fantasma, pois é morte na certa de alguém da família.

 

         O
menino Roberval estava pescando traíras, depois do escurecer na lagoa perto de
sua casa, ouviu um barulho na mata, e quando espiou notou dois olhos verdes
chamejantes. O guri saiu em disparada, e no dia seguinte ficou sabendo que Mané
Sabiá, seu colega de escola, foi atacado por um lobisomem bem próximo da
lagoinha onde também estava pescando, se o cão não tivesse aparecido a vitima
era para ser o Roberval.

 

         Normalmente
quando o cão aparecia para uma criança, ou adolescente, era sempre um aviso de
perigo iminente, mas se a visagem surgisse frente a um adulto, o bicho pegava
feio… Muitas pessoas não acreditavam, elas acabaram pagando um preço amargo
pela descrença; Dona Mirthes e sua comadre Nhá Zileide estavam num descampado
colhendo plantas medicinais a luz do luar, o cão apareceu do nada, Nhá Zileide
escafedeu-se e foi parar na rodovia asfaltada… Dona Mirthes debochou da
amiga; – Vorta, muié! É só um cachorro abandonado na estrada. Vorta abobada!

 

         Foram
suas últimas palavras, foi picada por uma jaracuçu e meia hora depois estava
mortinha da silva. O mesmo aconteceu com Seu Januário Crente; o homem estava
caminhando pela rodovia e avistou o cão vindo em sua direção, era um aviso para
que ele saísse da avenida, ele nem ligou! Foi atropelado por um caminhão e
passou desta para outra de vez.

 

         Meu
primo Paulo, e tia Clarisse foram a Pariquera ontem à noite; Paulo foi levar a
mãe na emergência do Hospital Regional, e naquele trecho da rodovia, próximo ao
bairro Ilha Grande eles cruzaram com o cão fantasma, o cachorro estava sentado
no acostamento…

 

         Estamos
ansiosos para saber como está tia Clarisse, ela ficou internada… Paulo voltou
sozinho, mas ficou parado na rodovia um bom tempo, aconteceu um acidente
horrível às 23 horas, e bem naquele local onde o cão fantasma estava de vigia,
Paulo e tia Clarisse passaram pelo local exatamente às 22 horas e 55 minutos;
escaparam por pouco, espero que não sobre para a tia Clarisse, estamos
aguardando notícias.

 

 

Gastão Ferreira/2020  

 

        

 

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