UM DIPLOMA AO PRESIDENTE
Na cidade de Pindaíba o descaso era regra geral; lixo
nas calçadas, ratos e gatos nas ruas, cães sarnentos implorando um pedaço de
churrasquinho; menininhos detonando telefones públicos… Meninas boas rezando
e menininhas más perambulando pelas madrugadas, enchendo a cara em bares e
clubes, ou seja; curtindo a vida inocentemente.
nas calçadas, ratos e gatos nas ruas, cães sarnentos implorando um pedaço de
churrasquinho; menininhos detonando telefones públicos… Meninas boas rezando
e menininhas más perambulando pelas madrugadas, enchendo a cara em bares e
clubes, ou seja; curtindo a vida inocentemente.
Os mendigos, proprietários oficiais das praças e
calçadas, cobravam pedágio aos visitantes cansados que queriam se sentar nos
límpidos e intactos bancos; os pedintes alegavam que a grana era para comprarem
pão. Curumins carentes pediam “um reau” para comprarem pão; bêbados pediam “um
reau” para comprarem pão; turistas pediam café com pão e todas as padarias
reclamavam que quase não vendiam pão… Pão?
calçadas, cobravam pedágio aos visitantes cansados que queriam se sentar nos
límpidos e intactos bancos; os pedintes alegavam que a grana era para comprarem
pão. Curumins carentes pediam “um reau” para comprarem pão; bêbados pediam “um
reau” para comprarem pão; turistas pediam café com pão e todas as padarias
reclamavam que quase não vendiam pão… Pão?
Todo o mundo brigava com todo o mundo e todos
falavam mal de todos; os cuidantes da vida alheia não apenas cuidavam como anotavam
locais e hora a fim de confirmarem com outros cuidantes se seus cuidados foram
cuidadosos; ninguém conseguia levar a vida numa boa; a solução foi amarrar uma
cordinha na tal de vida e ir puxando lentamente e sem traumas; quem ainda
possuía dinheiro dirigia-se a uma cidade próxima para fazer vultosas compras e
assim, na vetusta, poucos sabiam quem realmente tinha grana; os muito ricos
agiam dessa forma por medo de assalto, ou, de assedio para pagamento de água e
luz em atraso.
falavam mal de todos; os cuidantes da vida alheia não apenas cuidavam como anotavam
locais e hora a fim de confirmarem com outros cuidantes se seus cuidados foram
cuidadosos; ninguém conseguia levar a vida numa boa; a solução foi amarrar uma
cordinha na tal de vida e ir puxando lentamente e sem traumas; quem ainda
possuía dinheiro dirigia-se a uma cidade próxima para fazer vultosas compras e
assim, na vetusta, poucos sabiam quem realmente tinha grana; os muito ricos
agiam dessa forma por medo de assalto, ou, de assedio para pagamento de água e
luz em atraso.
O povo estava inadimplente; cartas de cobrança
amigável eram entregues pessoalmente com ameaças tenebrosas, ditas na cara do
devedor e sem provas; – “Hoje é amigável! Amanhã?… Te cuida! É na justiça.”,
e, seguia-se o famoso gesto dos pistoleiros do velho oeste americano… Para
quem tentava negociar as velhas dívidas era pior; – “Devo R$ 1.000,00 e não
tenho como pagar! Como poderei dispor de R$5.000,00 com os juros, correções,
advogados, taxas e sobre taxas embutidas nas contas atrasadas?”, “To nem aí! Se
vira. Vende a droga da casa, o cachorro, um filho, a puta que te pariu, mas
paga, hein! O homem vem aí novamente! Rárárá… Não pediu? Dê a volta para o
futuro… Otário!”
amigável eram entregues pessoalmente com ameaças tenebrosas, ditas na cara do
devedor e sem provas; – “Hoje é amigável! Amanhã?… Te cuida! É na justiça.”,
e, seguia-se o famoso gesto dos pistoleiros do velho oeste americano… Para
quem tentava negociar as velhas dívidas era pior; – “Devo R$ 1.000,00 e não
tenho como pagar! Como poderei dispor de R$5.000,00 com os juros, correções,
advogados, taxas e sobre taxas embutidas nas contas atrasadas?”, “To nem aí! Se
vira. Vende a droga da casa, o cachorro, um filho, a puta que te pariu, mas
paga, hein! O homem vem aí novamente! Rárárá… Não pediu? Dê a volta para o
futuro… Otário!”
As melhores mentes,
as que mentem melhor, aquelas que foram escolhidas a dedo para auxiliarem os
munícipes em suas necessidades, foram alertadas; elas, as mentes, é claro! Pertencentes
à elite intelectual, de moral ilibada, honradez testada e aprovada, humildade
reconhecida até pelo bispo, dignos servidores do bem comum, amados e defendidos
mesmo por ferrenhos desafetos, resolveram após consultas ($) e mais consultas
($$$), intervir; – “A solução é dar um diploma de cidadão ao presidente”.
as que mentem melhor, aquelas que foram escolhidas a dedo para auxiliarem os
munícipes em suas necessidades, foram alertadas; elas, as mentes, é claro! Pertencentes
à elite intelectual, de moral ilibada, honradez testada e aprovada, humildade
reconhecida até pelo bispo, dignos servidores do bem comum, amados e defendidos
mesmo por ferrenhos desafetos, resolveram após consultas ($) e mais consultas
($$$), intervir; – “A solução é dar um diploma de cidadão ao presidente”.
O povo babou! O dinheiro apareceu e o fato
ocorreu; para confeccionar o título a ser ofertado ao presidente contrataram um
famoso pintor, pai de santo, carnavalesco e sapateiro local, cujos diplomas
perfeitos, diga-se de passagem, ou não, quase enfeitaram as paredes do
Vaticano; pois não foi que já tentaram dar um diploma ao Papa! Um
artesão conhecidíssimo, muito premiado por suas esculturas em barro, executou
com esmerada exatidão a figura do figurão junto ao símbolo da cidade; três
torres e um bolinho de roda!
ocorreu; para confeccionar o título a ser ofertado ao presidente contrataram um
famoso pintor, pai de santo, carnavalesco e sapateiro local, cujos diplomas
perfeitos, diga-se de passagem, ou não, quase enfeitaram as paredes do
Vaticano; pois não foi que já tentaram dar um diploma ao Papa! Um
artesão conhecidíssimo, muito premiado por suas esculturas em barro, executou
com esmerada exatidão a figura do figurão junto ao símbolo da cidade; três
torres e um bolinho de roda!
A terceira idade foi dispensada do evento; teve
choro e ranger de dentaduras, as garotas da melhor idade eram em número
insuficiente para formarem um coral; os pedintes cantantes, moradores eventuais
das praças e ruas, foram contratados e bem pagos (cinco garrafas de 51). Apresentaram
músicas antigas e famosas; “bebo sim e estou vivendo, tem gente que não bebe e
está morrendo”, “tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer…”, e, para
fechar o show, “a marvada pinga é que me atrapaia…”
choro e ranger de dentaduras, as garotas da melhor idade eram em número
insuficiente para formarem um coral; os pedintes cantantes, moradores eventuais
das praças e ruas, foram contratados e bem pagos (cinco garrafas de 51). Apresentaram
músicas antigas e famosas; “bebo sim e estou vivendo, tem gente que não bebe e
está morrendo”, “tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer…”, e, para
fechar o show, “a marvada pinga é que me atrapaia…”
Os carnavalescos, dessa vez, não brigaram entre si
e de comum acordo enfeitaram a cidade; os bem pagos representantes do povo com
seus inúmeros convidados (nepos, nepinhos e nepões) comeram e beberam do bom e
do melhor, e, protegidos da gentalha que os colocaram em seus elevados postos
sob uma tenda armada especialmente para o faraônico evento e guardada por
seguranças armados, faziam mesuras e rapapés entre si; já o povão e seus
inúmeros filhos ficaram debaixo de sol para pegarem uma cor e aprenderem a não
reclamar da vida e dos que os amam de verdade verdadeira; a muito custo foram
agraciados com alguns espetinhos de gato, lambidos e jogados de dentro da
luxuosa tenda pelos educados participantes do rega bofe oficial. O
homenageado, um tanto torrado de tanta bebida, abriu o belo e caríssimo diploma
e falou; – ‘Hic… Hic… Eu hein!”, e foi muito aplaudido… O mandatário fez
um longo e exaustivo discurso; enalteceu suas numerosas e incríveis bem
feitorias e após baixar o sarrafo nos adversários e desafetos, concluiu; –
“Nesse mês homenageamos o presidente da Brahma, mês que vem será o da Skol…
Ao sucesso!… Hic… Hic… ”
e de comum acordo enfeitaram a cidade; os bem pagos representantes do povo com
seus inúmeros convidados (nepos, nepinhos e nepões) comeram e beberam do bom e
do melhor, e, protegidos da gentalha que os colocaram em seus elevados postos
sob uma tenda armada especialmente para o faraônico evento e guardada por
seguranças armados, faziam mesuras e rapapés entre si; já o povão e seus
inúmeros filhos ficaram debaixo de sol para pegarem uma cor e aprenderem a não
reclamar da vida e dos que os amam de verdade verdadeira; a muito custo foram
agraciados com alguns espetinhos de gato, lambidos e jogados de dentro da
luxuosa tenda pelos educados participantes do rega bofe oficial. O
homenageado, um tanto torrado de tanta bebida, abriu o belo e caríssimo diploma
e falou; – ‘Hic… Hic… Eu hein!”, e foi muito aplaudido… O mandatário fez
um longo e exaustivo discurso; enalteceu suas numerosas e incríveis bem
feitorias e após baixar o sarrafo nos adversários e desafetos, concluiu; –
“Nesse mês homenageamos o presidente da Brahma, mês que vem será o da Skol…
Ao sucesso!… Hic… Hic… ”
GASTÃO
FERREIRA/IGUAPE/2007
FERREIRA/IGUAPE/2007
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.