O PLEBE-CIRCO…

         Os
habitantes da floresta andam macambúzios… É tempo de passeatas, de cobranças
e muita mudança na selva…  Enfezado, o
novo rei alegando compromissos de campanha, quer porque quer desalojar um grupo
de Bichos-carpinteiros de um galpão que fica na orla da mata.
         Todos
sabem que bicho tem memória curta e esquece fácil até o caminho de casa. Num
passado recente o armazém serviu de ponto de reunião aos animais cachaceiros,
aos Bichos Preguiça que não queriam trabalhar, aos filhotes abandonados que não
tinham o que comer em suas tocas, aos animais sem tetos que dormiam em qualquer
lugar… Foi devido a essa súcia que o aprazível local foi perecendo lentamente
e um belo dia faleceu de morte morrida e ninguém deu a mínima importância ao fatídico
fato.
         Quando
da eleição, em campanha, o candidato ao trono fez múltiplas promessas.
Construir um hospital, um porto fluvial, uma pista de esqui, um aeroporto, uma
faculdade de letras e outra sem letra… A bicharada bateu palmas e pediu mais
promessas mirabolantes e impossíveis de serem realizadas. O pretendente a
realeza empolgou-se e prometeu a volta triunfal do antigo armazém de saudosa
memória… Foi eleito na hora.
         Sabem
como é! Promessa de candidato a cargo eletivo é coisa muito séria. Já ocupando
o trono, o rei esqueceu-se do hospital, da faculdade, do aeroporto e das outras
novecentas e noventa e nove promessas, mas para mostrar que era um mandatário
de palavra e que palavra de rei não volta atrás, ordenou que os
Bichos-carpinteiros abandonassem o antigo galpão e que o velho depósito
voltasse a ser o maravilhoso armazém do passado… Estava armado o circo!
         Os
saudosistas, os aproveitadores, os especuladores, os que de alguma forma
imaginam lucrar com o retorno do falecido galpão, aplaudem delirantemente o
jovem monarca. Cinquenta famílias tiram seu ganho do que vendem no local e não
se conformam com a decisão real… O bondoso rei quer deixar a ver canoas meia
centenas de pais e mãe com um monte de filhotes para sustentar, e, alojar no depósito
um Macaco rico, possuidor de várias moradas, para que possa vender bananas e
outras frutas, no grande galpão, aos romeiros que visitam o santuário de Tupã…
Também duas Ariranhas matreiras e seus pescados poderão usufruir do espaço
público gratuitamente… Três súditos escolhidos a dedo em troca de cinquenta
famílias? Nem pensar majestade!… O barraco está armado e um “plebe-circo” se
faz necessário.
         O bafafá
foi apelidado de “plebe-circo” porque é um jogo de cartas marcadas… Um circo
para engambelar a plebe. Alguns animais não podem votar… O urubu, a cambacica,
o porco espinho querem recorrer ao Rei Leão, o rei que manda em todas as
florestas de todos os reinos e pedir ao grande soberano que dê um cala boca no
jovem reizinho que pensa ser um reizão… A raposa, a oncinha, o pardal, a
andorinha, o tateto compraram a briga real, já antevendo algum lucro na espúria
jogada.
         O bicho
vai pegar! Macaco velho não põe a mão em cambucá. Por enquanto penso em votar
pela permanência dos Bichos-carpinteiros e suas cinquenta famílias no ex-velho
galpão, mas também penso em negociar meu voto em troca de algum cargo
comissionado ou prestação de serviço bem remunerado… Brincadeirinha! Eu
respeito todos os animais e temo a ira de Tupã, nosso pai, que nos manda a
chuva, o vento, o dia e a noite… Vá que ele me castigue por querer ser venal
e resolva mandar um raio bem na minha cabeça! Eu hein… To fora!
Assinado; – Um Bem-te-vi
Gastão Ferreira/2013
Observação; – Esse texto é uma sátira… Não existe
“Plebe-circo” na floresta, alias, do jeito que detonam com as árvores, logo nem
floresta existirá nesse reino imaginário.
            
           

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